CAPÍTULO 13

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Dias opacos - 💋

Giselle passou a noite inteira no hospital ao lado do pai, mesmo tendo prometido à mãe que não estava cansada. Era uma mentira que se tornara um hábito. Ela estava exausta, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. O dia tinha sido um turbilhão de emoções, e os cochilos curtos e fragmentados que conseguiu tirar nas poltronas desconfortáveis da sala especial não foram suficientes para reabastecer suas energias. Giselle não queria ser reconhecida, e a melhor solução parecia ser permanecer em um canto isolado, longe das pessoas que poderiam chamá-la ou, pior, olhar para ela com pena. O ambiente hospitalar a oprimia de uma forma que ela não conseguia explicar; mesmo sendo o melhor hospital do país, o cheiro de desinfetante, o som incessante dos monitores e a luz fria dos corredores a deixavam sufocada. Mas a ideia de deixar seu pai ali sozinho era ainda mais insuportável.

A doença havia chegado como um raio em céu claro. Até uma semana atrás, ele parecia estar bem, forte como sempre, vivendo a vida normalmente. Então, sua mãe mencionou a tosse persistente, o cansaço inexplicável e, por fim, a verdade devastadora: câncer no pulmão. A palavra ressoava na mente dela como uma sentença implacável, uma realidade com a qual ela estava lutando para lidar. Mesmo com o diagnóstico tardio, os médicos tentavam ser otimistas. A quimioterapia começaria assim que ele tivesse alta – o que, segundo os últimos exames, aconteceria no dia seguinte.

Giselle tentava manter a fachada de força, pois sua mãe precisava acreditar que tudo estava sob controle. Os amigos e seguidores nas redes sociais esperavam ver nela a supermodelo confiante e impecável de sempre, aquela que desfilava com graça em cima das passarelas e brilhava nas capas de revistas. Mas, por dentro, Giselle se sentia à beira de um colapso. O peso da responsabilidade e do medo esmagava qualquer possibilidade de descanso genuíno.

Enquanto olhava pela janela, a luz da manhã começava a iluminar o céu, e o telefone vibrou em sua mão, tirando-a de um ciclo de pensamentos inquietantes. Era Sarah. Sem hesitar, Giselle permaneceu na sala silenciosa, onde ninguém poderia ouvir a conversa. Atendeu com a voz cansada, mas tentando soar normal.

— Gi, como você tá? — perguntou Sarah, a preocupação transparecendo em sua voz.

— Estou sobrevivendo — respondeu Giselle, deixando escapar um suspiro profundo.

Houve um breve silêncio. Sarah sabia que aquela resposta significava muito mais do que as palavras sugeriam, mas respeitou o espaço da amiga.

— E seu pai? O que ele tem? — perguntou Sarah, cuidadosa.

Giselle respirou fundo antes de responder.

— Ele... Ele está com câncer no pulmão.

Sarah arfou baixinho, surpresa e chocada.

— Ah, meu Deus! Gi, eu sinto muito.

— Ele vai ter alta amanhã e começa a quimioterapia logo em seguida — continuou Giselle, tentando manter um tom racional. — Ele já está bem melhor.

Entre Marte e Estrelas - BRUNO MARSOnde histórias criam vida. Descubra agora