FILIPE BEAUMONT
---Eu observei o pânico nos olhos dela. Lívia Bianchi. Era exatamente como imaginei. O desespero silencioso, a incredulidade misturada com a raiva. Havia uma pureza nisso que me fascinava. Ela estava à beira de quebrar, mas ainda se segurava, lutando contra o choque com todas as suas forças.
— Filipe, agora que já cumpri minha parte... — a voz de Augusto me trouxe de volta à realidade. Ele parecia patético, um homem quebrado, arrasado pelas próprias escolhas. — Podemos resolver o restante?
Eu não tinha mais interesse nele. O contrato estava selado, e a dívida, quitada. Meu foco estava em Lívia. O olhar dela me dizia muito mais do que qualquer palavra que seu pai pudesse proferir.
— Saia — ordenei, sem sequer olhar para Augusto. Ele hesitou por um segundo, talvez esperando algo mais de mim, mas sua inutilidade já havia passado dos limites.
Sem outra escolha, ele abaixou a cabeça e saiu, o som de seus passos ecoando pela mansão enquanto desaparecia pela porta. Não restava mais nada dele. Agora era só eu e Lívia.
O silêncio entre nós se alongou. Ela não sabia o que dizer, mas o medo estava ali, em seus olhos, misturado com uma resistência que, sinceramente, eu não esperava. Fui até o bar da sala e servi um copo de uísque, sentindo o líquido queimando na garganta. Ela continuava parada, rígida como uma estátua, sem saber se deveria fugir ou atacar. Era intrigante.
— Sente-se — disse, apontando para o sofá.
— Eu não vou me sentar — respondeu ela, com a voz trêmula, mas decidida. Era interessante ver essa bravura. Ela estava prestes a desmoronar, e mesmo assim se agarrava à sua dignidade.
— Não vou repetir — insisti, mais calmo do que ela esperava, provocando-a com o meu tom.
Ela me lançou um olhar de desprezo, mas, finalmente, cedeu. Sentou-se na beira do sofá, os ombros tensos, como se estivesse pronta para pular a qualquer momento. Eu me aproximei lentamente, cada passo meu ressoando no chão frio de mármore. O silêncio da mansão era quase sufocante.
— Você não tem escolha — murmurei, sentando-me em uma poltrona de frente para ela. — Agora, você pertence a mim. Não porque eu precise de você, mas porque seu pai me deve. E, como você pode ver, ele não tinha muito o que oferecer.
Ela me encarou, os olhos marejados, mas sem lágrimas caindo. Ela queria entender. Eu conseguia ver a confusão dançando em sua mente, tentando conectar as peças do quebra-cabeça que eu tinha montado para ela.
— Por que eu? — sussurrou ela, como se não pudesse acreditar no que estava acontecendo.
Soltei um sorriso frio, inclinando-me para frente. Ela estava tentando racionalizar, encontrar uma lógica onde não havia. Havia muitas razões pelas quais escolhi Lívia, mas eu não daria todas elas de bandeja.
— O que você realmente quer saber, Lívia? — perguntei, inclinando a cabeça. — Por que seu pai fez isso ou por que eu a aceitei?
Ela me olhou, incrédula, como se a resposta para uma dessas perguntas pudesse aliviar o peso da outra. Mas nenhuma das duas respostas a salvaria.
— O que você vai fazer comigo? — ela finalmente perguntou, a voz fraca, mas direta.
Ah, a pergunta que eu esperava. Me levantei, sentindo a tensão aumentar. Caminhei lentamente até a janela, observando a chuva que continuava a cair. As gotas de água caíam pesadas, criando uma atmosfera ainda mais densa. Eu adorava aquela sensação de controle, o poder que emanava da situação.
— Isso depende de você — respondi, olhando por cima do ombro, observando sua reação.
Ela estava confusa, como se esperasse algo mais brutal, mais direto. Mas isso fazia parte do jogo. Eu sempre controlava o tabuleiro, e ela mal sabia as regras. Lívia não era apenas uma dívida para ser paga. Não. Ela era muito mais do que isso.
— O que... o que isso significa? — balbuciou ela, olhando-me com aqueles grandes olhos castanhos.
Me aproximei novamente, cada passo meu calculado, até estar parado bem à sua frente. Ela me olhou de baixo, como se estivesse diante de uma fera prestes a atacá-la.
— Significa que você pode escolher como será sua vida aqui — disse, frio. — Pode lutar e tornar tudo mais difícil para você... ou pode aceitar e encontrar uma maneira de sobreviver.
O olhar dela ficou duro, como se ela estivesse tentando reunir todas as forças para me desafiar. Mas ela sabia. Sabia que não havia saída.
— Não sou uma mercadoria — sua voz saiu afiada, e eu admirei a coragem. Ela ainda tinha faíscas, e eu gostava disso.
— Para mim, Lívia, todos são — falei, com um sorriso irônico. — Todos têm um preço, inclusive você.
Ela se levantou bruscamente, empurrando a mesa ao lado, o barulho ecoando pela sala. Seu peito subia e descia rápido, a respiração pesada com a raiva.
— Você é um monstro! — gritou, a voz carregada de ódio.
Me aproximei rapidamente, surpreendendo-a. Peguei seu pulso antes que ela pudesse se afastar, puxando-a para perto. Seu corpo ficou tenso contra o meu, e eu vi o medo misturado com a raiva em seus olhos.
— Um monstro? Talvez. Mas você ainda não viu nada, Lívia — sussurrei, minha voz baixa e perigosa. — Você ainda vai descobrir do que sou capaz.
Ela se encolheu levemente, mas tentou não demonstrar fraqueza. Aproximei-me mais, deixando meu rosto a centímetros do dela, sentindo sua respiração acelerar.
— Este é o seu mundo agora, Lívia — continuei. — Aceite isso, e as coisas serão mais fáceis para você. Resista... e bem, vamos ver até onde você aguenta.
Eu a soltei, e ela cambaleou para trás, olhando para mim como se eu fosse o próprio demônio. Talvez eu fosse, pelo menos na percepção dela. Mas isso não importava. O que importava era que eu tinha o controle, e ela sabia disso. Não havia mais volta.
Ela recuou lentamente, seus olhos ainda fixos nos meus. Por um momento, pensei que ela diria algo, mas ela apenas apertou os lábios, virando-se e correndo para o andar de cima, desaparecendo pelo corredor.
Fiquei sozinho na sala, o som de seus passos ecoando pela mansão. Eu sorri. O jogo tinha começado, e eu estava ansioso para ver como ela jogaria.
---
VOCÊ ESTÁ LENDO
Acordo Entre Sombras
FanfictionEm "Acordo Entre Sombras", Lívia Bianchi leva uma vida tranquila até que seu pai, Augusto Bianchi, entrega-a ao temido mafioso Filipe Beaumont para saldar uma dívida. À medida que Lívia é forçada a viver sob o domínio de Filipe, ela descobre que ele...