Acordo Entre Sombras

Capítulo 19 - O Visitante Inesperado

FILIPE BEAUMONT

Filipe estava em seu escritório, o som constante do tique-taque do relógio na parede preenchendo o espaço. Os últimos dias tinham sido uma mistura de tensão e frustração. Lívia, com sua personalidade cada vez mais intrigante, tinha provocado algo nele que Filipe não conseguia explicar completamente.

Ele revisava alguns documentos de negócios quando ouviu passos pesados no corredor. Alguém se aproximava com pressa.

— Senhor Filipe — disse um dos seguranças, batendo levemente à porta antes de entrar. — Há alguém aqui para vê-lo. Um homem. Ele não está na lista de visitas, mas disse que é um amigo antigo. O nome é Caio.

O nome fez Filipe parar de imediato. Caio... um nome que ele não ouvia há anos. Levantou-se lentamente da cadeira, sentindo a lembrança de um tempo distante voltar à tona.

— Mande-o entrar — respondeu Filipe, com um tom controlado, mas a mente trabalhando rapidamente.

O segurança assentiu e saiu. Poucos minutos depois, a porta se abriu novamente e um homem entrou. Alto, com uma barba por fazer e um olhar observador. Caio estava diferente, mas ainda havia algo em sua postura que Filipe reconhecia: o ar de quem já havia visto o pior lado da vida.

— Filipe, quanto tempo — disse Caio, esboçando um sorriso que não chegou aos olhos.

— Caio — Filipe respondeu, sem demonstrar muita emoção, caminhando até o centro do escritório. — O que o traz aqui depois de tanto tempo?

Caio deu uma olhada rápida ao redor, como se estivesse avaliando o ambiente antes de responder.

— Negócios, é claro. — Ele se aproximou um pouco mais, as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. — Achei que depois de tudo o que aconteceu, seria bom aparecer. Sempre bom estar em contato com... velhos aliados.

Filipe permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos fixos em Caio, estudando cada movimento.

— Você nunca faz nada sem uma segunda intenção, Caio — Filipe disse com firmeza. — Fala logo. O que você quer?

Caio riu suavemente, balançando a cabeça.

— Sempre direto ao ponto, não é? — Ele se aproximou ainda mais, parando a poucos passos de Filipe. — Preciso de informações, e achei que você poderia me ajudar. Mas também estou aqui para oferecer uma parceria. Algo que pode ser do seu interesse.

— Parceria? — Filipe arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. — E por que eu faria negócios com você agora?

— Porque nossos interesses se alinham mais do que você imagina — respondeu Caio, a voz baixa e controlada. — Há um jogador novo na cidade. Alguém que está tentando tomar espaço no mercado... De Luca.

O nome de De Luca trouxe de volta a lembrança da festa recente, e Filipe sentiu uma pontada de irritação.

— De Luca está tentando expandir seus negócios, mas ele não sabe com quem está lidando — Filipe disse com um leve sorriso, embora seus olhos estivessem frios.

— Exatamente. — Caio deu um passo para o lado, aproximando-se da janela e olhando para fora. — E eu estou em uma posição para... facilitar algumas coisas. Com o tipo certo de apoio, é claro.

— E você quer o meu apoio? — Filipe perguntou, seu tom levemente sarcástico.

— Não se trata apenas de apoio — disse Caio, virando-se novamente para Filipe. — Se não agirmos logo, De Luca pode se tornar um problema maior do que qualquer um de nós quer lidar. E sei que você tem seus próprios motivos para querer colocar as mãos nele.

Filipe considerou as palavras de Caio por um momento. Era verdade que De Luca estava se tornando uma pedra no sapato, e a recente aproximação de Lívia com aquele círculo só complicava as coisas.

— Vou pensar no que você disse — Filipe respondeu, por fim. — Mas se eu descobrir que está escondendo alguma coisa de mim, Caio, as consequências serão pesadas. Você me conhece.

Caio sorriu, levantando as mãos em um gesto de rendição.

— Eu só estou aqui para ajudar, Filipe. Pense bem. A cidade está mudando, e nós precisamos nos adaptar.

Antes que Filipe pudesse responder, ouviu o som de passos mais leves no corredor. A porta se abriu devagar, revelando Lívia. Ela entrou no escritório com um olhar curioso, seus olhos passando rapidamente entre Filipe e Caio.

— Desculpe interromper — disse ela, suavemente, mas com um ar desconfiado. — Achei que você gostaria de saber que o café da manhã está pronto.

Filipe observou o olhar de Caio sobre Lívia, um interesse que ele não gostou nem um pouco.

— Obrigado, Lívia — respondeu Filipe, virando-se para ela. — Estarei lá em um minuto.

Lívia assentiu, ainda lançando um olhar para Caio antes de se retirar, deixando-os sozinhos novamente.

— Bela garota — comentou Caio, casualmente. — Ela é importante?

Filipe estreitou os olhos, aproximando-se de Caio com uma intensidade que deixava claro que não havia espaço para esse tipo de conversa.

— Isso não é da sua conta — respondeu Filipe, sua voz baixa e perigosa. — Se você sabe o que é bom para você, vai manter distância.

Caio levantou as mãos novamente, sorrindo como se o aviso não o preocupasse.

— Não se preocupe. Eu sempre respeito o espaço dos outros... pelo menos na maioria das vezes.

Filipe manteve o olhar fixo nele por mais um segundo antes de se afastar.

— Vá embora, Caio. Eu vou pensar no que você disse.

Caio deu de ombros, caminhando em direção à porta.

— Estou ficando na cidade por um tempo. Vamos nos falar em breve.

E com isso, ele saiu, deixando Filipe sozinho no escritório. Ele respirou fundo, sentindo que as coisas estavam prestes a ficar ainda mais complicadas.

Ao se dirigir à sala de jantar, seus pensamentos se voltaram para Lívia. Algo nela estava diferente, e ele sabia que ela estava guardando seus próprios segredos. No entanto, havia algo no jeito como ela agia que o prendia, mesmo quando ele tentava se manter distante.

Ao chegar na sala de jantar, a visão de Lívia o fez parar por um momento. Ela estava de costas, servindo-se de café, mas algo em sua postura o chamou atenção. O mistério em torno dela crescia a cada dia, e Filipe não conseguia evitar sentir uma crescente fascinação por aquela mulher.

Com a mente dividida entre os negócios e seus sentimentos, ele sabia que precisava estar mais alerta do que nunca. A presença de Caio na cidade era um sinal de que tempos difíceis estavam à frente, e De Luca não seria o único problema que ele precisaria resolver.