Capítulo 27 - O Calor da Proximidade

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LÍVIA BIANCHI
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Eu sabia que a noite seria diferente desde o momento em que decidi tomar as rédeas da cozinha. Talvez fosse um impulso para mostrar a mim mesma que poderia ter algum controle em meio ao caos que estava se formando dentro de mim. Desde que cheguei à mansão, tudo mudou tão rápido que, às vezes, parecia difícil respirar. Filipe tinha essa habilidade de deixar o ar ao meu redor mais denso, de mexer comigo sem sequer tentar. E hoje, eu precisava de algo que me mantivesse no controle — cozinhar parecia a escolha mais segura.

Mas assim que o vi parado à porta da cozinha, meu coração começou a bater mais rápido. Era como se a proximidade dele fosse suficiente para desestabilizar o mundo que eu cuidadosamente tentava reconstruir. Não deveria ser assim, mas era. Cada vez que nossos olhares se cruzavam, a tensão entre nós crescia, como se uma linha invisível estivesse sendo puxada, prestes a se romper.

Quando ele elogiou a comida, dizendo "Deliciosa. E não estou falando só da comida", eu senti o chão faltar sob meus pés por um instante. Tentei não deixar transparecer o efeito que suas palavras causavam em mim, mas meu corpo traiu minha mente. Minhas mãos tremiam levemente, e meu rosto queimava, como se todo o calor do mundo tivesse decidido se concentrar em mim naquele instante.

Como eu poderia fingir que não senti nada? Como poderia ignorar a forma como ele me olhava, como se visse além da superfície? A verdade é que qualquer controle que eu achava ter escapava a cada momento que passávamos juntos.

Tentei focar no prato à minha frente, mexendo no garfo como se isso pudesse me distrair, mas a presença dele ao meu lado era sufocante de uma forma que eu não conseguia explicar. Eu só conseguia pensar no quão próximos estávamos na noite anterior, na cozinha escura, quando nos esbarramos. Meu corpo ainda lembrava o toque dele, tão casual, mas que provocou uma reação tão intensa dentro de mim.

Filipe se aproximou mais uma vez, o olhar carregado de intenções que eu fingia não perceber, mas que estava claramente ali, entre nós. Quando ele se levantou e veio em minha direção, senti meu corpo enrijecer. Cada célula do meu ser estava em alerta. Ele se aproximou devagar, e cada passo dele parecia aumentar o peso que eu sentia em meu peito. Estava cada vez mais difícil manter a respiração controlada, e eu sabia que ele estava perto demais para que eu conseguisse esconder qualquer coisa.

"Não precisava se preocupar com o jantar," ele disse, a voz rouca.

Eu olhei para ele, tentando desesperadamente encontrar palavras que me fizessem recuperar o controle. Mas quando meus olhos encontraram os dele, algo em mim vacilou. Não havia mais como negar o que estava acontecendo entre nós. Eu sentia a tensão crescer a cada momento, cada troca de olhares, cada palavra não dita que pairava no ar.

— Não foi problema — consegui dizer, a voz baixa, quase um sussurro.

Ele sorriu de leve, aquele sorriso que me desarmava por completo. Eu sabia que deveria levantar, encerrar aquele momento antes que algo irremediável acontecesse. Mas eu estava presa ali, sob o efeito dele, sem saber como fugir. Era como se qualquer movimento meu fosse provocar uma reação em cadeia que destruiria tudo ao nosso redor.

A proximidade dele era... torturante. Eu conseguia sentir o calor que emanava de seu corpo, como se estivesse perto demais, como se um simples gesto fosse suficiente para fazer com que qualquer autocontrole que eu ainda tivesse desmoronasse.

Filipe estava tão perto que meu coração disparava. A proximidade era insuportável, quase dolorosa. Eu sabia que, se não fizesse algo, perderia completamente o controle da situação — de mim mesma.

Respirei fundo, tentando controlar o nervosismo que me dominava. Mas, a cada respiração, o aroma dele me envolvia. Como ele conseguia fazer isso comigo? Como ele conseguia me deixar tão vulnerável, quando tudo o que eu queria era ser forte, ser impenetrável?

— Lívia... — ele disse, a voz suave, quase como um sussurro. Havia algo em seu tom que me fez estremecer. A forma como ele pronunciou meu nome fez meu estômago se revirar, minhas mãos apertarem o tecido da saia para tentar controlar o tremor.

— Filipe... — tentei responder, mas minha voz falhou, quase um gemido abafado. Não conseguia mais controlar o que estava acontecendo. E ele sabia disso.

Ele se inclinou um pouco mais, e eu senti o calor de sua respiração tocar a pele do meu rosto, tão perto, mas ao mesmo tempo, mantendo a distância mínima necessária para não atravessar a linha invisível que ainda nos separava. Aquilo estava se tornando insuportável, uma tortura silenciosa que ameaçava me quebrar.

— Você... — tentei falar novamente, mas parei. O que eu poderia dizer? Que estava enlouquecendo? Que a cada momento ao lado dele parecia que eu estava em uma montanha-russa de emoções que eu não sabia como lidar?

Ele recuou, finalmente, mas não antes de lançar um último olhar para mim. Um olhar que dizia mais do que qualquer palavra jamais poderia.

Eu queria falar, dizer algo que quebrasse aquela tensão, mas as palavras se perderam no ar. Tudo o que eu consegui fazer foi assistir enquanto ele se afastava, o corpo ainda tenso com a lembrança de sua proximidade.

Quando ele saiu da cozinha, o alívio foi instantâneo, mas também deixava uma sensação de vazio. A tensão que se dissipava era substituída por uma expectativa, um desejo que eu não sabia como controlar. E, de algum modo, sabia que aquela noite ainda não tinha acabado. Não para nós dois.

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