Capítulo 11 - Liberdade Temporária

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LÍVIA BIANCHI
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Os dias na mansão seguiam uma rotina quase monótona, e minha única distração verdadeira era Sofia, que, apesar de ser a irmã de Filipe, possuía uma energia leve e descontraída que aliviava a tensão constante que pairava sobre mim. Naquela manhã, eu estava sentada perto da janela da sala, observando o jardim, quando ela apareceu, como um furacão de entusiasmo.

— Lívia, você precisa sair daqui! Vamos dar um passeio, fazer umas comprinhas, o que acha? — Disse ela com um brilho nos olhos.

Olhei para ela, surpresa. Fazer compras? Eu nem me lembrava da última vez que tinha saído de casa. E, claro, não pude deixar de pensar em Filipe. Ele não aprovaria. Tentei resistir à tentação.

— Eu... não acho que Filipe vá deixar. Ele tem sido bem claro sobre isso. — Minha voz saiu hesitante, quase envergonhada.

Sofia bufou, jogando as mãos para o alto, como se não pudesse acreditar naquilo. — Filipe não está aqui agora, e vamos ser sinceras, ele não é seu dono. Vai ser bom para você sair um pouco, ver coisas novas, sentir o mundo lá fora. Eu prometo que você vai se divertir!

Eu estava dividida. Parte de mim sabia que ela tinha razão, mas a outra parte estava aterrorizada com o que Filipe faria ao descobrir que eu saí sem a sua permissão. Sofia, no entanto, não se deu por vencida.

— Lívia, você não pode deixar que ele controle cada passo seu. Você está aqui, vivendo como se fosse uma prisioneira. Não é justo! Eu sei que ele pode ser complicado, mas isso não quer dizer que você tem que viver à sombra das ordens dele o tempo todo.

Seus argumentos eram válidos, e por mais que o medo ainda estivesse presente, a ideia de sair, de respirar ar fresco, era irresistível. Suspirei.

— Está bem. Vamos. — Disse, com um sorriso pequeno, mas aliviado.

Sofia bateu palmas, visivelmente entusiasmada. — Isso! Você não vai se arrepender. Vamos passar nas melhores lojas da cidade. Eu conheço todas!

Assim que Marta me ajudou a escolher algo mais elegante, partimos. As ruas da cidade pareciam incrivelmente vibrantes em comparação ao silêncio sufocante da mansão. Senti o coração acelerar com a simples sensação de estar livre, mesmo que fosse temporariamente.

Lojas de luxo e tentações

A primeira loja que visitamos era um mundo à parte. As vitrines brilhavam com joias e roupas impecavelmente dispostas, e o interior era um verdadeiro oásis de luxo. O perfume caro flutuava no ar, misturado ao som suave da música ambiente.

Sofia me puxou diretamente para a seção de vestidos. — Esse aqui vai ficar perfeito em você. Vamos, experimenta! — Disse ela, empurrando um vestido de seda vermelho em minhas mãos.

Eu ri, meio sem jeito. Não estava acostumada a esse tipo de lugar, muito menos a usar roupas como aquelas. Mas, conforme Sofia insistia, comecei a me soltar. Experimentei vestidos, sapatos, e logo estava me divertindo, girando em frente aos espelhos enquanto Sofia fazia comentários animados.

— Olha só, você está linda nesse! Você deveria comprar. Filipe vai ficar de queixo caído. — Ela piscou para mim, um sorriso travesso no rosto.

Eu corei. — Não acho que seja exatamente o estilo dele... — Disse, olhando o vestido que eu usava. Era um modelo justo, sofisticado, mas ainda assim eu me sentia exposta, quase vulnerável.

— Bobagem! Não é sobre o estilo dele, é sobre você. É importante que você se sinta bem, poderosa. Vamos levar esse e mais alguns!

Sofia não se conteve apenas em vestidos. Passamos por uma loja de sapatos e ela me convenceu a comprar um par de sandálias altas de grife, algo que eu jamais teria comprado sozinha. Cada compra parecia ser uma nova aventura, e quanto mais o dia avançava, mais eu me sentia... livre.

Paramos em uma joalheria, onde Sofia praticamente me forçou a experimentar um colar com pedras brilhantes.

— Vamos, Lívia! Esse vai realçar seus olhos. Vai por mim, você vai usar isso em alguma ocasião especial. — Ela disse, sorrindo maliciosamente, como se já planejasse a próxima situação em que eu teria que usá-lo.

Eu não consegui dizer não. Havia algo em Sofia que tornava tudo mais fácil, mais leve. Ela pagou a maioria das compras, dizendo que tinha créditos infindáveis no cartão de Filipe, o que me fez rir de nervoso.

A tarde continuou entre risadas, roupas caras, sapatos que jamais sonhei em usar, e lojas que pareciam saídas de um conto de fadas. Por um momento, consegui esquecer o peso de tudo que havia acontecido. Senti que poderia existir uma vida fora da mansão, um mundo onde eu não era apenas uma peça na complicada rede de Filipe.

— Filipe vai surtar quando souber o quanto gastamos. — Brinquei, enquanto voltávamos para o carro, carregadas de sacolas.

Sofia deu de ombros. — Ele vai superar. Além do mais, eu cuido dele.

A volta à realidade

Ao chegarmos à mansão, o clima era totalmente diferente. Assim que cruzamos a porta, senti o ar ficar mais pesado. As sacolas que antes pareciam leves agora estavam como pedras em minhas mãos. Sabia que Filipe já estava ciente de nossa pequena "escapada".

E lá estava ele, parado no meio da sala, os olhos sombrios como tempestades, o maxilar travado. Sofia notou imediatamente.

— Já chegou? Nem deu tempo de terminarmos o nosso passeio. — Disse ela com um tom casual, mas o sorriso travesso nos lábios mostrava que ela sabia exatamente o que estava fazendo.

Filipe, no entanto, ignorou Sofia completamente, seus olhos focados apenas em mim. Eu sentia o calor da raiva dele, uma fúria controlada que era ainda mais assustadora do que uma explosão.

— Lívia, venha comigo. Agora. — Sua voz era fria, cortante.

Engoli em seco, o medo subindo pela minha espinha, mas segui-o sem protestar. Sofia abriu a boca para falar, mas Filipe a cortou com um gesto brusco.

— Essa conversa não é com você, Sofia. — Ele disse, sem sequer olhar para a irmã.

Eu sabia que teria que enfrentar sua ira, mas, naquele momento, tudo o que eu conseguia pensar era em como aquelas poucas horas de liberdade tinham valido a pena.

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FILIPE BEAUMONT

A raiva fervilhava sob minha pele enquanto subia as escadas com Lívia logo atrás. Eu não explodi, e era exatamente isso que tornava tudo ainda mais perigoso.

Ela sabia o que tinha feito, sabia que havia quebrado as regras. Mas o que me irritava ainda mais era a ousadia de Sofia. Ela sempre achava que sabia o que era melhor. Sempre.

Assim que chegamos ao meu escritório, fechei a porta atrás de nós. O silêncio era sufocante.

— Você acha que pode sair sem me avisar? — Minha voz saiu baixa, mas carregada de intensidade. — Acha que não há consequências para as suas ações, Lívia?

Ela me olhou, com os olhos cheios de arrependimento misturado àquela força que eu tanto odiava e admirava ao mesmo tempo.

— Eu só queria sair um pouco. Sofia me convenceu. Eu... estava cansada de ficar presa aqui. — Ela falou, tentando justificar.

— Sofia não manda aqui. Eu mando. — Disse, me aproximando dela, o corpo tenso. — E você precisa entender isso. Eu controlo o que acontece aqui. Isso foi um erro. Um grande erro.

O silêncio voltou a nos envolver, e pela primeira vez, senti que a raiva não era apenas dela. Era de mim mesmo. Porque, por mais que eu quisesse mantê-la sob controle, algo dentro de mim queria que ela tivesse esse espírito livre. E isso me irritava ainda mais.

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