Capítulo 22 - Ecos do Silêncio

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LÍVIA BIANCHI

Lívia estava em frente ao espelho, o vestido preto ainda pendurado, intocado, esperando por ela. Enquanto passava os dedos pela seda macia, sua mente divagava. Era a primeira vez que Filipe a convidava para acompanhá-lo a um evento importante, uma reunião de negócios, como ele chamara. Mas havia algo de estranho em seu comportamento. Desde o beijo, Filipe agia de forma distante, quase como se estivesse tentando apagar o que havia acontecido entre eles.

Ela franziu o cenho, sentindo uma mistura de frustração e indiferença. “Será que aquele beijo não significou nada para ele?” Pensou, mordendo o lábio. O beijo havia sido intenso, e por um breve momento, ela achou que havia algo mais profundo entre eles. Mas agora, tudo parecia ter voltado à estaca zero, com Filipe sendo frio e calculista, como sempre.

Suspirando, começou a se arrumar. Vestiu o elegante vestido preto, que realçava suas curvas, e sentiu o tecido deslizar sobre sua pele. Havia algo sobre aquela roupa que a fazia se sentir poderosa, mas ao mesmo tempo, vulnerável. Os detalhes do vestido eram impecáveis, e ela escolheu joias que destacavam seu pescoço e pulsos. Quando terminou, prendeu o cabelo em um penteado simples, mas sofisticado.

Enquanto se olhava no espelho, tentando convencer a si mesma de que estava preparada para aquela noite, uma parte de sua mente continuava a voltar ao beijo. Filipe a beijara com uma intensidade que ela nunca havia experimentado antes, mas agora parecia que ele queria esquecer completamente o que aconteceu.

Ela desceu as escadas devagar, seus saltos ecoando no mármore, e encontrou Filipe esperando por ela na sala de estar. Ele estava impecável como sempre, seu terno escuro perfeitamente alinhado. Quando a viu, seus olhos se demoraram um pouco mais do que o necessário em sua figura, mas ele não disse nada. Apenas acenou com a cabeça em aprovação.

— Vamos? — ele perguntou, a voz fria e distante.

Lívia sentiu um aperto no peito. O modo como ele a olhou por um momento foi o suficiente para lembrar o quanto ele podia ser enigmático e inalcançável. No entanto, aquele mesmo olhar que a fazia se sentir poderosa a deixou incerta. Era como se o beijo não tivesse significado nada para ele, e isso a incomodava mais do que ela gostaria de admitir.

— Claro — respondeu ela, mantendo a postura firme, embora por dentro se sentisse um pouco perdida.

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Chegaram ao local da reunião, um edifício luxuoso no centro da cidade. O salão de festas era impressionante, com lustres de cristal pendendo do teto e música suave tocando ao fundo. As pessoas estavam elegantemente vestidas, e todos pareciam estar imersos em conversas importantes.

Filipe a guiou pelo salão sem sequer lançar um olhar para ela, e isso a irritou. Ele estava mais concentrado em suas negociações, conversando com seus aliados e parceiros de negócios, como se ela não estivesse ali. Lívia tentou se distrair com o ambiente ao redor, mas o comportamento de Filipe a incomodava cada vez mais.

— Você poderia, ao menos, fingir que eu estou aqui — murmurou para si mesma, observando Filipe de longe enquanto ele falava com um grupo de homens.

Ela se sentiu deslocada. Não entendia nada do que estava acontecendo, das conversas e das negociações que pareciam sérias e sombrias. Sentia-se invisível, quase como uma peça decorativa, e aquilo começou a incomodá-la de verdade. O peso do olhar indiferente de Filipe, a maneira como ele a ignorava, só fazia aumentar a frustração que ela sentia.

Por que ele a trouxera se não pretendia sequer conversar com ela?

Tentando ignorar o desconforto, Lívia pegou uma taça de champanhe e se afastou um pouco do grupo, observando à distância. Ela olhou ao redor e viu casais trocando sorrisos, brindando, conversando de maneira descontraída. Todos pareciam estar à vontade, menos ela. Sentiu-se ainda mais desconectada daquele mundo que Filipe parecia dominar com tanta facilidade.

“Talvez aquele beijo realmente não tenha significado nada para ele,” pensou, apertando a taça entre os dedos. E, por um momento, a ideia a machucou, mas ela sacudiu a cabeça. Ela mesma não queria que aquilo a afetasse tanto.

Foi então que notou um homem observando Filipe de longe. Ele era alto, vestido em um terno escuro e parecia estar atento a cada movimento de Filipe. Lívia tentou não demonstrar interesse, mas havia algo inquietante naquele homem. Foi quando Filipe, finalmente, voltou para perto dela, seu rosto sério.

— Precisamos conversar com De Luca — disse ele, sem olhar diretamente para ela.

— Quem é esse? — Lívia perguntou, mantendo a voz casual.

— Um contato importante. Só siga o meu ritmo e não faça perguntas desnecessárias — ele respondeu, com frieza, antes de virar para guiá-la até o homem que a observava.

Lívia o seguiu, embora seu coração estivesse pesado com a sensação de que estava sendo usada como uma distração ou, pior, uma peça no jogo de Filipe. No entanto, ela se obrigou a manter a compostura.

Quando chegaram até De Luca, Filipe assumiu o controle da conversa, como sempre. Ele falava de negócios, de acordos, e ela mal conseguia acompanhar o que estava acontecendo. Tudo parecia girar em torno de poder e dinheiro, e Lívia sentia-se cada vez mais entediada e deslocada.

E então, como um impulso súbito, uma ideia maluca lhe passou pela cabeça. Ela olhou para De Luca, analisando seus movimentos, e discretamente se aproximou. Sem que ninguém percebesse, sua mão leve deslizou por um dos bolsos do homem, retirando um pequeno objeto que ele carregava. Era um gesto ousado, feito sem pensar muito, como se quisesse testar os limites de sua própria coragem.

Ela escondeu o objeto em sua bolsa, sem saber ao certo o que havia roubado, mas o fez apenas para chamar a atenção de Filipe. Talvez, no fundo, quisesse provar a ele que não era apenas uma peça decorativa naquela noite.

Quando a reunião terminou, e Filipe finalmente a levou de volta para a mansão, Lívia não conseguia esconder o sorriso de quem havia aprontado alguma coisa.

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