Capítulo 10 - Confrontos e Conexões

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FILIPE BEAUMONT

Eu sabia que esse dia ia chegar. Minha irmã sempre teve uma maneira de aparecer quando menos era esperada e, geralmente, quando eu preferia que não aparecesse. Ouvindo o ronco do motor do carro dela na entrada, um nó se formou no meu estômago. Eu conhecia muito bem aquela mulher. Sofia não era do tipo que aceitava as coisas facilmente, muito menos quando se tratava dos meus negócios. E com certeza, não ia aceitar a situação de Lívia com tranquilidade.

Ela saiu do carro com sua postura altiva, o cabelo castanho preso em um coque simples e os olhos fixos na entrada da mansão. Quando nossos olhares se encontraram, ela não sorriu. Não se deu ao trabalho de disfarçar sua insatisfação.

— Filipe. — Sua voz era afiada como uma lâmina.

Cruzei os braços, me encostando na porta com um meio sorriso. — Sofia. Sempre um prazer.

Ela subiu os degraus com determinação, jogando a bolsa sobre o ombro e me encarando como uma fera prestes a atacar.

— Eu realmente não entendo, Filipe. Isso tudo... O que você fez? — Ela gesticulou em direção à casa, seu olhar duro e incisivo. — Comprar uma pessoa? Uma mulher que não tem absolutamente nada a ver com as dívidas daquele miserável? Isso é um novo nível, até mesmo para você.

Dei de ombros, sabendo que qualquer explicação seria inútil. — Eu fiz o que precisava ser feito. Você conhece o nosso mundo, Sofia. Isso aqui não é um conto de fadas.

— E você acha que essa justificativa é suficiente? — Ela me interrompeu, furiosa. — Você está usando uma mulher inocente como moeda de troca! Como se ela fosse propriedade sua!

Sua raiva era palpável, e por um segundo me lembrei de quando éramos crianças e ela brigava comigo por qualquer coisa errada que eu fizesse. Mas, agora, as circunstâncias eram muito mais sérias.

— Sofia, você não entende. — Falei mais baixo, tentando controlar o tom. — Essa situação é mais complicada do que você pensa.

— Complicada? — Ela cruzou os braços, me encarando. — Você sequestrou uma mulher, Filipe! Como isso pode ser complicado? Isso é abuso de poder, e você sabe disso.

Suspirei, esfregando a nuca enquanto ela continuava a me fuzilar com o olhar. Sofia sempre teve uma moral muito mais elevada do que eu. Enquanto eu estava mergulhado nas sombras da máfia, ela seguiu um caminho completamente oposto. Advogada de prestígio, sempre buscando a justiça... sempre tentando consertar meus erros.

— Eu fiz o que achei necessário para resolver a dívida, Sofia. Não estou pedindo sua aprovação. — Retruquei, com mais frieza do que eu pretendia.

Ela balançou a cabeça, visivelmente decepcionada. — Você realmente não vê o que está fazendo, não é? Está tão cego pelo poder que acha que pode simplesmente controlar a vida de qualquer um. Mas essa mulher... essa mulher não fez nada para merecer isso, Filipe.

Antes que eu pudesse responder, Lívia apareceu à porta, parecendo cautelosa, mas curiosa sobre a discussão que estava acontecendo. Seus olhos passaram de mim para minha irmã, analisando a situação com cuidado.

— Oi. — Ela disse, com um sorriso tímido, obviamente desconcertada com a tensão no ar.

Sofia olhou para Lívia por um momento, sua expressão suavizando-se instantaneamente. Era como se ela tivesse mudado completamente ao vê-la. Caminhou até ela e segurou suas mãos de forma calorosa, algo que eu não esperava.

— Você deve ser Lívia. — Disse Sofia com um sorriso genuíno. — Eu sou Sofia, a irmã de Filipe. Sinto muito por tudo isso.

Lívia pareceu surpresa pela recepção calorosa, mas logo sorriu de volta. — É um prazer conhecê-la, Sofia. Eu... também sinto muito por todo o... incômodo.

Sofia balançou a cabeça, parecendo aliviada de que Lívia não estivesse completamente amargurada. — Não se preocupe, querida. Eu vou tentar fazer o meu irmão entender o que é decência humana. Prometo.

Aquela interação me incomodou. Sofia estava agindo como se eu fosse o vilão da história... Bem, talvez eu fosse. Mas isso não mudava o fato de que eu fiz o que precisava ser feito.

— Não coloque ideias erradas na cabeça dela, Sofia. — Falei, com a voz seca.

Ela me lançou um olhar afiado. — Talvez você devesse se preocupar mais com o tipo de ideias que já colocou, Filipe. Essa mulher está aqui porque você decidiu que a vida dela vale menos do que seu poder. Isso é repugnante.

LÍVIA BIANCHI

O que mais me surpreendeu naquela tarde não foi o confronto entre Filipe e sua irmã, mas como ela se aproximou de mim com tanta facilidade. Sofia era... diferente de tudo o que eu esperava. Ela me olhou como alguém que genuinamente se importava, como alguém que estava do meu lado.

Quando Filipe saiu da sala para atender uma ligação, eu e ela nos sentamos na sala de estar, ainda desconfortáveis com a tensão que havia entre nós.

— Eu realmente não entendo o que se passa na cabeça dele. — Disse Sofia, depois de um longo suspiro. — Filipe sempre foi... difícil, mas isso aqui é demais, até mesmo para ele.

Olhei para ela, ainda processando o quão rapidamente ela parecia se importar comigo. — Você e ele são muito diferentes. É estranho pensar que são irmãos.

Sofia riu suavemente. — É, ele e eu sempre fomos opostos. Enquanto eu estava na faculdade de direito, ele estava construindo seu império... de maneiras que eu preferia não saber.

Eu sorri, um pouco nervosa. Era estranho estar sentada ali, conversando tão naturalmente com a irmã do homem que havia me mantido cativa. Mas de alguma forma, isso me trouxe um pouco de conforto. Pelo menos, Sofia parecia ser um raio de luz em meio a toda a escuridão.

— Como você está se sentindo aqui, Lívia? — Sofia perguntou, me olhando com preocupação nos olhos.

Eu hesitei por um segundo antes de responder. — É difícil. Não sei o que vai acontecer. Cada dia aqui é uma incógnita. Mas... estou lidando com isso da melhor forma que posso.

Ela assentiu, parecendo entender. — Eu imagino. Deve ser assustador estar nessa situação. Mas eu prometo que vou fazer tudo que puder para te ajudar.

No fundo, eu não sabia se havia uma saída para mim. A máfia não era algo que se abandonava facilmente, e eu sabia que Filipe não me deixaria simplesmente ir. Mas a presença de Sofia me dava esperança.

Antes que pudéssemos conversar mais, Filipe entrou novamente na sala, agora com a expressão mais fechada. Era como se a própria presença de Sofia o irritasse.

— Preciso falar com você, Lívia. — Disse ele, sem rodeios, ignorando completamente a presença de Sofia.

Olhei para Sofia, que deu um leve aceno de cabeça antes de sair da sala. Quando ela se foi, o ar pareceu ficar mais pesado. Filipe se aproximou, parando à minha frente.

— Não deixe minha irmã te encher a cabeça com ideias. Ela sempre achou que podia resolver tudo com palavras bonitas, mas o mundo real não funciona assim.

Suspirei, sentindo o peso de tudo que ele representava. — Ela só está tentando me ajudar, Filipe. Coisa que você parece não querer fazer.

Ele me olhou com um brilho perigoso nos olhos. — Eu já estou te ajudando, Lívia. Só que você ainda não percebeu isso.

— Ajudando? Me manter cativa é a sua ideia de ajuda? — Retruquei, cruzando os braços.

Ele deu um sorriso frio, inclinando-se mais perto. — Você está aqui porque eu decidi assim. E enquanto eu estiver no controle, sua vida aqui será o que eu quiser que seja.

Eu me recusei a recuar, encarando-o de volta. — Você pode me manter aqui, Filipe. Mas não vai quebrar meu espírito. Não importa o que faça.

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