LÍVIA BIANCHI
A porta da cozinha se fechou, e eu finalmente consegui soltar o ar que estava prendendo. Mas o alívio foi momentâneo. A sensação de ter estado tão próxima a Filipe, de ter sentido seu calor, seu olhar que parecia invadir todos os meus pensamentos, ainda vibrava pelo meu corpo. Eu sabia que tinha que sair dali, me afastar, tentar recobrar algum controle sobre a situação. Sobre mim.
Peguei os pratos e comecei a arrumá-los mecanicamente, como se isso fosse me distrair do que acabara de acontecer. Mas, na verdade, nada poderia tirar da minha mente a maneira como ele me olhou. Como se visse através de todas as minhas barreiras. Como se eu fosse uma presa fácil, e ele soubesse exatamente o que fazer para me desarmar.
Estava absorta nos meus pensamentos quando ouvi passos novamente. Filipe. Era como se ele estivesse sempre lá, presente, invadindo meu espaço, minhas emoções.
— Precisa de ajuda? — A voz dele cortou o ar como um sopro suave, mas carregada de algo mais.
Levantei os olhos e lá estava ele, parado à porta, os braços cruzados, a expressão mais relaxada, mas ainda assim intensa. Eu sabia que ele estava jogando um jogo comigo, testando meus limites.
— Já está quase tudo pronto — respondi, tentando soar casual, mas a tensão em meu corpo era evidente. O ar entre nós parecia mais denso a cada segundo.
Ele entrou na cozinha, ignorando minha tentativa de mantê-lo à distância. Pegou um copo, encheu de água e bebeu lentamente, como se cada movimento fosse deliberadamente calculado para me provocar. O silêncio que se seguiu só aumentou o peso do momento.
— Você cozinha bem. — A voz dele soou mais próxima, e quando me virei, Filipe estava bem ao meu lado. Perto demais. Outra vez. — É um talento de família, imagino.
Eu não sabia o que dizer. Minha mãe sempre foi uma chef incrível, e eu herdei muito do que sei dela. Mas naquele momento, falar sobre isso parecia... fora de lugar. Tudo ao meu redor estava fora de lugar desde que ele chegou à minha vida.
— Sim... Minha mãe era uma chef renomada — respondi, olhando para o prato à minha frente, tentando evitar o olhar de Filipe, que parecia queimar minha pele.
— E parece que você herdou o dom. — Ele sorriu de leve, mas havia algo mais ali. Algo que me deixava nervosa. — Delicioso.
O elogio foi simples, mas o modo como ele disse aquilo me deixou desconcertada. Principalmente porque, quando Filipe completou a frase, ele deu um passo a mais, inclinado sobre mim, perto demais, sussurrando perto do meu ouvido:
— E não estou falando apenas da comida...
A respiração dele era quente, e o impacto que suas palavras tiveram sobre mim foi imediato. Meu corpo todo reagiu, e eu senti como se tivesse perdido completamente o controle sobre mim mesma. Tentei me afastar, mas estava presa naquele momento, incapaz de mover um único músculo.
Filipe se afastou lentamente, como se tivesse todo o tempo do mundo para saborear o efeito que causava em mim. Meu coração estava disparado, a respiração entrecortada. Eu me forcei a olhar para ele, tentando entender o que estava acontecendo. Por que ele fazia isso? Por que me deixava tão desarmada?
— Você... — comecei, mas não sabia o que queria dizer. Eu queria confrontá-lo, perguntar o que ele realmente queria de mim, mas ao mesmo tempo... parte de mim não queria ouvir a resposta.
Ele me olhou de cima a baixo, a intensidade em seus olhos me deixando ainda mais nervosa.
— Relaxe, Lívia — ele disse com um meio sorriso, os olhos brilhando com uma intensidade que me deixava tonta. — Não precisa ficar tão tensa.
— Eu não estou tensa — menti, mas minha voz saiu mais alta do que eu esperava. Ele levantou uma sobrancelha, obviamente se divertindo com meu nervosismo.
— Claro que não — respondeu, e o sarcasmo era evidente. — Eu sei o que estou fazendo com você, Lívia. Sei que você sente... isso também.
Minha mente gritava para sair, para dar um basta naquele jogo, mas meu corpo... meu corpo parecia ter vontade própria, reagindo à proximidade dele de uma maneira que eu odiava admitir.
— Não sei do que você está falando — rebati, tentando desesperadamente soar firme, mas falhando miseravelmente.
Ele deu um passo para trás, e por um momento, achei que ele fosse me deixar em paz. Mas, em vez disso, ele apenas riu baixo, como se soubesse que tinha vencido aquela pequena batalha.
— Você sabe exatamente do que eu estou falando. — Ele deu as costas e começou a caminhar em direção à porta. — Boa noite, Lívia. Nos vemos amanhã.
E, com isso, ele se foi. Mas o peso de sua presença ainda pairava no ar, como uma marca invisível que ele deixou sobre mim. Eu sabia que aquela não seria a última vez que ele mexeria comigo. E, pela primeira vez, não tinha certeza se queria resistir a isso.
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Acordo Entre Sombras
FanficEm "Acordo Entre Sombras", Lívia Bianchi leva uma vida tranquila até que seu pai, Augusto Bianchi, entrega-a ao temido mafioso Filipe Beaumont para saldar uma dívida. À medida que Lívia é forçada a viver sob o domínio de Filipe, ela descobre que ele...