LÍVIA BIANCHI
A noite parecia ter se tornado ainda mais silenciosa depois que Filipe saiu da biblioteca. Fiquei ali, paralisada, enquanto tentava processar tudo o que acabara de acontecer. Meu corpo ainda estava em alerta, cada célula desperta e ciente da proximidade que havíamos compartilhado. Mas, ao mesmo tempo, minha mente estava em caos absoluto, dividida entre o desejo e o medo, a razão e a tentação.
Eu sabia que Filipe era perigoso, não apenas pelo poder que tinha sobre os outros, mas pela forma como conseguia penetrar na minha mente, nas minhas defesas. Cada palavra dele era uma arma cuidadosamente escolhida, e cada olhar parecia ser uma promessa velada, um convite para um lugar do qual eu poderia nunca retornar. Ele era tudo o que eu deveria evitar, e, ainda assim, meu corpo parecia ignorar completamente essa verdade.
Na tentativa de escapar das lembranças daquele encontro, comecei a andar pela biblioteca, deslizando os dedos pelas lombadas dos livros, procurando distração. Peguei um livro qualquer e abri, mas as palavras pareciam se embaralhar, incapazes de competir com a intensidade do que Filipe havia deixado em mim.
Eu fechei o livro, frustrada, e encostei-me a uma das estantes, respirando fundo, tentando me acalmar. Mas tudo o que eu fazia me remetia de volta a ele. O toque firme de sua mão segurando a minha, o calor que emanava de seu corpo tão próximo ao meu, o som rouco de sua voz quando me provocava...
Fechei os olhos, tentando afastar aquela lembrança, mas era inútil. Filipe Beaumont havia se enraizado em minha mente, e cada tentativa de esquecê-lo apenas reforçava a intensidade dos sentimentos conflitantes que ele despertava em mim.
No meio daquele turbilhão, ouvi passos. Meu coração acelerou instintivamente, e, quando levantei o olhar, ele estava de volta, parado na porta da biblioteca, me observando. Seus olhos escuros refletiam uma mistura de curiosidade e algo mais que eu não conseguia decifrar.
— Ainda aqui? — Filipe perguntou, com um sorriso discreto nos lábios. — Achei que já estivesse no quarto, dormindo.
— Não consegui dormir — admiti, a voz saindo mais baixa do que eu pretendia. — Estava tentando distrair a mente.
Ele deu alguns passos à frente, parando novamente a uma distância perigosamente próxima. Filipe olhou para mim como se pudesse ler cada um dos meus pensamentos, como se estivesse ciente do efeito que tinha sobre mim.
— Parece que não funcionou muito bem, não é? — Ele murmurou, e seu tom de voz tinha aquele tom provocador que já era tão familiar.
— Filipe, o que você quer? — Perguntei, tentando soar firme, mas sentindo minha voz trêmula. — Por que insiste em me provocar?
Ele inclinou a cabeça levemente, me observando em silêncio por alguns segundos, como se ponderasse minha pergunta.
— Porque você desperta algo em mim que nem eu consigo entender, Lívia — confessou, com uma honestidade que me pegou de surpresa. — E isso me fascina.
Aquelas palavras foram como uma onda de calor passando por mim. Ele admitia, sem rodeios, que eu o afetava, que havia algo entre nós que ele não conseguia controlar. E, naquele momento, percebi que eu também estava presa na mesma teia, enredada em algo que não entendia completamente, mas que sentia com intensidade avassaladora.
— Não sei se consigo lidar com isso — murmurei, desviando o olhar, sentindo o peso das emoções me esmagar. — Você... me desestabiliza.
Filipe se aproximou ainda mais, até que estávamos a poucos centímetros de distância. Sua mão subiu lentamente, pousando suavemente no meu rosto, e eu senti um arrepio percorrer minha espinha. Ele ergueu meu queixo, forçando-me a encará-lo.
— Talvez eu goste disso, Lívia — sussurrou ele, a voz baixa e carregada de uma intensidade quase palpável. — Talvez eu goste de ver que você sente o mesmo que eu.
O coração batia tão forte que eu podia ouvi-lo, e, naquele momento, eu soube que estava perdida. Estava diante de um homem que era tanto uma maldição quanto uma tentação, alguém que desafiava cada fibra da minha vontade, cada barreira que eu havia construído ao longo dos anos.
Respirei fundo, tentando manter o controle, mas meus lábios formaram palavras antes que eu pudesse evitar.
— E o que vamos fazer sobre isso, Filipe?
Ele me olhou por um instante, como se estivesse pesando todas as possibilidades, como se estivesse em conflito com ele mesmo. Mas, então, seu olhar escureceu, e um sorriso quase imperceptível se formou em seus lábios.
— Acho que vamos deixar o tempo decidir — disse, em um tom enigmático, soltando minha mão lentamente, mas ainda mantendo os olhos presos aos meus. — Afinal, nem tudo precisa de uma resposta imediata, não é?
Ele recuou um passo, quebrando o contato visual e me deixando sozinha com os restos de uma tensão que parecia não ter fim. E, antes de sair, ele lançou-me um último olhar, um olhar que prometia muito mais do que palavras poderiam dizer.
Quando a porta se fechou, finalmente permiti que a respiração escapasse dos meus pulmões. A verdade era que eu estava completamente envolvida, e, por mais que tentasse, não conseguia imaginar um caminho de volta. Filipe havia se tornado minha fraqueza, e talvez, apenas talvez, eu estivesse disposta a explorar o que isso significava, mesmo sabendo dos riscos.
Naquela noite, percebi que estava presa em um jogo perigoso — um jogo do qual não queria sair.
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Acordo Entre Sombras
FanficEm "Acordo Entre Sombras", Lívia Bianchi leva uma vida tranquila até que seu pai, Augusto Bianchi, entrega-a ao temido mafioso Filipe Beaumont para saldar uma dívida. À medida que Lívia é forçada a viver sob o domínio de Filipe, ela descobre que ele...