Capítulo 29 - O Jogo do Incontrolável

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LÍVIA BIANCHI

O silêncio reinava na mansão após a saída de Filipe, mas, mesmo assim, era como se eu ainda pudesse sentir sua presença ao meu redor. Seus olhos sombrios e carregados de intensidade, sua voz baixa e provocadora, o calor de seu corpo tão perto do meu... Tudo ainda estava impresso em minha mente, como uma tatuagem invisível que me torturava.

Tentei ocupar minha mente. Fui até o meu quarto, troquei de roupa, e sentei na cama, mas a sensação persistia. Filipe deixara uma marca em mim, uma marca que parecia impossível de apagar. Eu queria odiá-lo por isso, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim desejava que ele voltasse. Que continuasse a me provocar, a me testar. Era uma batalha interna entre a razão e o desejo, e, por mais que eu tentasse negar, eu estava perdendo essa guerra.

Naquela noite, tentei dormir, mas o sono simplesmente não vinha. Revirei-me na cama várias vezes, sentindo uma inquietação que crescia a cada minuto. Cada vez que fechava os olhos, o rosto de Filipe aparecia, a lembrança de sua voz rouca sussurrando tão próximo. Eu precisava de um pouco de ar.

Decidi levantar. Talvez caminhar pela casa me ajudasse a acalmar a mente. Desci as escadas em silêncio, passando pela cozinha onde tudo havia começado. A lembrança da nossa interação horas antes ainda vibrava nas paredes, e eu sentia a tensão crescendo novamente dentro de mim. Continuei caminhando até chegar à biblioteca, um dos lugares mais silenciosos e aconchegantes da mansão.

Entrei e fechei a porta atrás de mim. A luz suave da lua se infiltrava pelas janelas altas, criando sombras e realçando as estantes repletas de livros antigos. Respirei fundo, tentando deixar aquele ambiente me acalmar.

— Não consegue dormir? — A voz veio de trás de mim, surpreendendo-me.

Virei-me rapidamente, e lá estava ele. Filipe, parado à porta, observando-me com aquele olhar atento e enigmático. Parecia que ele tinha o dom de estar em todos os lugares onde eu estava, de invadir meus momentos de solidão, de mexer com tudo que eu tentava controlar.

— Eu... — hesitei, tentando parecer mais confiante do que realmente estava. — Apenas vim pegar um livro.

— Um livro? — Ele deu um passo à frente, seus olhos escuros prendendo os meus. — Ou veio fugir de alguma coisa?

Havia uma provocação na voz dele, uma provocação que ele sabia que me deixava nervosa.

— Talvez um pouco dos dois — confessei, tentando sustentar o olhar dele, mas sentindo minhas mãos tremerem levemente. — Não é da sua conta, Filipe.

Ele se aproximou, parando a poucos centímetros de mim. Eu podia sentir o calor de seu corpo, sua presença avassaladora. Filipe era uma força, uma tempestade prestes a explodir, e eu sentia que estava no centro disso tudo.

— Não sei o que você está tentando provar — disse, tentando manter minha voz firme, mas falhando miseravelmente. — Mas isso precisa parar.

— E se eu não quiser parar? — Ele levantou uma das sobrancelhas, um sorriso quase imperceptível nos lábios. — E se tudo isso for só o começo?

— Eu não estou aqui para... para... — Minhas palavras morreram quando ele ergueu a mão e a colocou levemente em meu ombro, deslizando-a para baixo até segurar minha mão.

— Diga que pare, então — ele murmurou, seu olhar desafiador, penetrante. — Diga que me odeia, que não sente nada, e eu me afasto.

Eu tentei, mas as palavras simplesmente não saíram. Porque, naquele momento, mentir seria impossível. A verdade era que eu não conseguia odiá-lo. E isso me deixava ainda mais vulnerável, me fazendo sentir como se estivesse despida diante dele, exposta a cada um de seus movimentos e intenções.

— Eu... — murmurei, tentando encontrar algo, qualquer coisa para dizer, mas minha voz falhou novamente.

Filipe deu mais um passo em minha direção, e nossos rostos ficaram tão próximos que eu podia ver os detalhes de seus olhos, podia sentir sua respiração quente tocando minha pele. A tensão entre nós era palpável, um fio invisível que nos unia e ameaçava romper todas as barreiras.

— Sabia que você me intriga, Lívia? — ele sussurrou, sua voz suave e rouca, cheia de segredos que eu desejava desvendar. — Cada vez que você tenta resistir, só aumenta essa... chama.

Minha respiração estava acelerada, o coração batendo descompassado. Eu queria me afastar, mas não conseguia. Filipe me mantinha presa, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Ele sabia o poder que exercia sobre mim, e, no fundo, eu odiava o quanto eu gostava disso.

Aproximou-se ainda mais, os lábios quase roçando os meus, mas não chegou a me tocar. Era uma tortura deliciosa, uma provocação calculada, como se ele soubesse exatamente até onde ir para me deixar à beira do abismo.

— Boa noite, Lívia — ele murmurou, e eu quase gemi de frustração quando ele se afastou lentamente.

Fiquei ali, sozinha na biblioteca, com o coração acelerado e o gosto amargo de ter sido provocada sem alívio. Era como se ele tivesse me deixado em chamas, apenas para me observar queimar.

Filipe Beaumont não era apenas um homem. Ele era um enigma perigoso, uma tentação que me levava a questionar tudo o que eu acreditava. E, naquele momento, enquanto o via se afastar, eu soube que estava mais envolvida do que jamais havia imaginado.

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