Capítulo 5 - O Peso da Dominação

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FILIPE BEAUMONT
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Eu sempre fui um homem de controle. Não apenas sobre os outros, mas sobre mim mesmo. Minha vida foi construída sobre as cinzas das escolhas alheias, das suas fraquezas e dos seus erros. Lívia Bianchi era apenas mais uma peça nesse tabuleiro, uma que eu moveria conforme meus desejos.

Mas ela... ela estava me testando de maneiras que eu não havia antecipado.

Desci para o salão principal da mansão, o lugar onde o poder parecia mais tangível, e onde eu poderia pensar melhor. Cada canto dessa casa tinha uma história. Cada sala, uma memória de algo que fiz para manter meu império intacto. E agora, esse lugar também seria o cenário da submissão de Lívia.

Caminhei até a lareira, jogando mais lenha no fogo. O calor abrasador das chamas refletia a intensidade crescente dentro de mim. Ela resistia de uma maneira irritante. Eu poderia acabar com isso em um piscar de olhos, forçando-a a dobrar os joelhos diante de mim. Mas, onde estava a graça nisso?

Havia algo especial em quebrar alguém lentamente.

— Senhor Beaumont? — uma voz feminina soou pela sala. Virei-me para encontrar Marta, a nova governanta que eu havia contratado. Ela era uma mulher de meia-idade, com olhos que refletiam anos de serviço, fiel e disciplinada. Marta era tudo o que eu precisava para garantir que as atividades da mansão funcionassem perfeitamente, e, além disso, ela serviria para manter Lívia sob vigilância constante.

— Tudo está em ordem, Marta? — perguntei, com uma voz fria e calculada, mas sem olhar diretamente para ela.

— Sim, senhor. A senhorita Lívia está no quarto, e eu já me apresentei a ela. — Ela hesitou por um momento, como se não soubesse se deveria continuar. — Ela... parece muito nervosa. Talvez seja bom que ela tenha alguma companhia para ajudá-la a se acalmar.

Sorri. Um sorriso que, para qualquer um, pareceria inocente, mas que trazia o peso de minhas verdadeiras intenções. Lívia não estava nervosa. Ela estava se rendendo, pouco a pouco, e não havia nada que ela pudesse fazer a respeito.

— Continue a cuidar dela, Marta, eu disse, finalmente virando para encarar a governanta. — Ela vai se ajustar com o tempo.

Marta assentiu, mas eu podia ver que ela questionava algo. Havia uma sombra de incerteza nos olhos dela, como se ela soubesse que havia algo profundamente errado naquela situação. Mas ela nunca ousaria questionar diretamente.

Quando ela saiu, voltei minha atenção para o fogo, os pensamentos vagando de volta para Lívia. Eu sabia que a presença de Marta tornaria as coisas mais fáceis. Ela seria a companhia de que Lívia precisaria, alguém para mantê-la ocupada, mas sem jamais permitir que ela esquecesse sua nova realidade.

Eu não era um monstro, claro. Eu poderia ter feito coisas muito piores. Eu poderia ter usado da força, ou do medo físico. Mas para mim, o verdadeiro poder estava em destruir as pessoas emocionalmente, despedaçando suas esperanças pouco a pouco, até que não restasse nada além da obediência.

Subi as escadas novamente, passando pelos corredores silenciosos da mansão até chegar à porta de Lívia. Ela não havia saído do quarto desde que chegou, e eu sabia que a solidão já começava a pesar sobre ela.

Sem bater, entrei no quarto.

Ela estava sentada à janela, o rosto voltado para o lado de fora, como se buscasse um refúgio na paisagem. A visão dela, tão frágil e deslocada, deveria ter evocado alguma compaixão. Mas, em vez disso, senti apenas a satisfação de que o plano estava funcionando.

Ela se virou lentamente quando me ouviu entrar, os olhos expressando uma mistura de raiva e cansaço. Eu me aproximei, calmamente, sabendo que minha presença a sufocava. Cada passo meu a aproximava mais da rendição.

— Vai ficar me observando o tempo todo? — ela perguntou, com um tom desafiador que soou mais fraco do que ela provavelmente pretendia.

Eu ignorei a provocação e me sentei na poltrona próxima à janela, cruzando as pernas com a mesma tranquilidade de quem sabe que controla tudo à sua volta.

— Não preciso te observar, Lívia. Você já está exatamente onde eu quero.

Ela apertou os punhos, lutando contra a vontade de responder. Vi o fogo nos olhos dela brilhar por um breve momento, mas logo se apagou. Ela sabia que, por mais que resistisse, não havia saída.

— Por que eu? — ela perguntou, quase em um sussurro. — Por que não pediu outra coisa ao meu pai? Por que me levou?

Essa pergunta. A mesma pergunta que todas faziam em algum momento. Elas nunca entendiam que o jogo não era apenas sobre elas, mas sobre o poder que eu exercia sobre todos ao redor. Lívia não era especial. Ela era apenas mais uma que havia caído em minhas mãos.

— Seu pai me devia, Lívia. E ele não tinha mais nada a oferecer... além de você. — Minha voz saiu suave, mas implacável, como uma lâmina afiada.

O choque estampado no rosto dela me deu uma satisfação cruel. Ela finalmente entendia que sua vida agora era a moeda que seu pai usara para pagar suas dívidas. E eu não tinha intenção de libertá-la tão cedo.

— Você é nojento, ela disse com a voz trêmula. Havia lágrimas nos olhos dela, mas eu sabia que ela as seguraria. A resistência ainda estava lá, frágil, mas presente.

Eu ri. Um riso baixo, quase desinteressado.

— Talvez. Mas eu estou no controle agora, e você não tem escolha. Aceite isso, e talvez sua vida aqui seja menos... dolorosa.

Ela não respondeu. As lágrimas continuavam presas, os olhos fixos em mim como se quisesse me destruir apenas com o olhar. Mas não havia nada que ela pudesse fazer.

Levantei-me, satisfeito por ter plantado mais uma semente de desespero no coração dela. Com o tempo, Lívia aprenderia a aceitar sua nova realidade. E Marta estaria lá para garantir que ela fosse mantida ocupada, que se adaptasse às regras da casa, e, lentamente, ela seria moldada à minha vontade.

Antes de sair, virei-me uma última vez para olhá-la. A imagem dela, tão frágil e derrotada, me trouxe uma sensação de poder absoluto.

— Boa noite, Lívia. Durma bem, eu disse, com um sorriso que não atingiu meus olhos.

Fechei a porta atrás de mim, sabendo que, do lado de dentro, Lívia estava mais próxima da ruína do que jamais havia estado.

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