Pilot chapter

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O sol forte do Rio de Janeiro começava a subir no céu, iluminando os prédios da PUC-RJ enquanto mais uma semana de aulas se iniciava. O campus fervilhava de estudantes indo de um lado para o outro, e entre eles estavam Macris Carneiro e Ana Carolina, exaustas após uma longa viagem de três horas de ônibus. Era um daqueles dias em que a prática de medicina veterinária exigia não apenas dedicação mental, mas também o desgaste físico de carregar jalecos e equipamentos. As mochilas pesadas sobre os ombros denunciavam a rotina corrida das duas jovens.

Ao entrarem na faculdade, um raro sorriso se formou nos lábios de Macris ao avistar Martyna Lukasik, a polonesa que, embora estudasse engenharia civil, era sua confidente e uma das poucas pessoas em quem confiava plenamente. Vinda de um intercâmbio, Martyna era parte de um grupo peculiar e intimidador, que incluía as holandesas Celeste Plak e Anne Buijs, além das brasileiras Roberta Ratzke e Rosamaria Montibeller.

Carol, sempre mais entusiasmada, puxou Macris pela mão, nem dando tempo para a amiga protestar:
— Vem, vamos falar com a Marty e as outras... — disse, apressada.

Macris soltou um suspiro de cansaço misturado com desânimo. Por mais que gostasse de Martyna, ela sabia o que esperar do restante daquele grupo, especialmente de Roberta. Havia algo sobre estudante que sempre a incomodou profundamente. Roberta exalava uma confiança arrogante, aquele tipo de pessoa que Macris sempre achou insuportável: alguém que estava acostumada a conseguir tudo o que queria, sem exceção. E, aparentemente, o que Roberta queria agora... era ela.

Ao longe, Roberta Ratzke observava a aproximação das duas com um sorriso que mesclava diversão e algo mais obscuro. Do lado de fora, ela podia ser apenas mais uma aluna do curso de odontologia, mas Macris sabia que havia algo de errado, algo que ia além daquela máscara perfeita que Roberta ostentava. Ela sempre notou que as pessoas à sua volta demonstravam um respeito excessivo pela mulher, mas nunca entenderam o porquê. Talvez fosse o magnetismo natural, ou o poder que ela exercia de maneira sutil e ameaçadora. Macris, no entanto, não caía na armadilha. Ela via através das camadas de disfarce e charme. E isso, para seu desgosto, parecia atiçar ainda mais a atenção de Roberta.

— Lukasik, hora de você encarnar a chatinha de engenharia — Roberta murmurou para Martyna, enquanto observava Carol puxando Macris pelo corredor. — Minha mulher tá vindo...

A forma casual como Roberta se referia a Macris, como se já a possuísse, fazia Martyna rir com uma pontada de cumplicidade. Roberta adorava provocar Macris, principalmente porque sabia que a veterinária não a suportava. E para Roberta, ver a frustração nos olhos de Macris era um jogo irresistível.

— Mas foi isso que aconteceu... sabe, coitadinha — Roberta disse, simulando distração, enquanto terminava de contar uma história qualquer para o grupo. Assim que Carol e Macris chegaram perto, ela mudou o tom para uma provocação descarada: — Oi, meninas, como estão? Oi, Macris, meu amor, sentiu saudade?

Macris revirou os olhos imediatamente. Só de ouvir a voz de Roberta já sentia o sangue ferver, e isso a irritava ainda mais. Era sempre assim. Roberta conseguia transformar cada interação em um flerte disfarçado, uma provocação constante que fazia questão de disfarçar como gentileza. E Macris sabia que aquilo era uma jogada calculada. Cada palavra, cada gesto, tudo fazia parte de um plano maior para fazê-la ceder.

— Saudade de você? — Macris retrucou, o olhar cortante, — Nem em outra vida, Ratzke.

— Ui! — Roberta fingiu um choque exagerado, levando a mão ao peito. — Que brava você é... mas eu gosto assim. — E piscou para Martyna, que já sabia o que fazer.

— Deixa a Macris em paz, Roberta — Martyna disse em tom brincalhão, embora ambas soubessem que ela sempre estava do lado de Roberta. — Não vê que a menina já tá cansada? Mal chegaram na faculdade.

Deadly ObsessionOnde histórias criam vida. Descubra agora