Chapter Twenty

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Macris permaneceu em silêncio no quarto desde que voltara para a mansão. A escuridão que a envolvia não era apenas do ambiente fechado, mas de algo muito mais profundo, uma ferida invisível que se agravava a cada lembrança, a cada instante de silêncio. Aquele quarto, por mais seguro que fosse, não apagava os ecos do que ela tinha vivido; era como se as paredes ao redor carregassem também parte da dor, do terror, e da humilhação que ainda a perseguia.

Roberta havia respeitado a escolha de Macris de ficar sozinha, entendendo que a amiga precisava de um tempo para processar tudo o que passara. Mas já haviam se passado horas, e o silêncio de Macris era inquietante. Roberta sabia que, com o tempo, a solidão poderia tornar ainda mais intensas as lembranças que a assolavam, e ela queria estar lá, de algum modo, para suavizar um pouco daquela dor.

Decidida, Roberta preparou um pequeno lanche e foi ao quarto de Macris. Sabia que a amiga não comia nada desde o resgate, e essa preocupação era uma forma de expressar o carinho e a presença de que Macris tanto precisava. Ao abrir a porta, encontrou Macris sentada na cama, as pernas encolhidas contra o peito, e o rosto banhado em lágrimas. Ela chorava em silêncio, um soluço engasgado aqui e ali, e seus olhos tinham um brilho vazio, misto de medo e angústia. Aquela expressão cravava-se no peito de Roberta como uma ferida que ela própria sentia, sem saber ao certo como poderia curá-la.

— Ei… O que aconteceu? — sussurrou Roberta, tentando não assustá-la. Aproximou-se devagar, carregando o prato nas mãos, enquanto observava Macris enxugar rapidamente as lágrimas, numa tentativa de disfarçar o próprio sofrimento.

— Não foi nada… — murmurou Macris, sua voz quase inaudível, os olhos desviados como se tentasse esconder mais do que só as lágrimas. Mas o olhar de Roberta já havia captado a profundidade daquela tristeza, e a sua experiência com Macris lhe dizia exatamente de onde vinha o peso por trás daquele choro.

Roberta sentou-se ao lado dela, sentindo o vazio que a cercava, um vazio que nenhum prato de comida ou palavras de conforto poderiam preencher por completo. Ela respirou fundo, a culpa se enroscando em seu peito. Não conseguia evitar o peso que vinha com o pensamento de que tudo poderia ter sido diferente. Se ao menos tivesse mantido Macris ao seu lado durante a festa, se ao menos tivesse dado atenção à vulnerabilidade dela…

— Macris, me desculpe — disse Roberta, sua voz carregada de um arrependimento profundo. Ela sentia o amargor da culpa atravessando cada palavra. — Eu não deveria ter deixado você sozinha. Sabia… sabia que você poderia ser um alvo fácil.

Macris não respondeu de imediato. Parecia imersa nas lembranças do que havia passado, cada uma mais sombria que a outra. A sensação de vulnerabilidade, a forma como fora tratada… como se sua dignidade tivesse sido arrancada, pedaço por pedaço, sem que ela tivesse qualquer controle sobre isso. Não precisava dizer em voz alta o que passara, mas Roberta entendia, quase como se conseguisse ler os pensamentos que passavam pela mente dela.

— Eu só queria… sumir. — Macris finalmente murmurou, quase para si mesma. A voz dela era uma sombra do que costumava ser, frágil, como se tivesse sido quebrada e colada novamente de maneira imperfeita. — Estar ali… foi como se eu não fosse nada. Como se cada parte de mim tivesse sido tomada, destruída…

Roberta engoliu em seco, sentindo um nó se formar na garganta. Sabia que as palavras não poderiam mudar o passado, mas ainda assim, seu coração gritava para confortá-la de alguma forma.

— Macris, eu não vou deixar você passar por isso sozinha — disse Roberta, determinada. — Eu estou aqui, e vou estar aqui até que toda essa dor vá embora. Não devia ter tirado os olhos de você… sabia que algo assim poderia acontecer, e mesmo assim eu… — Roberta apertou as mãos, tentando controlar as próprias emoções.

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