𝐖𝐇𝐄𝐍 𝐈𝐓'𝐒 𝐂𝐎𝐋𝐃 || Steve harrington

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|𝐏𝐑𝐎𝐂𝐔𝐑𝐀𝐍𝐃𝐎 𝐔𝐌 𝐄𝐌𝐏𝐑𝐄𝐆𝐎

1 de junho de 1985:

Zoe acordou sobressaltada, com o coração disparado e a mente turva. A noite tinha sido inquieta, como tantas outras nas últimas semanas. Desde o início de abril, seus sonhos eram atormentados por uma cena recorrente: uma máquina gigantesca, cheia de engrenagens e cabos, pulsando como se gerasse um tipo estranho de energia. Ao redor dela, homens vestidos em uniformes de proteção circulavam, enquanto outros, às vezes usando jalecos de cientista, observavam atentamente. Embora os detalhes variem a cada sonho, a sensação de desconforto e urgência era sempre a mesma, a deixando cansada e confusa ao amanhecer.

Ela piscou os olhos algumas vezes, tentando afastar a névoa do sono, e ao ver o relógio, soltou um palavrão. Já passava da hora de sair! Ela e Steve tinham uma entrevista de emprego marcada para aquela manhã, e agora teria que correr para não se atrasar ainda mais. Zoe havia perdido seu emprego no cinema depois de tantas faltas causadas pelos eventos turbulentos do ano passado. Desde então, as coisas tinham ficado difíceis em casa, e ela sabia que precisava ajudar Joyce de alguma forma. Com o fim do ensino médio, essa se tornou uma prioridade. Zoe já tinha comentado com Steve que estava à procura de um emprego, e para sua surpresa, ele pareceu interessado em acompanhar a ideia. Steve Harrington era rico e definitivamente não precisava de uma renda extra, mas depois de não ser aceito em nenhuma faculdade, seu pai deixou claro que ele iria ter que arrumar um
emprego e ganhar o próprio dinheiro. Steve odiou a ideia é claro, mas percebeu que poderia passar mais tempo com Zoe então poderia valer a pena.

Zoe vestiu-se apressadamente e desceu as escadas. Na cozinha, o aroma de café fresco pairava no ar, e Joyce e Jonathan estavam sentados à mesa, compartilhando um café da manhã tranquilo. Jonathan lia o jornal, mas vez ou outra lançava um olhar distraído pela janela. Joyce parecia preocupada, os ombros tensos e o olhar distante. Desde que o novo shopping Starcourt abriu, as coisas tinham mudado em Hawkins. O shopping era enorme e atraente, com suas lojas brilhantes e modernas, e acabou engolindo o movimento de várias lojas menores do centro da cidade, incluindo a onde Joyce trabalhava. Ela temia pelo seu emprego, e isso pesava em casa, criando um clima constante de incerteza.

— Vou indo. — disse Zoe rapidamente, pegando uma torrada na pressa. Ela lançou um sorriso encorajador para Joyce e um aceno para Jonathan. — Me desejem sorte.

— Boa sorte, querida. — respondeu Joyce, com um sorriso.

Assim que Zoe abriu a porta de casa, viu o carro familiar de Steve estacionado em frente. Ele estava recostado na porta, os óculos de sol protegendo seus olhos da luz da manhã, e lançou um sorriso despreocupado assim que a viu.

—Finalmente! Achei que tivesse se perdido aí dentro. — brincou, acenando para ela.

Zoe rolou os olhos e andou apressada, entrando no carro enquanto ele se ajeitava no banco do motorista. — Bom dia pra você também. —respondeu ela, colocando o cinto de segurança.

O caminho até o shopping foi um pouco longo. Mas se surpreenderam quando chegaram. O Starcourt Mall era imenso, um monstro de vidro e metal reluzente que dominava a paisagem.

Desde que abriu, quase todo o comércio do centro da cidade havia sido afetado. Pequenas lojas que existiam há anos viram seus clientes sumirem, e alguns trabalhadores, incluindo Joyce, temiam pelo futuro dos seus negócios. Mas para jovens como Steve e Zoe, o shopping parecia uma oportunidade: eles precisavam de emprego, e Starcourt tinha vagas.

Assim que chegaram, o estacionamento já estava cheio. Steve e Zoe caminharam apressados, passando por vitrines coloridas e lojas cheias de produtos novos e chamativos, até chegarem à sorveteria Scoops Ahoy. A loja tinha uma decoração retrô, com cores vibrantes, e logo eles viram dois gerentes já à espera para as entrevistas.

Quando se aproximaram, Zoe cutucou Steve discretamente e apontou com o queixo para uma garota sentada em um banco próximo, segurando um formulário de inscrição. — Aquela não é a Robin Buckley?

Steve olhou na direção indicada e viu Robin, uma velha conhecida que havia estudado com eles no colégio, mas Steve não se lembrou dela.

Robin parecia entediada, tamborilando os dedos no joelho enquanto esperava. — Quem? — respondeu Steve, franzindo a testa.

— Robin. Estudava com a gente. — Zoe falou se perguntando como alguém podia ser tão desligado.

— Não me lembro dela. — Steve respondeu sem ligar muito.

— Como? Ela estudou com a gente por anos. — Zoe tentou novamente e Steve deu de ombros.

Os gerentes os chamaram, e Steve e Zoe foram entrevistados separadamente. Zoe estava um pouco nervosa, mas conseguiu responder todas as perguntas com clareza, destacando que, apesar de não ter experiência em sorveterias, ela tinha trabalhado no antigo cinema local e sabia lidar com clientes e situações movimentadas. A entrevista passou rápido, e logo ela estava de volta ao saguão, esperando Steve.

Não demorou muito para que ele saísse também, com um sorriso confiante estampado no rosto, parando na frente de Zoe. — Eu consegui a vaga. E você?

Zoe fez uma cara séria e olhou para o chão, fingindo desapontamento. — Ah. Eu...— começou, sua voz um pouco vacilante. Ele a encarou por um segundo, claramente preocupado, até que ela levantou a cabeça com um sorriso largo. — Eu também!

Steve soltou uma risada de alívio. — Achei que tava falando sério.

—Parece que vamos passar o verão servindo sorvete. — Zoe falou meio entediada.

— Você vai ver, as garotas vão fazer fila pra comprar sorvete só por minha causa. — disse Steve, confiante.

Zoe revirou os olhos, um pouco incomodada com o comentário, mas acabou rindo. Steve sempre se achava demais, e era dificil não achar graça em como ele falava dessas coisas com tanta certeza.
— Você se acha muito, sabia? — provocou ela, ainda rindo. — Mas vou adorar ver você tentando.

Steve deu de ombros. Convencido.

Zoe avistou Robin assim que ela saiu da entrevista. Viu que ela segurava um pequeno maço de roupas dobradas, todas em um tom de azul vibrante, misturado com branco. Curiosa, Zoe foi até ela e deixou Steve por um breve momento.

— Robin! — chamou, acenando e sorrindo. — Conseguiu a vaga?

Robin levantou a cabeça e sorriu de volta, com aquele jeito meio sarcástico que Zoe lembrava meio vagamente.

— Consegui. — respondeu, erguendo as roupas azuis como se fossem um troféu. — Parece que somos colegas de trabalho agora. Isso aqui são os uniformes que vamos precisar usar.

Ela balançou as roupas de um lado para o outro e, como se fosse um prêmio especial, ergueu um dos três chapéus brancos com detalhes azul-marinho, típico de marinheiro, girando-o no dedo.

— E olha só, chapéus inclusos. — Robin falou, com o mesmo tom sarcástico.

Zoe riu, entendendo o que ela queria dizer.

— É sério? Vamos ter que vestir essas coisas?

Robin deu de ombros, com um sorriso irônico. As duas caminharam lado a lado em direção a Steve, que estava mais adiante. Assim que as viu se aproximando, ele levantou os olhos e franziu a testa ao notar as roupas dobradas e o chapéu nas mãos de Robin.

— O que é isso aí? — perguntou, curioso.

— Ah, isso? — disse Zoe, pegando uma das camisas da mão de Robin e segurando-a no ar, para que Steve pudesse ver melhor. — Esses são os novos uniformes. Vamos todos trabalhar vestidos de marinheiros, senhor Harrington.

E então, com um sorriso divertido, ela ergueu o chapéu e o colocou na cabeça dele, rindo.

Steve encarou as roupas por um segundo, com uma expressão que misturava choque e diversão.

— Ainda acha que as garotas vão fazer fila pra te ver fantasiado? — Zoe perguntou ironicamente, arrancando uma risada de Robin, e Steve apenas balançou a cabeça, confiante que aquilo não atrapalharia em nada.