Capítulo 36

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Algo mudou aquele dia no hospital. Foi como "girar a chave". Kakashi estava muito diferente do que todas as vezes que eu o vi.
Ele sempre foi cuidadoso, mas estava minuciosamente mais.

Pelo resto dos meses, eu não o vi mais triste, havia apenas um sentimento gritante: o de gratidão.

— Ok, fraldas, chupeta, lenços umedecidos, saída maternidade... estou esquecendo de algo?

Ele não dormiu, e eu acho engraçado de certo modo. Era um papai ansioso.
E apesar de eu ter escolhido cesárea, estava morrendo de medo.

A dor começou como uma pontada insistente na parte baixa das costas, irradiando para o ventre com um aperto lento e crescente. Eu já estava sentindo essa mesma dor desde ontem, mas agora era diferente. Mais forte. Mais intenso. Como se algo dentro de mim estivesse pronto para romper as barreiras do tempo.

— Muita dor, amor? — Kakashi perguntou, com aquele olhar carregado de preocupação.

Eu apenas assenti, incapaz de formular palavras. Ele estendeu a mão para mim, me ajudando a me erguer com cuidado. Minha barriga parecia pesar uma tonelada, e cada passo era uma luta contra a gravidade. A banheira já estava cheia com água morna — recomendação de Shizune para aliviar o desconforto.

Me apoiei em seus braços enquanto ele me ajudava a descer na água, o calor envolvendo meu corpo como um abraço temporário. Respirei fundo, tentando me concentrar na sensação de alívio.

— Shizune ligará em breve, autorizando o internamento para a cesárea. Eu vou carregar as malas para o carro. Volto num segundo.

Assenti de novo, fechando os olhos enquanto sentia a água morna tentando acalmar a tempestade dentro de mim.

Tudo bem, Aika...
Tudo bem.

Essa dor vai passar, muito em breve.
Tentei ignorá-la, afinal, era só suportar mais alguns minutos. Em breve eu estaria no hospital, e tudo se resolveria.

Mas uma onda de dor me rasgou de dentro para fora, me fazendo agarrar as bordas da banheira. Não era apenas desconforto, não podia ser, doía demais. Meu corpo estava se preparando, ignorando qualquer planejamento ou cirurgia agendada.

Meu Deus.
MEU DEUS.

Taki por favor... você não pode nascer agora.

Senti meu rosto molhado, não pela água, mas as gotículas de suor escorriam.
Um suor frio.

— Kakashi…! — tentei chamá-lo, mas minha voz saiu embargada, entrecortada por um gemido de dor.

Meu ventre endureceu de forma quase brutal, e uma pressão absurda se formou em meu quadril. As contrações vieram como uma tempestade, sem trégua. Eu tremia, suava, sentia o coração disparar enquanto a dor me dominava. Era como se meu corpo soubesse exatamente o que fazer, mas minha mente ainda tentasse se agarrar à ideia de que não era hora.

Eu queria gritar, mas a única coisa que fiz foi arquear o corpo, segurando a beirada da banheira com força. Um calor escorreu entre minhas pernas, misturando-se à água. Meu coração parou por um segundo. Minha bolsa havia rompido.

— Kakashi! — Minha voz saiu entrecortada, em desespero. Mas ele já estava lá fora, carregando nossas malas.

Outra contração me dominou, intensa, feroz. Me apavorei tanto que mal raciocinava.
Eu precisava alcançar o celular que estava no quarto, dar um toque a ele, qualquer coisa, eu sei que seu celular está no bolso, ele atenderia.

Respira, Aika. Você já passou por tanta coisa… você consegue.

Me levantei para sair da banheira, tentei me concentrar. Uma pressão avassaladora tomou conta do meu quadril, e estranhamente eu senti algo muito palpável ente minhas pernas.
Quando olhei para baixo, pensei que fosse desmaiar, coloquei a mão entre as pernas e simplesmente senti a cabeça.

𝘼𝙣𝙖𝙩𝙤𝙢𝙮 𝙤𝙛 𝙇𝙤𝙫𝙚  🦋  Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora