Perspectiva de Sam
Já fazem algumas semanas desde que comecei a frequentar a psiquiatra para onde Mon me levou. Apesar de ainda me sentir perdida na minha própria culpa, venho compreendendo algumas coisas aos poucos. Hoje é o aniversário da Tee. Eu não queria ir, mas a psiquiatra sugeriu que eu tentasse manter o contato com meus amigos, então estou tentando estar presente, ainda que meu corpo esteja ali e minha mente, distante. Assim que chego, é Tee quem abre a porta.
— Olá, Sam. — diz ela, sorrindo.
— Olá, parabéns... — respondo.
— Veio de mãos abanando? Nem um presente? — ela pergunta, franzindo a testa.
— Você é alguma criança para precisar que te deem presentes? — retruco, irritada.
Depois de tanto tempo sem conseguir falar, aqui estou, usando minha voz com Tee. A vida tem mesmo um jeito cruel de nos pregar peças. Se era para falar com ela, talvez fosse melhor ter continuado muda para sempre.
— Escuta... — sussurra ela, enquanto ainda estou na porta. — Mon está aqui...
— Presumi. — Digo, o óbvio, afinal, Tee e Mon sempre foram amigas. Tee, especialmente, que é casada com Yuki.
— Liz também está. Gosto muito dela, sabia? Nos tornamos amigas nos últimos anos. — Tee explica.
Reviro os olhos e entro. Ao fundo da sala, vejo Mon conversando com Liz, e, de tempos em tempos, ela sorri do que quer que estejam falando. Mas logo minha atenção se volta para Chai, que vem em minha direção.
— Mãe, sabia que tirei 99% no teste de matemática? — diz ele, com uma expressão meio irritada.
— Parabéns, filho, fico orgulhosa de você. — digo, deixando um sorriso surgir.
— 99%! Não foi 100%! Você não devia ficar orgulhosa. Eu devia ter tirado 100%, mas não tirei porque a professora cometeu um erro na prova... — Chai continua falando, mas, apesar de olhá-lo, mal ouço suas palavras.
Minha atenção está na marca no rosto dele, uma pequena lembrança daquele dia. Ele segue falando sem parar, e então eu o puxo para um abraço apertado.
— Mãe, me solta. — ele reclama. — Tá apertando muito, não gosto.
Eu não o solto. Quero sentir meu filho perto de mim, ainda que ele resista.
— Mãe, me solta. Se não soltar, eu vou te morder. — ele ameaça.
Ignoro a ameaça, aquele abraço é tudo de que eu preciso agora. Até que uma voz familiar interrompe.
— Fecha essa boca, Chai. Se morder sua mãe, jogo toda a Nutella fora! — Mon avisa.
Solto Chai, e nossos olhos se encontram. Mon me dá um pequeno sorriso enquanto Chai se afasta correndo, temendo outro abraço.
— Está bem? — Mon pergunta.
— E você? — pergunto de volta.
Ela apenas sorri e se afasta. A festa continua, e eu acabo ficando ao lado de Jim, que fala sem parar sobre sua vida, que, para ser sincera, não me interessa muito. Mon está do outro lado da sala, com Liz e Yuki, e as três parecem se divertir juntas. Penso no que a psiquiatra me disse. Meu coração dói ao vê-la tão próxima de Liz, pior ainda, feliz. A psiquiatra disse que meu trabalho é aceitar isso, não importa o que eu sinta. Permitir que Mon esteja com quem quiser. Parece tão contrário aos meus instintos...
— Vamos cantar os parabéns? — anuncia Yuki, se afastando de Mon e Liz.
As velas são acesas, todos cantam, sorrindo. Todos, menos eu, que estou apenas tentando controlar a vontade de afastar Liz de perto de Mon. Quando Tee apaga as velas, chama a atenção de todos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mon & Sam - Viúva Por Engano
FanfictionApós uma viagem de negócios, logo após sua lua de mel, o avião onde Sam estava cai no oceano, deixando Mon devastada. Os anos seguintes são de um luto profundo, mas, depois de muito sofrimento e superação, Mon começa a reconstruir sua vida e encontr...