Capítulo 42

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Perspectiva de Chai

Vim para a sala assistir ao meu documentário, mas a situação só piorou. Saí do quarto por causa do ronco da minha mãe, mas agora tenho que aguentar as perguntas da minha avó.

— O que elas ficaram fazendo sozinhas no quarto? — minha avó pergunta, me observando com aquele olhar curioso e desconfiado.

— Avó, estou tentando ouvir o documentário — resmungo, irritado, desviando o olhar para a televisão.

— Quanto mais rápido me responder, mais rápido você ouve seu documentário — ela responde, impaciente.

Reviro os olhos, exausto.

— Mãe Mon está dormindo — respondo, com um suspiro impaciente.

— Elas tão dormindo juntas? — minha avó insiste, cada vez mais curiosa.

Respiro fundo, já sem paciência com toda essa interrupção.

— Avó, não sei. Por que não vai lá e vê você mesma? — rebato, irritado.

— Fale direito com sua avó! — meu avô intervém, o tom firme e cheio de autoridade.

— Ninguém me deixa ver meu documentário! — grito, completamente irritado. — Odeio esta casa! Estou sufocado aqui!

Minha avó perde a paciência e se levanta, começando a falar mais alto.

— Mas esta é a sua casa! Quer você odeie ou não! — ela diz, furiosa.

— Eu podia morar em uma casa grande! Eu podia morar em um palácio! Mas me trouxeram pra cá. Eu não tive escolha — continuo gritando. — Eu sou rico! E estou vivendo como um pobre!

— E qual é o problema de viver de forma mais modesta, hein, Chai? Tá com vergonha das suas origens? — ela pergunta, irritada, com o olhar fixo em mim.

— Essa não é a minha origem! Eu sou filho da mãe Sam! Eu sou da realeza! Eu sou rico! Eu sou muito melhor que vocês! — grito, e imediatamente sinto o tapa estalar no meu rosto.

Antes que eu consiga reagir, minha mãe Sam surge na sala, coxeando e olhando a cena com espanto.

— O que está acontecendo aqui? — ela pergunta, chocada.

— Não se meta! — minha avó responde, sem se intimidar.

— É meu filho, é claro que vou me meter. Por que você bateu nele? — minha mãe pergunta, com raiva evidente.

— Porque eu disse que odeio essa casa, odeio morar aqui apertado, odeio fingir que sou pobre quando sou rico! — grito, virando-me para minha avó com raiva. — E porque eu sou melhor que eles, sou seu filho, mãe. Eu sou melhor!

Minha mãe me encara, agora com um olhar duro.

— O que você disse para sua avó, Chai? — ela se aproxima de mim, a fúria nos olhos.

— A verdade — digo, teimoso, ainda sentindo o rosto arder pelo tapa.

— Verdade? Você quer saber a verdade, filho? — ela diz, e percebo que algo profundo e inesperado está prestes a sair dali. — A verdade é que os seus avós acolheram você e sua mãe quando eu deixei vocês. Eles têm dado tudo o que podem, e até o que não podem, para que você seja feliz, e você está sendo incrivelmente ingrato. Você não é melhor que eles. Vai ter que crescer muito pra um dia chegar aos pés deles. Nem eu sou!

Minha mãe continua, a voz cada vez mais carregada de emoção e tristeza.

— Eu deixei sua mãe quando ela mais precisou de mim, deixei você sozinho naquela casa... é isso que você quer ser? Como eu? Não seja! Ser como eu é uma droga. Seja como os seus avós. Seja como sua mãe.

Mon & Sam - Viúva Por EnganoOnde histórias criam vida. Descubra agora