Perspectiva de Mon
Me viro em direção à parada de ônibus, mas enquanto caminho, meus pensamentos ficam presos nela. Respiro fundo e volto até Sam e Jim. Assim que chego, não consigo esconder minha expressão de decepção, mas estendo minha mão.
Sam me olha, confusa, e coloca a mão dela na minha, esperando um aperto, mas dou-lhe um tapa na palma.
— Não quero sua mão. Quero a chave do carro. — digo, tentando manter a calma.
Hesitante, ela tira a chave da bolsa e a coloca na minha mão. Começo a andar em direção ao carro, mas percebo que Sam não me segue. Suspiro profundamente, me viro para ela e a encaro.
— Anda. Vai ficar aí parada? — falo, impaciente.
Ela avança a passos incertos atrás de mim. Entro no carro e espero que ela entre também. Assim que ela fecha a porta, arranco sem dar tempo para conversa. Sam não fala desde o dia em que me pediu o divórcio no hospital. Nem uma palavra. Nem para mim, nem para Jim, nem para Chai. Nosso filho não ouve a voz dela há quatro anos. Conduzo com o peito cheio de raiva, cansaço e frustração, até estacionar em frente à clínica.
Paro o carro bruscamente, batendo a frente e a traseira contra os outros veículos já estacionados. Saio e fecho a porta com força. Ela desce do carro, hesitante, cada passo mais lento que o outro. Sinto a irritação crescendo. Pego na blusa dela e começo a arrastá-la para dentro da clínica. Vou até a recepção e peço para ver a doutora que tem me acompanhado desde que perdi o bebê. Venho a essa psiquiatra toda semana. Mas hoje, decidi trazer Sam comigo, porque ela parece incapaz de cuidar dela mesma, muito menos de nosso filho.
Logo, somos chamadas para entrar. Sam continua apática, então preciso praticamente arrastá-la para dentro do consultório. Assim que nos sentamos, a doutora nos observa, um tanto confusa.
— Bom dia às duas. — ela diz, amigavelmente.
— Bom dia. — respondo, soltando um suspiro cansado.
— Vejo que hoje não veio sozinha. — ela comenta, lançando um olhar gentil para Sam. — Khun Sam, sou a psiquiatra que tem acompanhado sua ex-esposa desde que vocês perderam a Joy.
Sam não responde; apenas a observa com os olhos marejados ao ouvir o nome que escolhemos para nossa filha.
— Ela não fala, doutora. Não desde que me pediu o divórcio. — explico, com um tom de irritação misturado com frustração.
— Eu sei, Mon. Discutimos isso, mas estou apenas me apresentando. — responde a doutora com calma. — Posso saber por que decidiu trazê-la hoje?
— Khun Sam não fala. Ela não fala com meu filho. Ela olha para ele, sorri, acena, até o abraça... mas meu filho não ouve a voz dela. — digo, tentando controlar a tristeza que me invade.
A doutora se dirige a Sam, tentando suavizar a situação.
— Khun Sam, se eu te fizer algumas perguntas, acha que pode me responder com um aceno, concordando ou discordando? — ela pergunta.
Sam acena que sim, lentamente.
— Você consegue falar, mas não quer? — a doutora pergunta.
Sam hesita, mas depois de um momento, acena que sim.
— Não quer por medo? — pergunta novamente.
Sam novamente acena, confirmando.
— Mon me contou o que aconteceu. Me contou do incêndio, de Chai estar sozinho em casa...
Sam vira o rosto e começa a chorar, cobrindo o rosto com as mãos.
— Eu nunca te culpei! — digo, irritada, com a voz embargada. — Eu fiquei furiosa, confusa e desesperada... mas eu nunca te culpei pelo que aconteceu com o Chai. Não sou louca de pensar que você pôs fogo na casa de propósito. Te culpo por muita coisa, mas não pelo incêndio.
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Mon & Sam - Viúva Por Engano
FanficApós uma viagem de negócios, logo após sua lua de mel, o avião onde Sam estava cai no oceano, deixando Mon devastada. Os anos seguintes são de um luto profundo, mas, depois de muito sofrimento e superação, Mon começa a reconstruir sua vida e encontr...