Capítulo 9

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Perspectiva de Sam

Finalmente, dentro do carro, vejo aquela mulher sair furiosa. Uma parte de mim sente um alívio silencioso, sabendo que Mon me escolheu para ficar com ela esta noite, nesta casa. Saio do carro e caminho até a porta, mas, de repente, ouço a voz de Liz, parada de costas para mim.

— Não se esqueça — ela diz com firmeza, ainda sem se virar para mim. — Mon é minha namorada, e eu conto que continue sendo.

Não respondo. Liz segue seu caminho, e eu, então, bato à porta. Mon a abre, o rosto visivelmente abatido. Sem trocar uma palavra, entro e deixo um beijo leve em sua testa. Ela imediatamente me envolve em um abraço apertado, afundando o rosto em meu peito, suas mãos agarrando minha blusa com força, como se eu fosse desaparecer a qualquer momento.

— Veio ver os pinguins, mãe? — a voz de Chai soa curiosa.

Meus olhos se voltam para ele, surpresos. Ele me chama de "mãe" como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— É estranho ouvi-lo te chamar assim? Você é mãe dele, Khun Sam — diz Mon em um sussurro, soltando meu braço.

— Só... parece tão natural para ele — respondo, meus olhos fixos no menino.

— Sempre falei de você para ele. Ele cresceu vendo suas fotos, ouvindo histórias... Ele sabe tudo sobre você — diz Mon, com ternura. — Está curioso com a sua presença.

— Mãe! — Chai reclama, impaciente por minha falta de resposta. — Os pinguins!

— Sim, sim, estou indo — digo, tentando conter um sorriso, e me sento ao lado dele no sofá.

Chai pega o controle remoto e reinicia o documentário. Sentados lado a lado, sinto uma vontade imensa de abraçá-lo, de saber como ele é de perto, de sentir seu cheiro, a textura de sua pele. Mas logo me lembro que ele não gosta de contato físico, e me contenho, apenas observando-o.

— Olha para a televisão, você não está assistindo — reclama ele, um pouco irritado.

Dou uma risada leve e volto meus olhos para a tela. Mon se aproxima e se senta ao meu lado, não muito próxima, mas perto o suficiente para que eu sinta sua mão segurando a ponta da minha blusa, os dedos delicadamente enrolados no tecido. Ela olha a televisão com uma expressão distante, os olhos tristes.

— Ele sempre gostou de pinguins? — pergunto, lançando um olhar em sua direção.

— Não, ele sempre foi mais de números — responde Mon, com um sorriso suave. — Os pinguins são porque é a única coisa que ele sabe sobre o lugar onde você esteve. Acho que é o jeito dele de tentar te conhecer.

Sinto uma mãozinha subindo em direção ao meu cabelo, tocando-o com delicadeza. Quando olho, vejo que é a mão de Chai, explorando meus fios enquanto mantém os olhos fixos na televisão. Logo ele solta meu cabelo e passa a mão nos próprios fios, imitando o gesto.

— São parecidos, não são? — pergunto a ele, sorrindo.

— São — responde Chai, com simplicidade.

Ficamos mais um tempo em silêncio, e eu não consigo desviar meus olhos dele. Sinto a presença de Mon ainda agarrada à minha blusa. Eventualmente, Mon solta a ponta da minha blusa e se levanta.

— Chai, hora de dormir — ela diz, em tom suave.

Ele olha o relógio e assente.

— É mesmo.

Chai se levanta, desliga a televisão, e, segurando a mão de Mon, se vira para mim.

— Sua melhor amiga é a tia Jim — afirma ele, como se confirmasse um fato importante.

Mon & Sam - Viúva Por EnganoOnde histórias criam vida. Descubra agora