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Neo tinha pausado a gravação do álbum novo dele no Rio de Janeiro só para ficar perto de mim

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Neo tinha pausado a gravação do álbum novo dele no Rio de Janeiro só para ficar perto de mim. Por mais que eu insistisse para ele voltar a gravar, argumentando que eu estava bem, ele não quis saber. No fundo, eu achava engraçado. Depois de tudo que aconteceu, ele aproveitava cada oportunidade para estar ao meu lado. E agora, lá estava eu na cozinha, fazendo bolinho de chuva num dia frio, só porque Neo me perturbou tanto que acabei cedendo. Era nostálgico. Nossa mãe fazia para a gente sempre que sobrava algum trocado no fim do mês.

Retiro um bolinho da frigideira e coloco na bacia com papel-toalha. Não demora nem um segundo e vejo Neo pegando um.

— Cara, você já tem 23 anos e não consegue esperar ficar pronto? — pergunto, rindo.

— Não, você sabe qual é a regra — ele diz, parando e me olhando.

— Bolinho de chuva fica mais gostoso quando é roubado — respondemos juntos, e ele me estende a mão para um toca aqui. Caio na risada, tentando disfarçar a pontada de saudade que esse momento traz.

Sinto um aperto no peito. Essa era a nossa desculpa para nossa mãe, cada vez que ela nos flagrava roubando os bolinhos antes da hora. A memória dela e desses momentos juntos deixam a saudade latejando. Meus pensamentos são interrompidos pelo toque do celular.

— Acho que é o seu — Neo comenta, apontando para o balcão.

— Pega para mim, por favor — peço, enquanto coloco mais massa no óleo.

Neo pega o celular e me entrega. Antes de atender, vejo o nome "Dra. Renata" piscando na tela.

— Oi, Léo! Liguei para saber como você está. E com os remédios, tudo bem? — a voz dela vem suave do outro lado.

— Tô bem, as crises estão mais fracas e tô lidando melhor — respondo, enquanto viro o bolinho na frigideira. Neo observa tudo, atento.

— Fico feliz em saber que você está se adaptando. E os efeitos colaterais? Tem sentido algum? — pergunta, com aquela calma típica dela.

— Só cansaço, um pouco de sono... nada demais — digo, tirando o bolinho da frigideira e dando um tapa na mão do Neo, que já tentava roubar mais um.

— Que bom, Léo. Te vejo na terça-feira. Ah, só lembra do que eu te falei na clínica quando começou o tratamento... — ela menciona, e eu franzo a testa, sem entender.

— O quê? Não lembro.

— Que o remédio corta o efeito do anticoncepcional, Léo. Te avisei disso. Mas acho que você anda distraída com as coisas do casamento, né? — ela ri, mas suas palavras me atingem como um choque, e eu desligo o celular na hora.

A palavra "anticoncepcional" ecoa na minha mente como um alerta. Minhas lembranças começam a girar em volta do esquecimento, daquelas semanas antes de ir para a clínica, em que com a instabilidade e a confusão, eu simplesmente deixei de tomar a pílula.

Mil Versos -apollo McOnde histórias criam vida. Descubra agora