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𝑳𝒆𝒐𝒏𝒐𝒓

Não acordei muito bem na manhã seguinte

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Não acordei muito bem na manhã seguinte . Sonhei com a minha mãe - fazia tanto tempo desde a última vez . Sempre que sonho com ela , parece que alguém aperta o pause no tempo . Acordo , fecho os olhos, e consigo sentir o cheiro de café enchendo a casa , as risadas dela ecoando pela sala , como se ela tivesse ali , ainda comigo.

Perder uma mãe muda tudo . Passamos o resto da vida nos perguntando o que poderíamos ter feito de diferente, se ela se orgulharia da pessoa que estaríamos nos tornando. E , no meu caso , se perguntando se havia algo mais que eu poderia ter feito .
Nunca falei sobre isso com ninguém, mas a verdade é que sempre me culpei pela morte dela. Quando me tranquei no quarto , tentando juntar os cacos depois de tudo que passei com o Lucas , não percebi que estava perdendo ela também.

Não notei quando ela parou de sair de casa e preferiu ficar no quarto, mergulhada em livros , não percebi que aquela tosse baixa que eu escuta sempre a noite, não era só pigarro . Passei tanto tempo de luto pela parte de mim que o Lucas quebrou , que não consegui enxerga-la .. não do jeito que ela realmente estava ,ela sempre seria uma fortaleza pra mim , indestrutível. Não vi que essa fortaleza estava começando a rachar , até o dia em que ela desmoronou de vez .

Lembro de tudo , como se tivesse acontecido ontem . Depois de meses sem sair de casa , decidi voltar ao tanque pra batalhar . Ganhei a edição e voltei , ansiosa pra contar a novidade para ela . Mas , assim que entrei , a primeira coisa que vi foi o corpo dela caído no chão . Um rastro de sangue seco pelo nariz , outro pela boca , eu paralisei ... Não era só o sangue, ela estava tão fraca , tão magra .. como eu não tinha visto isso antes ?

Naquele instante, a culpa me invadiu como uma onda que não tinha como parar . E se eu tivesse ficado em casa só mais um dia ? , e se eu tivesse prestado mais atenção nela e menos em mim ? , talvez eu tivesse percebido que ela está lutando contra um câncer, sozinha, na reta final .

Hoje , tudo que me resta são esses "e se " que nunca terão resposta . A única certa que carrego é que nunca , enquanto eu viver , vou me perdoar por não ter estado lá quando ela precisou de mim .

Estava com  o coração apertado depois do sonho, ainda imersa nas lembranças da minha mãe. Era como se as paredes do quarto, os lençóis, o silêncio, tudo estivesse carregado daquele peso.

Antes que eu pudesse afundar de novo nessas memórias, Apollo se mexeu ao meu lado. Foi um sobressalto, como se o corpo dele tivesse acordado em choque. Ele abriu os olhos de repente, respirando rápido. Aquele despertar brusco mexeu comigo; era exatamente como eu acordava depois dos sonhos pesados, daqueles que traziam à tona os traumas que tanto tentava enterrar. Era estranho ver alguém que parecia tão seguro e firme passar por algo assim, como se ele também tivesse seus próprios fantasmas.

– meu bem , o que foi? – perguntei, me apoiando de leve em seu ombro, sem saber ao certo se deveria mesmo perguntar.

Apollo olhou para mim, os olhos ainda confusos, como se estivesse tentando se localizar. A expressão dele mudou rápido, passando daquela vulnerabilidade para a serenidade de sempre. Ele sorriu, só de leve, como se quisesse me proteger.

Mil Versos -apollo McOnde histórias criam vida. Descubra agora