Ontem tinha sido incrível. Eu e Kakau bebemos demais, cantamos pagode até perder a voz, fizemos uma enchurrada de stories. Foi tudo perfeito. Eu realmente precisava disso: uma pausa com a minha melhor amiga, esquecendo um pouco as coisas pesadas, só nós duas aproveitando juntas, como se o mundo lá fora não existisse.
Depois do barzinho, voltamos para casa e capotamos. No dia seguinte, o cenário clássico: a ressaca me matando, metade do dia só à base de Coca-Cola gelada e muita água. Kakau tinha ido fazer bronze – ela vivia falando disso desde que me visitou no Rio, mas nunca achava um lugar bom aqui em São Paulo. Hoje encontrou um, e foi. Insistiu para eu ir junto, mas... eu não quis.
A verdade é que, anos atrás, eu sempre estava com a marquinha em dia. Era minha assinatura, meu jeito de ser. Mas depois do Lucas… eu simplesmente não consigo mais. Acho que posso adicionar essa também à lista de coisas que ele destruiu em mim.
Saí do banheiro enrolada na toalha, passei em frente ao espelho e parei. Fiquei me olhando. Qualquer garota adoraria ter um corpo como o meu: magra, barriga reta, peito pequeno, bunda grande. Eu amava meu corpo. Amava mesmo. Quando morava em Caxias, eu andava pra lá e pra cá de top de biquíni e short jeans nos dias quentes, mesmo longe da praia. O calor não me impedia de mostrar a barriga. Eu me sentia livre, segura. Mas aí veio o Lucas... e aos poucos, ele foi apagando essas coisas de mim. Quando me dei conta, já fazia mais de um ano que eu não fazia uma marquinha, quando antes fazia toda semana. E, se eu questionava, ele dizia que eu queria me exibir, e isso sempre terminava em briga. Essas brigas... acabavam sempre com algo quebrado – e eu, com marcas pelo corpo. Como essa cicatriz que tenho no peito.
Parei, respirando fundo, e abri a toalha, mas não aguentei ficar nem cinco minutos me olhando. Aquela visão era demais para mim. Me fazia questionar como eu deixei tudo aquilo acontecer, como não enxerguei antes. E, nesses momentos, a culpa caía em cima de mim como um peso insuportável. Por que eu simplesmente não fui embora?
Vesti a roupa e sentei na cama, deixando as lágrimas caírem. Chorei pela lembrança das agressões, pelas cicatrizes que ficaram. Chorei pelo peso da memória do corpo dele sobre o meu, pela minha antiga autoconfiança que morreu no meio daquele pesadelo. E, no fim, chorei porque sabia que, lá no fundo, talvez eu nunca deixasse de me odiar por não ter escapado antes.
Demorei quase uma hora até conseguir me acalmar. Respirei fundo e peguei o celular para responder as mensagens do Apollo.
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Mil Versos -apollo Mc
Storie d'amoreleonor era uma das maiores mcs do rio de janeiro, era apaixonada pelo que fazia , e recentemente foi considera a rainha do tanque , por ser a MC feminina com mais títulos naquela batalha , Léo conheceu a cultura através do seu irmão neo , depois de...