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Pensou no que Alfonso dissera sobre o trabalho sair caro. Ainda bem que economizara bastante na época dos espetáculos de bale. Por sorte não levara uma vida extravagante nos últimos anos. E tinha o jeito da mãe para os negócios, sem dúvida.

As economias haviam crescido, e ainda tinha o dinheiro da herança dos avós. E se sentisse que os recursos estavam diminuindo muito depressa, poderia fazer algumas apresentações com a companhia de bale, porque essa porta ficara aberta.

Na verdade, pensou Anny, com todas as semanas de reforma pela frente, até que seria aconselhável trabalhar e ganhar mais algum dinheiro. Estava acostumada a ter uma vida agitada e produtiva. Uma vez iniciadas as obras, nada haveria a fazer ali, enquanto os operários transitassem o tempo todo.

Seria fácil, pensou, ir à Nova York para trabalhar e voltar para a casa dos pais, onde ficaria instalada até o término das obras. Ensaiar, atuar e regressar para sua cidade.

Sim, sorriu consigo mesma, essa talvez fosse a melhor solução no momento.

Mas, de imediato, queria ver seu plano começar a tornar-se realidade.

- Anny? - Alfonso surgiu com a jaqueta na mão. - Está frio aqui fora.

- Um pouco. Esperava que nevasse. Quase aconteceu no outro dia.

- Contanto que a neve não chegue a um metro.

- O quê?

- Nada. Continue a pensar em seus projetos.

Com um gesto automático, colocou a jaqueta sobre os ombros de Anny, erguendo os longos cabelos para ajeitar a gola. Pareciam fios de seda em suas mãos, pensou consigo mesmo.

Ainda sentia a maciez da cabeleira loira, quando ela voltou a cabeça e o encarou.
Bem, pensou Anny com os olhos brilhantes, afinal ele estava interessado. E sentiu o coração acelerar.

- Por que não vamos até a esquina tomar um café? - Voltou a dar o primeiro passo, como se fosse um teste para os dois. - Podemos discutir... o tamanho do balcão da cozinha.

Alfonso voltou a sentir a mesma excitação sensual que ela provocara na loja de brinquedos.

- É a mulher mais bonita que já conheci.

- Como me pareço muito com minha mãe, agradeço em meu nome e no dela. Quanto a você... também é muito bonito. Mal consigo tirar os olhos de seu rosto - acrescentou com ousadia.

Alfonso sentiu a garganta seca. O que acontecera com as mulheres desde que saíra de circulação? Quando haviam começado a seduzir os homens em alpendres no meio da tarde? Seus pensamentos ficaram sem resposta.

Sentia o vento frio de dezembro fustigar-lhe o rosto, misturado ao calor intenso nas veias.

Tentando proteger-se, segurou-a pelos braços. A jaqueta deslizou dos ombros delicados, e ele sentiu a rigidez dos músculos bem exercitados sob o tecido da blusa.

Os olhos de Anny eram da cor do céu, pensou Alfonso. Porém misteriosos como uma noite sem luar. Bastaria inclinar a cabeça ou, ainda melhor, erguê-la do chão, e encontraria a maciez dos lábios sensuais e arrogantes. Mas ocorreu-lhe a idéia fantástica de que poderia queimar a boca como se a encostasse em ferro em brasa, e isso era muito perigoso.

- Não estou acostumado a receber elogios.

Anny ergueu-se na ponta dos pés e deu-lhe um leve e rápido beijo nos lábios. As mãos fortes apertaram-lhe os braços, quase fazendo-a gritar. Achando graça da tensão dele, voltou a tocar o solo com o pés.

- Você não pode fazer isso.

Assim dizendo, Alfonso a soltou e abaixou-se para pegar a caixa de ferramentas, maldizendo o tremor nas mãos, que não conseguia controlar.

I really like youOnde histórias criam vida. Descubra agora