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Foi difícil não ceder à tentação de ir visitar a obra. Ela queria ver Alfonso. Tentou distrair-se e passou a tarde dando e recebendo telefonemas a respeito do anúncio que mandara publicar sobre a escola de bale.

A Escola de Dança Portillo seria inaugurada em abril, e já tinha seis alunas em potencial. Haveria uma entrevista com o jornal local na semana seguinte. Isso, Anny tinha certeza, geraria mais interesse e mais alunas.

Dentro de algumas semanas, pensou, estacionando junto à picape de Alfonso, em frente à casa dele, uma nova fase começaria em sua vida profissional. E não pretendia deixar o lado pessoal para trás, concluiu.

Alfonso veio abrir a porta descalço e com a mão suja de lápis de cera, e o fato de Anny achar isso adorável e sexy demonstrava o quanto estava apaixonada.

- Olá. Desculpe vir sem avisar, mas tenho uma coisa para Arthur.

- Tudo bem - replicou Alfonso, limpando as manchas de lápis nas mãos. - Estamos no meio... Venha para a cozinha que mostro. Mas aviso que está uma bagunça,

- Trabalhos de escola são sempre assim.

Alfonso ficou surpreso ao ver que Anny se lembrava que Arthur tinha um trabalho de escola. Será que falara demais a respeito? Não se lembrava, achava que apenas mencionara o dever de casa.

Anny entrou na cozinha primeiro e relanceou o olhar em volta.
Arthur estava ajoelhado em uma cadeira junto à mesa, inclinado sobre uma grande folha de cartolina e preenchendo com lápis de cera o contorno de um bicho que parecia um porco... segundo o conceito de Salvador Dali ou Picasso. Vários livros estavam abertos sobre a mesa, mostrando figuras de dinossauros, além de outras tiradas do computador. Havia também uma série de pequenos bonecos de plástico e de borracha, e uma infinidade multicolorida de lápis e canetas.

Um par de botas de trabalho e outro de tênis infantis estavam jogados a um canto.
Uma jarra com um líquido vermelho-vivo estava sobre o balcão, e o mesmo tom borrava os lábios de Arthur, o que fez Anny concluir que não se tratava de tinta, mas de suco.

O menino ergueu o olhar, e saudou:

- Olá, Anny. Estou fazendo dinossauros.

- Já percebi. E de que tipo?

- É um... sauro não sei o quê. Está aqui no livro. Viu? Eu e o papai não desenhamos muito bem.

- Mas o colorido está ótimo - replicou ela, admirando a cabeça verde do desenho.

- Preciso pintar dentro das linhas, senão vai borrar.

Anny apoiou o queixo no alto da cabeça de Arthur e analisou o cartaz.
O menino intitulara o tema de Parada dos Dinossauros, e as bestas seguiam em uma espécie de procissão, como se dançassem.

- Está fazendo um trabalho tão bem-feito que nem sei se vai precisar da ferramenta que eu trouxe.

- É um martelo?

- Não - respondeu Anny, enfiando a mão na sacola que trouxera e retirando o brinquedo. - É um predador mortal.

- É um tiranossauro! Olhe, papai! Esse come todo mundo!

- Assustador - concordou Alfonso, pousando a mão no ombro do filho.

- Posso levá-lo para a escola? Olhe! Mexe os braços, as pernas e a cabeça! A boca também abre! Posso? E aqui está um livrinho.

- Um manual que explica onde, como e quando viveu, e como comia tudo que encontrava pela frente - apressou-se Anny a dizer.

- Ótimo. Não vai agradecer?

- Obrigado, Anny. É demais!

- De nada. Que tal me dar um beijo?

Arthur riu e cobriu o rosto com as mãos.

- Não...

- Então vou beijar seu pai.

Assim dizendo, voltou-se para Alfonso antes que tivesse tempo de reagir e beijou-o na boca com firmeza.












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