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- Sem dúvida transformou aquele casarão velho - comentou Anny, entrando na cozinha. - Veja quem chegou, Arthur!

O menino sorriu, tomando um gole do chocolate.

- Olá, vovô e vovó. Estava brincando com Anny.

Era igual ao pai quando criança, pensou Luiz, e seu coração encheu-se de carinho como sempre acontecia ao ver o neto. Perguntou:

- Onde deixa a vaca que dá chocolate, parceiro?

- Oh! Deixamos no quintal - replicou Anny -, e tiramos seu leite duas vezes por dia. Já vem com chocolate.

- Anny tem brinquedos em casa - explicou Arthur. - A mãe dela é dona de uma loja inteira de brinquedos! Ela disse que no meu aniversário iremos lá e poderei escolher um presente.

- Que maravilha - murmurou Helena, lançando um olhar perscrutador para Anny. - Como vai sua mãe?

- Está bem, obrigada.

Helena aprovou o modo como a jovem preparara a mesa para o lanche. Com elegância, mas simplicidade. E aprovou o gesto dela ao entregar um guardanapo para Arthur limpar a boca.

Tinha potencial para ser uma boa mãe, concluiu a senhora. E seu netinho precisava disso. Quanto a Anny ser uma boa esposa, teria de verificar mais tarde, concluiu. Disse em voz alta:

- Todos estão comentando sobre sua escola de bale. - Ruborizou-se ante o olhar de desprezo do marido. - Deve estar muito animada para começar!


- Sim. E já tenho várias alunas inscritas. As aulas deverão começar em poucas semanas. Se souber de alguma mãe que esteja interessada em bale para sua filha, gostaria que fizesse um pouco de publicidade para mim.

- Shepherdstown não é Nova York - cortou Luiz com secura, servindo-se de açúcar.

- Está enganado - replicou Anny com delicadeza e serenidade, embora tivesse percebido o sarcasmo na voz do Sr. Herrera - Adorei morar em Nova York e trabalhar lá. E claro que ajudou muito ter parte da família morando lá. Gostei de viajar, conhecer novos lugares, ter a oportunidade de dançar em grandes teatros. Mas Shepherdstown é meu lar e onde desejo ficar. Acha que o bale é absurdo aqui?

Luiz deu de ombros.

- Não entendo dessas coisas.

- Mas eu sim. E acho que uma boa escola de dança será algo maravilhoso em qualquer lugar. Somos uma cidade pequena, é claro - acrescentou, bebericando café -, mas temos uma universidade também, que traz pessoas diferentes de todos os lugares.

- Posso comer um biscoito? - perguntou Arthur.

- Por favor? - emendou a avó.

- Por favor? - repetiu ele.

Anny levantou-se, mas parou a meio caminho, ao ver Alfonso pelo vidro da porta dos fundos. Acenou e foi abrir.

- Levei um susto!

- Desculpe - replicou ele um pouco sem fôlego, mais pelo nervosismo que pela corrida que dera até o quintal da casa. - Tentei telefonar antes - disse, acenando para os pais. - Mas não estava com o celular.

- Dissemos que viríamos buscar o menino às três e chegamos no horário - falou Luiz.

- Sim, mas mudei um pouco os planos - replicou Alfonso, olhando para o filho, sentado com os olhos no prato de biscoitos e o queixo quase grudado no peito. - Divertiu-se com Anny, Arthur?

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