69

1K 73 2
                                    

Foi um tiro certeiro, e Alfonso teve de lutar para não rir. Sentia-se como um peixe fisgado no anzol. Tentou de novo:

- Não me leve a mal, mas não gosto muito de bale.

- Não diga! - Anny sorriu, com olhar maroto. - A qual você assistiu?

- Não importa. Não gosto.

- Então pense deste jeito: terá a oportunidade de levar Arthur a Nova York, terão dois dias inteiros para ficar juntos, contra apenas duas horas enfadonhas no teatro. Não é um mau negócio. E, além do mais, nunca me viram dançar. - Entrelaçou os dedos nos de Alfonso. - Ficaria muito feliz se vissem.

Alfonso arqueou as sobrancelhas e olhou para as passagens.

- Atingiu todos os flancos, não é?

- Acho que sim. Então estamos combinados?

- Espere até Arthur saber que viajará de avião pela primeira vez na vida. Vai ficar eufórico!


O menino ficou mais do que contente. Quando chegou a hora de embarcar, na sexta-feira, não cabia em si de excitação.

- Pai? Não pode pedir para Pancho viajar conosco? Vai ficar assustado naquela caixa.

- Já lhe disse que não é permitido. Pancho ficará bem, prometo. Lembre-se que tem seus brinquedos para passar o tempo, e mais dois cães que estão viajando junto. Poderá fazer amizade.

- Sim, acho que tem razão. - Os olhos do menino estavam arregalados de emoção e excitação ao entrarem na aeronave. - Olhe - sussurrou para o pai. - Ali estão os pilotos.

O comissário de bordo, experiente, logo percebeu que era a primeira viagem da criança e convidou-o a ver a aparelhagem de vôo. Também deu-lhe uma pequena valise da empresa aérea.

Quando chegou a hora de sentar e afivelar o cinto de segurança, Arthur já decidira que seria piloto.

Nos cinqüenta minutos seguintes, cravou o pai de perguntas, sempre com o nariz pregado na janela do avião. Quando desembarcaram, Alfonso sentia as orelhas pegando fogo mas, precisava admitir, Arthur estava se divertindo como nunca.

No momento, pensou Alfonso, só teria de enfrentar a numerosa família de Anny. Aquilo, por si só, era uma dor de cabeça, além da obrigação de assistir ao bale.
O que estou fazendo aqui?, perguntou-se em pensamento, sentindo uma onda de pânico. Um fim de semana em Nova York. Um espetáculo de bale. Por todos os santos do céu, por que não estava em sua casa, fazendo planos para o trabalho de segunda-feira e comendo uma pizza no sábado?

Por causa de Anny, acabou admitindo, em vão tentando aplacar o desconforto. Ela conseguira mudar aquelas quarenta e oito horas de sua vida.

Empurrando o carrinho de bagagem com uma mão e segurando Arthur com a outra, saiu do portão de desembarque. Ordenou a si mesmo para ficar calmo. Seriam apenas dois dias. Procurou por Anny, mas ao ver um homem muito alto e louro acenar, tentou, de modo desesperado, pôr as idéias em ordem e lembrar-se de quem era. Sim, lembrou-se, aliviado. Era o cunhado de Anny, mas como se chamava?
Porém o gigante louro facilitou as coisas, dizendo:

- Jack Duarte. - Pegou as malas da mão de Alfonso. - Vão ficar na nossa casa. Anny queria vir, mas ficou presa nos ensaios.

- Agradecemos muito pela gentileza. Poderíamos ter tomado um táxi.

- Não tem problema. Mais alguma bagagem?

- Só Pancho.

- Certo. - Sorrindo, Jack apertou a mão de Arthur. - E bom revê-lo. Max está muito animado, esperando por você. Lembra-se dele? Conheceram-se no Ano-Novo.

I really like youOnde histórias criam vida. Descubra agora