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— Claro que não. Mas quanto mais os problemas aumentavam, mais reagíamos. Conseguimos vencer. Centenas de vezes entrei em pânico e pensei em ir embora, para que Livia pudesse retornar ao lar da família, onde teria todo o conforto.

— Mas não fez isso. Permaneceu firme.

— Livia me amava — replicou Alfonso com simplicidade. — O dia em que Arthur nasceu fiquei na sala de espera, desejando estar a quilômetros de distância. Mas era muito importante para minha esposa que estivesse ali ao seu lado. O bebê mudou tudo. Nunca imaginei que se pudesse amar tanto um ser tão pequeno. Arthur completou o trabalho de me transformar em um homem. Livia e Arthur mudaram minha vida.

Os olhos de Anny se marejaram de lágrimas e ela não conseguiu conter o choro.

— Desculpe-me — disse Alfonso, um tanto aborrecido. — Não sei o que aconteceu comigo para falar tanto assim.

— Não. — Anny balançou a cabeça, sem conseguir dizer mais nada.
No íntimo se amaldiçoava, pois sabia que se apaixonara por Alfonso Herrera. O que fazer? Questionou-se, inquieta. Por fim, conseguiu dizer:

— Pode me dar licença um instante?

Correu para o banheiro, a fim de lavar o rosto.

Com vontade de bater a cabeça na parede, Alfonso levantou-se e começou a andar de um lado para o outro. Sentia-se um perfeito idiota. Abusara do gesto generoso e meigo de Anny, fizera com que lhe preparasse um jantar romântico, e ele transformara o encontro em uma maratona depressiva sobre seus problemas do passado. Fizera-a chorar.

— Muito esperto, Herrera! Talvez possa encerrar a noite com chave de ouro, contando como seu cachorro morreu quando tinha dez anos. Isso seria um encanto! — falou em voz baixa, com raiva.

Imaginou que Anny iria se despedir logo. Então começou a tirar a mesa a fim de facilitar-lhe a saída.

— Me perdoe — disse ao ouvir os passo leves de volta. — Sou um imbecil, despejando toda essa amargura em você. Pode deixar que lavarei tudo e...

Parou de falar e ficou imóvel quando sentiu os braços de Anny enlaçando-o por trás, e a cabeça graciosa repousando em suas costas.

— Herrera, tenho o sangue forte dos eslavos. Forte e sentimental. Gostamos de chorar. Sabia que meus avós escaparam da União Soviética quando minha mãe era criança? Minha tia Rachel foi a única que nasceu nos Estados Unidos. Caminharam a pé pelas montanhas, com três filhos pequenos, até chegarem à Hungria.

— Não sabia disso.

Alfonso voltou-se devagar e fitou-a.

— Estavam com frio, fome e medo. E quando vieram para os Estados Unidos, um país estranho, com uma língua e costumes diferentes, estavam pobres e sozinhos. Mas tinham um objetivo por que lutar. Já ouvi essa história centenas de vezes, e sempre me faz chorar. E me faz sentir orgulhosa também.

Afastou-se e foi colocar os pratos na pia.

— Por que está me contando essas coisas, Anny?

— A coragem tem diferentes formas, Alfonso. Existe a força dos músculos e a do amor, que vem do coração. E com esta, pode-se fazer tudo na vida. E vale algumas lágrimas sentimentais.

— Sabe de uma coisa? Até há pouco imaginava que esse seria um dia que nunca mais iria querer lembrar, mas você mudou tudo, Anny.

— Obrigada. Vamos fazer o seguinte: depois de lavar a louça podemos dançar. — Era hora de clarear o ambiente, pensou. — O modo de um homem dançar explica muito a seu respeito, e ainda não o testei nessa área.

Alfonso tomou-lhe os pratos das mãos e disse:

— Vamos dançar?

I really like youOnde histórias criam vida. Descubra agora