Juan Portillo, um homem enorme com uma cabeleira acinzentada, estava parado no meio do salão destinado às aulas de bale.
- O espaço é bom. Minha neta conhece o valor do espaço. Fundações sólidas - comentou, deixando Alfonso sem saber se estava se referindo ao prédio ou à educação de Anny.
Pascual, o filho mais velho de Franco, estava de frente para a janela.
- Anny vai reviver a infância aqui - disse ele. - Bom para ela. E... - Voltou-se, com um sorriso - ...as pessoas virão para ver as bailarinas. Publicidade. Minha sobrinha é uma garota esperta.
Ouviram-se passos na escada. Alfonso não fazia idéia de quantos o haviam acompanhado. Pareciam ser todos da comitiva de Pascual, mas era impossível distinguir uns dos outros, já que todos tinham feições muito parecidas.
Não estava acostumado com família numerosas, com aquele vozerio e tumulto, mas simpatizava com os Portillo.
- Papai! Suba até aqui! Precisa ver isso. É maravilhoso!
- Meu filho Fred - explicou Pascual piscando o olho. - Gosta de coisas antigas. - Então, vamos subir. - Juan deu um tapa, que pretendia ser amigável, nas costas de Alfonso, mas que quase o fez perder o equilíbrio. - Veremos o que está fazendo neste prédio grande e antigo para alegrar e proteger minha menina. Anny é uma lindeza, não?
- Sim - respondeu Alfonso com cautela.
- E forte.
Hesitante, Alfonso relanceou o olhar na direção de Pascual, pedindo ajuda, mas apenas reviu o sorriso caloroso.
- Sem dúvida.
- E tem bons ossos também - disse Juan, dando outra gargalhada sonora e piscando o olho para o filho no que devia ser uma brincadeira.
Começaram a subir as escadas.Alfonso não sabia como acontecera. Apenas planejara fazer uma visita rápida aos Herrera. Entretanto, fora sugado pela família. Não se lembrava de já ter visto antes tantas pessoas reunidas no mesmo lugar e à mesma hora. E todos eram parentes entre si.
Já que sua família era constituída apenas por ele, Arthur, seus pais, três casais de tios e seis sobrinhos espalhados no sul do país, o volume de gente no clã Portillo era espantoso. Ele não compreendia como sabiam quem era quem. Eram todos bem-apessoados, simpáticos, extrovertidos e inflamados. A casa estava tão apinhada de gente, comida, bebida, música, que, apesar de ter ficado até as oito horas da noite, mal conseguira trocar duas palavras com Anny.
Fora arrastado para a obra e interrogado sobre seus planos. Por certo não era tão tolo para pensar que as perguntas só diziam respeito à reforma. A família de Anny fizera uma verdadeira investigação sobre sua vida. A de Livia fizera o mesmo, lembrou-se. É claro que não com tanto bom humor e simpatia, concluiu Alfonso, mas o objetivo era o mesmo.
Será que esse sujeito é bom o suficiente para nossa princesa? No caso de Livia a resposta devia ter sido um redondo "não". O ressentimento de ambas as partes sempre empanara o relacionamento feliz do casal, como uma sombra nefasta.
Porém, a impressão de Alfonso era de que, no caso dos Portillo, o veredicto ainda não fora dado. Nada do que fizera para provar que não tinha a intenção de raptar a bela dançarina os impedira de interrogá-lo sobre todos os aspectos de sua vida.
Alfonso felicitou-se por ser sozinho. Pretendia continuar assim, pensou com seus botões.
A festa terminara, graças a Deus, os feriados de fim de ano também. Poderia voltar ao trabalho e tratar Anahí Portillo apenas como cliente. Nada de intimidades entre eles, pensou com determinação.
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I really like you
FanfictionEla faria com que tudo fosse perfeito. Cada centímetro, cada recanto, cada detalhe seria elaborado do modo como desejava e visualizava, até que seu sonho se tornasse realidade. Afinal, contentar-se com menos do que a perfeição era perda de tempo. E...