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Abriu a porta e saiu. Ainda ofegava de raiva quando Alfonso foi encontrá-la alguns minutos depois.

Ficou em silêncio alguns instantes, observando Arthur ensinar Pancho a pegar uma bolinha vermelha.

- Peço desculpas pelo que aconteceu na sua casa.

- Minha casa já presenciou brigas de família, e espero que continue assim, porque faz parte da vida

- Mas teve razão de dizer que não devíamos brigar na frente de Arthur. - Ante o silêncio, enfiou as mãos nos bolsos. - Sempre brigamos, meu pai e eu.

- E precisa continuar sendo assim? Se já mudou alguns aspectos em sua vida, Alfonso, pode mudar outros. Só precisa tentar com vontade.

- Eu e meu pai somos como água e óleo, e sempre saem faíscas quando conversamos. E melhor mantermos distância um do outro. Não quero ter o mesmo tipo de relacionamento com Arthur.

- Ora! Olhe para seu filho. Não é um menino alegre, saudável e bem ajustado?

- Sim. - Alfonso sorriu ante a imagem de Arthur rolando na grama com o cãozinho.

- Sabe que é um bom pai. Dá trabalho, mas já conseguiu muito. Mas dará muito mais trabalho ser um bom filho para Luiz, porque existem muitas restrições.

- Não nos amamos.

- Errado. Se não houvesse amor entre vocês, não se magoariam tanto.

Alfonso deu de ombros. Anny não entendia, nem podia entender.

- Foi a primeira vez que o vi sem palavras diante de uma mulher. Você o desconcertou - disse com um sorriso.

- Ótimo. Agora trate de desculpar-se com sua mãe da próxima vez que a vir. Ela ficou muito nervosa.

- Nossa! Como você é brava! Posso brincar com meu cachorro primeiro?

Anny arqueou as sobrancelhas.

- Seu cachorro?

- De Arthur, mas eu e ele somos...

- Uma dupla - finalizou Anny. - Sei disso.



Anny fez seus planos e escolheu o momento certo. Sabia que estava sendo calculista, mas o que havia de errado nisso? A aproximação, o método... tudo isso era essencial para uma estratégia perfeita, pensou. Aproveitar-se da hora correta, quando Arthur estava na casa dos avós em uma noite de sexta-feira e Alfonso estava relaxado e contente depois de fazerem amor como loucos, era apenas uma questão de bom senso, concluiu.

- Tenho algo para você.

- Além do que já me deu? - brincou Alfonso. - Ganhei um jantar com vinho e fui para a cama com uma bela mulher. O que mais posso desejar?

Com uma risada tranqüila, Anny saiu da cama.

Ele gostava de observá-la se movimentar, e concluíra, há bastante tempo, que o bale deixava uma mulher com gestos graciosos. E sentia muito prazer em vê-la naquele quarto onde, até algum tempo atrás, dormia sozinho.

Estava acabando de consertá-lo depois que voltava do trabalho, à noite. As paredes tinham sido pintadas de um azul forte porque Anny gostava de cores vistosas. A madeira do teto e dos móveis fora lustrada.

Pretendia começar a arrumar as tábuas do assoalho em breve. Os outros detalhes, como as cortinas, ficariam para o final.

Mas, no momento, pensou Alfonso, satisfazia-se só em vê-la ali, a pele dourada destacando-se contra o fundo azul das paredes, e as chamas da lareira refletindo-se e executando uma espécie de dança sobre os braços e pernas bem torneados.






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