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Ficou imóvel, olhando para sua casa que surgia na colina à frente e que parecia estar esperando pelo próximo passo do dono. Não podia esperar demais, ponderou. Quando começava a construir, gostava de ir até o fim. E queria Anny ao seu lado, no projeto mais importante de sua vida.

A primeira coisa a fazer, decidiu, enquanto caminhava até a caixa do correio, era conversar com Arthur a respeito. O filho precisava sentir-se seguro, confortável e feliz. O menino adorava Anny, e talvez ficasse um pouco apreensivo sobre as mudanças que aconteceriam com o casamento, mas poderia tranqüilizá-lo, pensou Alfonso.

Conversariam à noite, depois do jantar, decidiu. Não agüentava mais a necessidade de acelerar os acontecimentos. Quando tivesse se entendido com Arthur, pensaria no modo de revelar seus planos a Anny.

Retirou a correspondência da caixa, e ia lê-la no caminho de volta para a picape, quando Anny o interceptou.

- Não esperava vê-la por aqui a esta hora do dia - disse, surpreso, jogando as cartas no banco da caminhonete.

Anny saiu do próprio carro e inclinou-se para pegar do chão o pedaço de corda que Pancho depositara a seus pés. Simulou uma breve luta com o cão, do tipo cabo-de-guerra, onde cada um puxava para um lado, e depois atirou o objeto para longe, a fim de manter o animalzinho ocupado por um certo tempo.
Observando-a brincar com tanta alegria e simplicidade, Alfonso mal conseguia esperar para despejar tudo que lhe ia no coração.

- Senti sua falta na escola - disse ela.

- Algum problema?

- De jeito nenhum! Sem problemas. - Aproximou-se e deslizou as mãos pelo peito de Alfonso, um gesto habitual que nunca deixava de excitá-lo. - Nem me deu um beijo de despedida.


- A porta de seu escritório estava fechada. Imaginei que estivesse ocupada.

- Então me dê um beijo agora. - Encostou os lábios nos dele, mas arqueou as sobrancelhas ao notar que Alfonso não se empenhava na carícia. - Poderia caprichar mais...

- Anny, o ônibus escolar vai chegar dentro de instantes.

- Mas pode fazer melhor - repetiu ela, encostando-se ao seu corpo com força.

Alfonso segurou-a pelas costas e beijou-a de modo apaixonado.

- Gostei mais assim - murmurou Anny ao final do beijo. - É primavera, e sabe o que os homens gostam de fazer na primavera, além de jogar beisebol?

Alfonso sorriu, fingindo inocência:

- Cortar a grama?

Anny soltou uma gargalhada, trançando os dedos atrás da nuca de Alfonso, enquanto sentia diminuir o mal-estar que a perseguira durante várias horas.

- Vou reformular a pergunta - disse, sorrindo. - Sabe o que uma moça gosta de fazer na primavera? Esta aqui, na sua frente, em especial?

- O que está tentando me dizer?

- Alfonso... - Anny mordiscou-lhe o lábio. - Quero que se case comigo.

Alfonso ficou imóvel, como se estivesse congelado. Um zumbido tomou conta de seus ouvidos, como centenas de abelhas furiosas. Chegou à conclusão de que ouvira mal, tinha que ser isso. Anny não podia simplesmente tê-lo pedido em casamento, quando ele passara os últimos minutos planejando como e quando abordar o assunto com ela.
Deu um passo atrás, para ganhar tempo.

- Não é muito lisonjeiro ficar me olhando desse modo, como se eu o tivesse ofendido - comentou Anny com expressão séria.

- De onde tirou essa idéia? - perguntou Alfonso, ainda achando que sonhava. Mas ali estava Anny a sua frente, e os batimentos descompassados de seu coração eram bastante reais. Além do mais, nos seus sonhos, era ele quem a pedia em casamento! - Droga! Uma mulher não intercepta um homem no meio do dia e o pede em casamento, sem mais nem menos!

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