Capítulo 10 - Perdida

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Parece que algo foi tirado de dentro de mim. Toda minha coragem de viver se esvai numa velocidade impressionante dia após dia. Si chama esse meu estado depressivo de "abstinência de James". E ela tem razão, pois já ouvi algumas histórias de pessoas que largaram algum vício, e nos primeiros dias, meses e até anos, elas não ficam nada bem. Só espero que essa minha crise passe logo, e que o sentimento que sinto por James, intricado dentro de mim, deixe de existir. É como se algo tóxico estivesse me impedindo de respirar, fazendo tudo doer. O amor, que um dia considerei o sentimento mais lindo e puro, está literalmente me matando. Depois de saber toda a história do caso amoroso dele, eu simplesmente não podia continuar com essa relação que só existia em meus pensamentos. Em pensar que todas as vezes que ele sumia, estava com a tal Stella... Isso me deixa profundamente enjoada. Imagens deles dois não param de povoar minha mente conturbada. Porque ele fez isso comigo? Porque fez eu me desprender de todas as minhas defesas, para depois me deixar assim, no chão, sem força alguma para levantar? E ainda por cima ele vai ser pai. É um baque grande demais para se aguentar. E mesmo que ele tenha dito o quanto queria ficar comigo e tudo o mais, eu simplesmente não consigo acreditar. Mas a pior parte disso tudo, é ter que fugir dele. Ele não podia só me deixar em paz? Mas não... Ele tem que me ligar todo o dia, mandar mensagens vazias dizendo que sente muito... Vir atrás de mim na escola, no trabalho... Todas as vezes, eu consegui correr dele, me engasgando em minhas próprias lágrimas, mas um dia eu não conseguirei mais, porque todo meu corpo clama por ele, de uma maneira desesperada. Como é difícil necessitar de algo que não se pode ter. Pois conhecendo James o pouco que eu conheço, na verdade depois de descobrir o segredo dele nem posso dizer que realmente o conheço, mas se ele for do jeito que eu acho, ele jamais vai escolher ficar comigo, ao invés de ficar com Stella e seu filho. É o certo a se fazer. Desenvolvi um ódio inumano dessa moça, sem nem a conhecer, mas a pobre não tem culpa. E se James escolhesse ficar comigo, não seríamos felizes, sabendo que Stella estaria em algum lugar, sem o dinheiro do marido para se sustentar, grávida e sem família. Deus, como pude me meter numa confusão dessas?

- Eve?

Pisco, assustada, e então me lembro que estou na casa de Si. Ela insistiu tanto para fazermos uma noite de garotas, que acabei cedendo. Por mais que minha vontade seja me encolher no sofá e chorar o pouco de lágrimas que me resta. Na escola, Keira minha amiga mais intima também tem feito de tudo para me animar, igual a Si, mas sem nenhum resultado. Sorrir parece algo que eu sou incapaz de fazer, mesmo quando acho algo engraçado, os cantos da minha boca se recusam a levantar. Até meus pais perceberam minha tristeza, mas nada fizeram achando ser frescura de adolescente. Se ao menos eles soubessem pelo que estou passando...

- Desculpe Si, estava distraída – digo, enquanto pego o copo de refrigerante de sua mão.

Ela sorri tristonha.

- Sabe, acabei de descobrir que estou com a despensa vazia, vou dar uma passada no mercado, afinal noite de garotas sem comida é como... Filme de ação sem mortes.

Que comparação. Apenas dou de ombros.

- Te espero aqui – murmuro, e tomo um gole do refrigerante que para mim é totalmente sem gosto, como tudo o que tenho comido ultimamente. Si e Keira são as únicas pessoas que sabem dessa decepção que tive, e sou grata a elas por não me olharem com pena.

Observo Si pegar sua bolsa vermelha que deve ter custado uma fortuna, presente de seu novo namorado. E eu nem tive tempo de saber o nome do cara que ela estava namorando antes desse.

- O Richard tem bom gosto pelo menos. Da até pra perdoar aquele sotaque esquisito, depois de um presente desse – comento. Com essa simples frase, os olhos de Si marejam. – O que foi? Vocês já terminaram?

Esta não é uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora