Capítulo 32 - Perseguido pelo passado

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WILLIAN

Eu nem sempre fui um completo babaca. Houve um tempo, em que eu era um garoto simples, ingênuo e apaixonado. Mas isso já faz tanto tempo, que eu mal consigo me lembrar. Ou melhor, eu tento não lembrar, porque ás vezes esquecer é melhor. Só que Diana é inesquecível, e justo quando eu achei que tinha conseguido colocar uma barreira entre minhas lembranças de uma adolescência feliz que envolviam a tão terrível e bela Diana, Eve entrou em minha vida, colocando tudo num completo caos.

Eu conheci Diana no ensino fundamental. Éramos apenas crianças, e mesmo sem ter nenhuma lógica isso acontecer, eu me apaixonei por ela. Eu sempre fui rico, então, é claro que eu estudava numa escola particular. Diana era o oposto de mim, pois sua família era extremamente pobre e o fato de ela estudar na mesma escola conceituada que eu, deveu-se ao milagre das bolsas escolares. E não parava por aí. Eu costumava ser bondoso, e Diana era uma criança má. Ela era teimosa, orgulhosa, esnobe... Enfim, ela era terrível, mesmo sendo uma criança. Mas eu conseguia enxergar o que ela era por debaixo da sua casca dura. E sua beleza era tão diferente... Foi impossível eu não me apaixonar. A partir daí foram meses correndo atrás dela. Irônico, o garoto mais rico e popular rastejando pela garota pobre bolsista. Até que ela se rendeu aos meus encantos. Então, mal tínhamos entrado na adolescência e já estávamos namorando. O amor existente entre nós, mudou um pouco seu gênio forte, e logo ela passou de detestável para suportável. Na verdade, anos mais tarde ela confessou que ela se fingia de maldosa e tantas outras coisas ruins na tentativa de se defender das demais pessoas que podiam pisar nela por ela ser pobre e ter a pele mais escura que a maioria dos alunos do colégio. Naquele dia eu não entendi realmente porque ela agia assim, mas infelizmente logo eu a entenderia. Defeitos a parte, foi com ela que eu comecei a viver a vida pra valer. E não digo isso só porque perdi minha virgindade com ela. Digo isso, porque ela fazia com que eu me sentisse vivo. Ela me fez entender que dinheiro nenhum podia trazer aquela coisa que faz o coração ficar apertado no peito por causa de tanta felicidade. Bom, em certos casos o dinheiro ajuda, mas o que faz acontecer mesmo, é o amor. E isso nós tínhamos de sobra um pelo outro. E mesmo ela sendo uma chata, e nada sendo perfeito, nós éramos felizes. O fato é que a família dela não gostava de mim, por achar que eu, por ser rico, estava apenas me aproveitando da inocente Diana. E digamos, que de inocente ela não tinha nada. Já a minha família a odiava completamente, por motivos que eu nem preciso ficar citando. O maldito preconceito. E não era só em nossas famílias que isso acontecia, a sociedade parecia não aceitar nosso relacionamento. Então, nos contentávamos em fugir da realidade em lugares pouco habitados e nos perder em nós mesmos. A última vez que eu a vi, estávamos voltando de um desses nossos passeios. Tínhamos acampado no alto de uma montanha. Ficamos lá por dois dias, com o vento no rosto e transando loucamente ao ar livre. No caminho de volta, começamos a discutir como sempre fazíamos por algum motivo idiota. Eu achei que logo ela ia esquecer que estava brava comigo por algo que eu nem havia feito. Achei, que ao chegarmos na minha casa íamos direto para o meu quarto e que ela ia tomar um banho de banheira, coisa que sempre a deixava fascinada, e que eu entraria na banheira e tomaria seu corpo para mim. Só que dessa vez, tudo foi muito diferente. Porque enquanto eu descia a montanha por uma trilha estreita acelerando meu jipe, eu estava concentrado demais na expressão de brava em seu rosto que a deixava ainda mais linda. E por causa disso, eu não vi a enorme pedra que estava no meio da trilha. Não tive tempo de desviar. E enquanto eu absorvia os impactos do jipe capotando ribanceira abaixo, percebi que Diana estava sem o cinto. É claro que eu percebi isso quando seu corpo foi arremessado para fora do carro, e foi caindo, caindo, se estraçalhando, até que eu o perdi de vista.

Quando eu acordei no hospital, não me dei ao trabalho de perguntar por ela. Eu sabia que ela estava morta. E ao contrário do que todos esperavam, eu não me desesperei. Não tinha forças nem para fazer um escândalo. Eu apenas desisti de viver. Chorei por três dias. Os médicos, viviam me dizendo como eu tinha sorte por não ter sofrido nenhum arranhão sequer. Sorte? Que merda de sorte é essa? Eu preferiria ter ficado todo estraçalhado se ao menos Diana ainda estivesse viva. E dia após dia, com isso repercutindo em minha mente, essa minha sorte de o meu belo rosto ter permanecido intacto, eu comecei a entrar no meu personagem. E quando eu saí do hospital, já era uma nova pessoa. Inalcançável no quesito sentimentos. Usando minha beleza para atrair o maior número de mulheres possíveis para depois usar seus corpos, sem sequer perguntar seus nomes. Tudo isso na tentativa desesperada de esquecer Diana. E foi assim que eu compreendi o que ela havia dito anos antes sobre fingir ser outra pessoa para se proteger. Eu estava fingindo ser outra pessoa, um babaca, um canalha, para fugir da constante lembrança do fantasma de Diana. Eu me sentia responsável por sua morte, o que tornava tudo mais difícil.

Esta não é uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora