Capítulo 13 - Desolado

566 42 7
                                    

JAMES

Parece um lindo sonho o que acaba de acontecer comigo. Chego em casa e tenho que me beliscar para ver se isso tudo é real. Minha tia, nem repara em minha chegada, como sempre concentrada na televisão, com uma garrafa de conhaque ao lado. Sempre me perguntei, como alguém pode acabar assim na vida, e depois que pensei ter perdido Eve, comecei a sentir ainda mais compaixão da minha pobre tia. As pessoas podem se perder mais facilmente do que se encontrar.

- Tia, a senhora está bem? – Pergunto, cauteloso. Pois dependendo do seu estado de embriaguez, ela pode ter reações bem explosivas a uma pergunta simples como essa. Sem obter resposta, me aproximo e percebo que ela está dormindo. Afago seus cabelos grossos e grisalhos, e me pergunto quando as coisas ficaram assim. E porque ninguém a ajudou quando ela ainda não necessitava da bebida dia e noite. Pego a garrafa de conhaque, quase vazia, percebo agora, e jogo o restante na pia. Em seguida vou até minha tia, e sem ter que me esforçar muito consigo ergue-la em meu colo, e levar ela até seu quarto. Depois de se certificar que ela está bem coberta e respirando, vou para a sala, desligo a televisão, e em seguida vou para meu quarto, afim de desfrutar a alegria de ter feito as pazes com Eve. A alegria de saber que ela me ama também. Graças a sua amiga, Sidney, eu tive a chance de um encontro com ela. Sem a possibilidade de ela fugir de mim. Quando a vi, encolhida junto ao sofá, assistindo ao canal rural, tive certeza que ela estava tal mal, quanto Sidney me dissera antes de deixar eu entrar em sua casa, e trancar a porta. Ninguém assiste ao canal rural. A não ser que a pessoa seja agricultora ou algo do tipo. Eu tremia tanto.... Nem sei como conseguia me firmar em pé. Confesso que achei que as coisas seriam mais difíceis. Eu não sabia ao certo o que esperar. Mas quando Eve por fim me encarou, percebi em seus olhos que ela queria aquilo tanto quanto eu, e então deixei meu coração falar mais alto e a beijei. Tinha tudo naquele beijo. Amor, raiva, tristeza, alegria. Senti lágrimas em meus olhos, quando ela por fim parou de lutar e se rendeu à paixão a nossa volta.
Procuro meu celular, afim de mandar uma mensagem para ela, dizendo o quanto não vejo a hora de nos vermos amanhã. Mas fico paralisado assim que a tela se acende. Eu havia deixado meu celular no silencioso, para que nada atrapalhasse meu reencontro com Eve, portanto não pude ver nenhuma das 18 chamadas perdidas de Stella. Fico preocupado com o que pode ter acontecido, e torço para que não seja nada grave. Dependendo posso aproveitar para lhe contar sobre Eve, e sobre a decisão que tomei.
Porém, enquanto escuto seu telefone chamando, tenho a sensação de que toda minha felicidade pode ser ameaçada.

- Onde você estava James? – Stella grita, em toda a sua costumeira histeria ao atender.

- Está tudo bem? – Eu me limito a perguntar.

- Está. Poderia estar melhor se você tivesse me atendido. George saiu, disse que não ia voltar hoje. A chance perfeita para você ter vindo dormir aqui... – seu tom de voz muda, para um tom mais choroso. – Essa gravidez está me deixando muito sensível, e carente.

Suspiro. É melhor eu falar logo.

- Stella, nós precisamos conversar.

- Então vem para cá, para eu ficar agarradinha a você.

- Não. É sério. Por favor, só escute o que eu tenho para te falar.

E então eu começo a contar tudo. Sobre o começo de minha infelicidade com ela, sobre eu ter conhecido Eve, sobre querer terminar, e não conseguir depois de saber da gravidez, e principalmente sobre eu ter decidido ficar com Eve, seguindo meus sentimentos. Ao final, estou quase sem fôlego, e Stella permanece muda do outro lado da linha.

- Stella, você está aí? Você escutou tudo o que eu disse?

Escuto seus soluços. Ai droga, essa será uma longa noite.

Esta não é uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora