Capítulo 17 - Destino Brutal

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Eu nunca havia ido em um velório. E apesar de essa experiência em hipótese alguma poder ser nada menos que terrível, eu não imaginava que poderia ser tão terrível assim. Eu não sei como James conseguiu dirigir por quase uma hora até chegar aqui em sua cidade natal. Quando descemos da moto, em frente ao prédio onde funciona o velório municipal, James parecia estar fora de si. Ele não estava sequer chorando. Parecia que uma calma inumana estava pairando sobre ele. Até que o carro funerário chegou com o corpo de sua mãe. Acredito que em toda a minha vida, eu não verei cena mais triste que aquela. A expressão no rosto de James, se transformando completamente, a dor, estampada em sua forma mais bruta em seus olhos... Eu, que deveria ser forte, e apoiá-lo nesse momento imensamente difícil, fraquejei. E chorei. Como eu poderia ser o pilar para mantê-lo firme, quando a dor dele é tão palpável que acaba doendo em mim também? Como eu posso ser forte, presenciando James debruçado sobre o caixão de sua bela mãe, chorando inconsolado, enquanto todas as suas forças se esvaem com o seu sofrimento? Eu me afastei. Não suportei presenciar aquilo. As lágrimas me assolaram com tamanha força, que eu comecei a me sentir enjoada. Quase corri para fora do velório. Me senti aliviada ao achar um banco, junto a uma árvore relativamente afastados de tudo aquilo. Minhas pernas já estavam ameaçando ceder. Preciso me acalmar. Preciso ser forte, e parar de chorar. Preciso voltar lá para dentro e dar á James o consolo que ele precisa. E ao mesmo tempo que me obrigo a focar nessas coisas, e me acalmar, as lágrimas não param de rolar por meu rosto. Deus, porque isso foi acontecer? Trêmula, pego meu celular, e com a visão embaçada, digito o número de Si. Ao primeiro toque ela atente.

- Eve, querida, pelo jeito a reconciliação foi boa, para você ter me ligado só agora – ela grita, e em seguida gargalha. Escuto a voz do seu namorado ao fundo, e posso até visualizar eles emboscados no sofá, assistindo TV enquanto ele distraidamente faz cócegas nela. Essa realidade feliz e descomplicada parece estar a milhares quilômetros de distância de mim, nesse momento.

- Na verdade – eu começo, tentando achar minha voz, que parece soterrada pelo nó em minha garganta... – Ai meu Deus Si...

- Eve – ela sussurra... – O que aconteceu?

Não consigo mais controlar meus soluços.

- Eve – Si grita. – O que você tem?

- É que... a mãe dele... A mãe do James... Ela morreu – consigo dizer, e mesmo longe, consigo ouvir um soluço vindo de dentro do velório, e julgo estar vindo de James. Preciso voltar lá.

Si fica alguns segundos muda.

- Isso é terrível – ela sussurra e percebo sua voz embargada. – Onde você está?

- Eu não sei ao certo. Eu me ofereci para vir no velório com James. Estou em outra cidade, não muito longe. Mas... eu não consigo ficar ao lado dele. Eu não consigo fazer isso Si... O sofrimento dele... É duro demais... Eu não consigo ver isso Si... Mas ele precisa de mim... – digo, desesperada, atropelando as palavras e engasgando em minhas próprias lágrimas.

Si suspira. Ouço um soluço.

- Escute – ela começa, falando devagar, tentado controlar sua voz tremula – Ele precisa mesmo de você Eve. Você vai ter que tirar forças de algum lugar. Fique ao lado dele. Pense em coisas boas, não sei... Mas é o que você tem que fazer agora.

- Tá – eu murmuro e começo a respirar fundo, na tentativa de me acalmar.

- Eu vou ligar pra sua mãe e dizer que você vai dormir aqui em casa. Prometo arranjar uma boa desculpa. E não volte para cá com ele. James vai precisar repousar depois de um baque desse. Eu te busco se for preciso, só descubra o endereço.

Esta não é uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora