O meu período de luto por James, parece que nunca irá passar. Apesar de saber que ele está vivo, é como se ele estivesse morto para mim, pois eu nunca mais o vi. Já faz mais de um ano. Eu realmente não sei como tenho conseguido sobreviver a cada dia. É um instinto mais forte que fala por mim, e mesmo que quando tudo o que eu desejo é ficar em minha cama, eu acabo me levantando. Sou lembrada periodicamente por Si, que eu tenho que me alimentar, beber água, até ir no banheiro. Eu simplesmente não sinto mais nada. Parece exagero e todos, parecem ter desistido de mim. Menos Si, Keira e Luna. Mesmo eu mal dirigindo a palavra a elas. A última informação que tive de James, foi a quase 7 meses atrás. Thomas me disse que ele tinha ido embora. Eu perguntei, para onde? Como? Com quem? Mas mesmo pelo telefone pude visualizar Thomas dando de ombros. Agora ele está por conta própria, foram as palavras que ele usou, para dizer que não tinha mais como saber do paradeiro do irmão. Nem Luna conseguiu mais falar com ele. Então, me centro em obedecer a ordens, como "Eve, tire habilitação... Eve, corte um pouco o cabelo e as unhas. Eve, tome banho, Eve, coma, Eve, respire..." E assim manter minha mente ocupada a fim de não sucumbir ao desejo de acabar com minha existência, como eu tentei dois meses após ser banida da vida de James, sem sequer uma escolha. Eu estava parada na cozinha da minha casa com as portas dos armários escancaradas, encarando o chão, onde todos os comprimidos que consegui reunir jaziam amontoados. Tirei um por um das embalagens metodicamente, e coloquei num copo. O copo ficou pela metade. Mas eu não queria sofrer enquanto morria. Tinha de ser rápido. Vasculhei os armários mais uma vez, joguei álcool etílico que achei sobre aquela mistura, e para garantir, entornei uma garrafa de conhaque, enquanto me forçava a engolir os comprimidos. Dessa vez, ninguém me encontrou. Era um sábado, todos tinha ido para a casa da minha avó, iam dormir lá. Eu não quis ir. Já tinha elaborado esse plano em minha mente. Enquanto as ânsias me dominavam e meu estomago e olhos pegavam fogo, eu fui andando para longe de casa. Não queria que achassem meu corpo no chão da cozinha. O mais ideal, é que eles nunca me achassem. Mas quanto mais me afastava de casa, mais uma vontade arrebatadora de viver, me invadia. E dessa vez, eu sabia que eu estava morrendo. Tive certeza, quando um líquido vermelho começou a escorrer pelo nariz em pequenos filetes, tive certeza, quando comecei a me debruçar sobre meu próprio corpo, convulsionando, e tive ainda mais certeza, quando deixei meu corpo cair barranco abaixo, sem sentir as dores da queda, nem estar acordada para ver se eu havia quebrado algo na chegada. E foi com uma mistura de decepção e alívio, que eu acordei. Eu não havia morrido afinal. Talvez nem para isso eu prestasse. Voltei para casa, grata por não ter ninguém para me recepcionar e consequentemente questionar. Fui para o banho, deixei a agua lamber minhas feridas e vomitei todo o remédio que tinha engolido, numa mistura marrom que eu julgava ter essa cor, graças ao conhaque.
Esse foi o pontapé inicial para meu vício em bebidas alcóolicas. Ás vezes eu tomava uma lata de cerveja na hora do almoço, o que não me deixava embriagada mas dava uma sensação mínima de paz. Ás vezes eu comprava umas garrafinhas de vodca de 50 ml, e entornava tudo de uma vez. Isso me deixava um pouco mais embriagada, mas nada que alguém pudesse perceber. Nessa névoa de bebida, acabei terminando os estudos, mas não fiz formatura por ser doloroso demais imaginar que era James que seria o meu par. Ao invés disso, menti que ia para casa de Sidney, e passei a noite na praça central, sentada no banco onde toda minha história com James começou, bebendo incansavelmente as 2 garrafas de vodca, dessa vez de 1 litro, que eu decidi comprar. Acabei de alguma forma, cerca de 2 da manhã, indo parar na casa de Sidney. Não me lembro direito do que aconteceu em seguida. Lembro da agua gelada do chuveiro me despertando, e de Sidney murmurando palavras a Richard, nas quais eu captei, "irracional, perdida", e outras denominações pro que estava sendo resumido meu comportamento e minha vida.
Luna acabou se tornando minha parceira no copo. A ausência de James parecia ter causado um estrago tão grande na vida dela quanto na minha. Pudera, ele era seu melhor amigo. Há bastante tempo. E ela ainda nutria outros sentimentos por ele, mesmo que dissesse já ter superado. Algumas noites, saíamos e amanhecíamos na rua, bebendo o que nos oferecesse, e eu me sentia momentaneamente feliz enquanto virava uma dose de... Gin? Talvez Martini? Não importava. Contanto que aliviasse minha dor, que me invadia em cheio toda vez que eu acordava, e me acompanhava quando eu ia me deitar. Si desaprovava totalmente meu comportamento, mas ela não podia fazer muita coisa. Eu estava beirando os 18 anos, tinha liberdade para fazer o que bem entendia. E se meus pais não conseguiam mais me barrar, quem mais iria conseguir? Essa, foi uma noite particularmente agitada. Luna e eu fomos a um pub assim que saí do trabalho, tomamos muita vodca com seus amigos barbudos e estranhamente atraentes, e em seguida, fomos para uma boate onde dançamos até de madrugada e depois um cara que eu não lembro o nome me trouxe até em casa. Ele foi extremamente legal em não tentar me agarrar. Mas eu não sou atraente para ninguém mesmo. O luto, depois de tanto tempo, foi se transformando em frustração, raiva, revolta, libertando em mim um comportamento libidinoso, da qual eu não me orgulhava quando acordava sóbria e de ressaca, mas que eu repetia sem pudor todas as noites. Mas eu ainda não estava pronta para o próximo passo. Para ficar com outro cara, beijar outra pessoa que não fosse James. Mas esse dia ia ter que chegar, nem que eu me forçasse a fazer isso.
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Esta não é uma história de amor
DragosteEve é uma adolescente comum. Sem grandes perspectivas acerca do futuro, ela leva uma vida monótona, e secretamente se pergunta se um dia alguém irá se interessar por ela. Até que um dia, de uma maneira nada convencional ela se vê estranhamente atraí...