SIDNEY
Eu estou muito, muito puta da vida. Essa é uma expressão que eu ouvia constantemente da minha mãe adotiva. E acho que significa estar furiosa com algo. E nesse momento eu estou furiosa com Eve. E chateada ao mesmo tempo. É como uma traição sua melhor amiga ter um caso com o amor da vida dela, e não te contar. Mas nesse lance de amizade a gente tem que saber como lidar com certas situações. E com Willian, parado á nossa frente, aparentemente controlando-se o máximo para não explodir, acho que não é uma boa hora para dar chiliques. Portanto eu decido não berrar com Eve e dar uns bons tapas nela. Ao contrário, extraio uma calma interior, que na verdade eu nem tenho, e tento tomar conta da situação.
- Acho que não é o momento certo para fazer esclarecimentos. Eve vai para minha casa, e amanhã quando todos estiverem mais calmos, vocês podem conversar – eu digo, enquanto observo o maxilar de Willian tremendo. Por favor, não chore. Homens chorando é uma coisa comovente além da conta. Mas logo percebo meu engano ao achar que justo Willian pudesse abrir o berreiro. Ele começa a ficar vermelho, e eu sei que é por causa da sua raiva. Começo a puxar Eve pelo braço, visto que ela parece totalmente fora de si. Seus olhos estão desfocados, enquanto grossas lágrimas não param de rolar por seu rosto. Quando vou passar por Willian, ele segura firme demais na minha opinião, o braço de Eve. Isso parece desfazer seu choque, o que não é bom, visto que ela parece ainda mais atormentada.
- Você não vai a lugar algum antes de me explicar o que está havendo – Willian diz entredentes.
Eu me coloco entre ele e Eve, e tiro bruscamente sua mão do braço de Eve.
- Ela vai para minha casa, e vai conversar com você amanhã – eu digo firmemente. Espero que eu não tenha que sair na porrada com ele.
- Porque você se acha no direito de responder por ela? – Willian grita.
- Eu não me acho nesse direito – eu rebato. – Sendo a melhor amiga dela, eu tenho totalmente esse direito. Amanhã, Willian. Conversar de cabeça quente não trará benefícios pra ninguém.
Aproveito a brecha, e puxo Eve rapidamente, conseguindo passar por Willian. Sinto ele vindo atrás de nós, então praticamente corro para fora do apartamento luxuoso deles. Ao passar pela cozinha, quase decido deixar eles conversarem, para eu poder comer meu prato de arroz de forno. Ignorando os protestos barulhentos da minha barriga, eu alcanço o ar fresco da noite.
- Porque, Eve? – Willian grita, e fica parado, desistindo de nos seguir. Como Eve parece incapaz de dizer qualquer coisa, eu resolvo responder. E ao dizer as palavras, percebo que estou sendo sincera.
- Eu sinto muito – digo, e enfio Eve dentro do meu carro, e saio cantando pneu. Na verdade a intenção não era cantar pneu, mas eu sempre acabo fazendo isso quando quero sair rápido com o carro.
No caminho até minha casa, decido não falar com Eve. Falar e dirigir ao mesmo tempo pode ser muito perigoso. Não sei como as pessoas conseguem falar no celular enquanto dirigem. Jesus, estou com muita fome. Eve permanece imóvel no banco do passageiro. Ao menos ela parou de chorar. Não gosto de vê-la triste nem nada do tipo, mas dessa vez não vou consolá-la. Ao menos não por enquanto. Vou ver até onde meu coração de manteiga com sal derretida aguenta. Quando finalmente chegamos até a minha casa, Eve apenas se joga no sofá, e volta a chorar com o rosto afundado numa almofada super fofa de coruja que comprei numa liquidação. Rich aparece do banheiro, com o cabelo ainda molhado e o seu usual cheirinho de quem acabou de sair do banho, e olha preocupado para nós duas. Eu dou um rápido beijo nele, e ele, como um menino esperto que é, já entende que não vai poder dormir aqui essa noite.
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Esta não é uma história de amor
Storie d'amoreEve é uma adolescente comum. Sem grandes perspectivas acerca do futuro, ela leva uma vida monótona, e secretamente se pergunta se um dia alguém irá se interessar por ela. Até que um dia, de uma maneira nada convencional ela se vê estranhamente atraí...