Capítulo 23 - O grande golpe

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James e eu ficamos abraçados sob a chuva por muito tempo. Mas eu não sentia sequer frio. Apenas sentia seu corpo colado ao meu, seus braços me envolvendo. Não sei quem se soltou primeiro, mas de repente estávamos ali parados, seu olhar me penetrando. E eu, que tinha tanta coisa pra dizer, me vi mais uma vez sem saber por onde começar.

- Vamos sair daqui – James diz, me surpreendendo. Eu estranho sua reação. Olho para casa amarela, parecendo tão quente e aconchegante, e lhe lanço um olhar interrogador. No mesmo instante me arrependo, pois, a resposta em seus olhos transborda culpa. Sua noiva, deve morar ali com ele. Essa é a casa deles. Isso é como um soco em meu estomago e eu começo a me sentir ligeiramente tonta com tal constatação. Ando até o carro, só parando para recolher meu sapato que boia na lama. James me segue em silencio absoluto. Adentramos o carro de Si, ensopando os bancos cobertos com uma capa estampada de oncinha. Giro a chave, e começo a dirigir, sem uma direção certa. O silencio é aterrador. Ás vezes olho para o lado, e James permanece com uma expressão indecifrável. Tenho vontade de gritar com ele, de extrair qualquer coisa dele, mas me contenho. O frio começa a se fazer presente, e eu sinto meus pelos se arrepiando. É difícil manter a respiração controlada, quando James está tão perto de mim, depois de todos esses anos. Chego até uma rua deserta, numa parte da cidade que eu nunca havia ido. Continuo dirigindo, mas já não exerço mais tanto controle sobre meu corpo. Com certo alívio, descubro que esta é na verdade uma rua sem saída. Paro o carro e me viro para encarar James, que nesse momento está me olhando fixamente.

- Você está maravilhosa. Sempre foi, na verdade – ele diz, e me lança um sorriso, triste.

- Obrigada – eu sussurro e sinto meu rosto esquentar. 

Não há iluminação alguma no local, apenas os faróis do carro ligado. A necessidade de tocá-lo, beijá-lo, subjuga qualquer pudor que eu poderia ter. Então eu me jogo sobre ele, e o medo da rejeição me assola, enquanto ele parece relutante em corresponder meu beijo. Mas esse medo evapora, quando por fim ele se entrega. E seu desejo entra numa combustão desenfreada com o meu. Ali, no minúsculo carro de Si, eu me perco no corpo de James, e o ato em si, não é apenas um sexo enlouquecido, é algo muito mais profundo, algo como uma entrega mútua de corpo e alma. Ali, eu soube que independente do que viesse a acontecer com a nossa história, eu sempre seria dele. E ele sempre seria meu.

Quando terminamos, ficamos abraçados, nus, minha cabeça encostada em seu peito, sentindo os batimentos acelerados do seu coração. Eu não queria estragar a perfeição desse momento, mas ao mesmo tempo eu sabia que a hora de encarar a verdade estava chegando.

- E agora? – eu sussurro, após um longo suspiro. O medo de sua resposta parece congelar meu sangue.

- Eve... Eu queria poder dizer que iríamos ficar juntos. Mas...

- Mas o que? – eu digo e me levanto parcialmente para encará-lo.

- Estou de casamento marcado – ele diz, e a tristeza transborda em seus olhos.

- Eu sei, James. Mas você me ama. E eu te amo. Você não pode simplesmente casar com outra pessoa e ignorar essa coisa que existe entre nós – eu digo, me sentindo á beira das lágrimas.

- É claro que eu te amo. Mais do que amei qualquer coisa em minha vida. Mas... Eu não posso fazer isso com Andy.

Ouvir ele dizer o nome da garota que poderá ser sua esposa, faz o ato de controlar minhas lágrimas se tornar ainda mais difícil.

- Porque você não pode ficar comigo? O que essa garota tem, que eu não tenho? – eu pergunto, debilmente, enquanto me afasto de seus braços.

- A questão, é que Andy me ajudou demais enquanto eu estava preso a uma cadeira de rodas. Se não fosse por ela, eu jamais teria voltado a andar...

Esta não é uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora