Eu não sei ao certo quando as coisas começaram a dar errado. Mas eu sei bem, quando tudo desmoronou de vez. Após minha reconciliação com James e nosso namoro não tão oficial assim, visto que minha família não fazia a menor ideia disso, eu dediquei meu tempo a fazer com que James voltasse ao normal. Havia dias em que ele parecia bem. Em outros a depressão o sugava. Ele se recusou a procurar ajuda médica de um psicólogo alegando que o melhor tratamento estava ali do seu lado, e era eu. Mas apesar de ambos estarem se esforçando para a sua recuperação, eu não tinha tanta certeza, se eu conseguiria curá-lo algum dia. Nas vezes em que eu me colocava em seu lugar, eu tinha certeza que nunca conseguiria ficar bem novamente se tivesse presenciado o que ele viu. Depois que ele me contou, como flagrou Stella nua no chão do banheiro, com sangue por todo o lado, dando descarga no feto em formação que um dia seria filho deles.... Eu mesma queria dar uma surra nela. Apesar da minha magreza, tenho certeza que minha raiva me daria alguma força interior para acabar com aquela Barbie do mal, como Si sabiamente a apelidou. Então, obviamente, o pontapé inicial para as coisas desandarem, foi o que a vaca da Stella fez, que desestruturou James, total e irreparavelmente. Em consequência do seu ocasional baixo astral, James estava com dificuldades terríveis para arrumar emprego. Após o seu meio acidente de moto (ocasionado pela Barbie do mal) ele foi despedido de seu emprego provisório de motoboy. A desculpa de seu recém contratador foi algo como, processos jurídicos, por acidentes e etc. Traduzindo: ele dispensou James, com medo de ele se acidentar em horário de trabalho e a empresa ter que pagar alguma indenização. E ao contrário do que se espera, as coisas que acontecem na rua 4, não ficam apenas lá, por isso todos os empregadores de motoboy, pareciam saber de seu episódio de bebedeira e seu acidente. Logo, ele poderia esquecer essa área. Ele tentou hotéis, restaurantes, lojas de departamento, qualquer coisa. Mas por algum motivo (seu desleixo com a aparência, ou sua falta de experiência e estudo) ele não conseguia emprego de jeito nenhum. Mas apesar de toda essa vibe negativa, ás vezes o velho James voltava para mim, e nós dois aprontávamos um bocado. Digamos que qualquer lugar considerado um pouquinho isolado, mesmo que não fosse tão isolado assim, nós usávamos afim de matar nosso desejo um pelo outro. Não sei qual dos dois ansiava mais por esses momentos. Ás vezes eu me assustava com a minha vontade insaciável de... "fazer aquelas coisas" com James. Na verdade, eu comecei a temer que ele fosse me achar meio cachorra por ter um apetite sexual tão voraz. Mas meus medos se dissipavam todas as vezes em que terminávamos de fazer "aquilo", e ele me olhava com aquele ar de felicidade, e me beijava, sussurrando o quanto era bom ficar comigo. Nosso sexo não era vulgar, não era aquela coisa apenas carnal. Eu me sentia como uma âncora, mantendo James lúcido, e ele me tocava, me buscava de uma forma quase insana. Era como se sua própria sobrevivência, dependesse de me ter por inteira. E tínhamos a sorte de o sargento Marshal nunca ter nos encontrado, num desses lugares "isolados". Tudo que James menos precisava, era de uma ficha na polícia.
Os meses foram passando, extremamente rápidos, e logo meu aniversário de dezesseis anos chegou. Me vi forçada a contar minha real idade a ele, que por sua vez, gargalhou dizendo já imaginar que eu não estava fazendo dezoito anos coisa nenhuma. Nem preciso mencionar o tamanho do meu alívio. Eu não esperava presente algum de sua parte, já que faziam meses que ele estava sem emprego, e sem dinheiro para nada. Eu que abastecia sua moto, coisa que ele aceitava relutante, sabendo que não tinha outra opção. Eu levava sempre dois lanches para o almoço afim de dar um para ele... Luna também me ajudava nesse quesito, e por incrível que pareça, dela, ele aceitava algum dinheiro. Então, quando ele apareceu com embrulho nas mãos, no dia do meu aniversário, achei que Luna tinha emprestado o dinheiro para ele comprar alguma coisa. Eu disse que ele não precisava me dar nada, que o fato dele estar comigo era o melhor presente que eu poderia ter. Isso soou terrivelmente clichê, como ele mesmo disse, mas ele sabia que eu estava sendo sincera. Quando eu abri o embrulho, me deparei com uma pulseira lindíssima, de aparência vintage. Suspirei, encantada. Ela continha adornada ao redor de sua corrente prateada, pedras minúsculas de um tom de azul furta-cor que eu nunca havia visto antes. Numa ponta dela, pendia um pequeno coração prateado, onde se lia "sempre contigo".
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Esta não é uma história de amor
RomanceEve é uma adolescente comum. Sem grandes perspectivas acerca do futuro, ela leva uma vida monótona, e secretamente se pergunta se um dia alguém irá se interessar por ela. Até que um dia, de uma maneira nada convencional ela se vê estranhamente atraí...