É muito constrangedor ter que ficar escondendo a marca em meu pulso, resultante do corte que fiz quando tentei tolamente acabar com minha vida. Não sei se é paranoia da minha parte, mas a impressão que tenho é de que em todo o lugar que vou, as pessoas encaram a cicatriz, e eu me vejo puxando a manga do meu casaco ou entulhando meu pulso de pulseiras na tentativa de esconder não só dos outros, mas de mim mesma, o estrago que James fez em minha vida. Resisto firmemente todos os dias, ao ímpeto que tenho de procurar ao perfil de Stella na internet. Mas Si me fez prometer que eu não faria isso. E eu não farei. Aliás, está sendo ainda mais difícil esconder dela, minha recém cicatriz. Ela já me questionou um bocado sobre os cortes em minhas mãos, nem imagino o escândalo que ela faria se visse o corte em meu pulso. Ela provavelmente surtaria. E eu morro de vergonha só de pensar na hipótese de ela descobrir o que fiz. Porém de Keira, eu não tive como esconder. E quando contei secretamente a ela, a burrada que quase fiz, ela me lançou um olhar impassível, e entredentes disse para eu nunca mais pensar em fazer uma coisa dessas. Por um momento achei que ela fosse me bater. Nunca vi Keira tão furiosa.
Estou conseguindo de verdade seguir com minha vida, aos poucos. É claro que as coisas não se ajeitam tão facilmente. Ás vezes escuto o barulho de alguma moto similar com a de James, e meu coração acelera. Quando saio para minhas caminhadas exigidas em meu trabalho, me pego olhando furtivamente para os lados na esperança de ver James. Mas pelo menos eu já consegui parar de ligar para a caixa postal dele. Acho que esqueci como é sua voz. Mas nada ira tirar da minha mente suas feições tão belas. Nunca conseguirei esquecer a textura de seus cabelos entre meus dedos, e principalmente, nunca esquecerei a noite na qual me entreguei a ele, e o encaixe perfeito de seu corpo contra o meu. No final das contas, acabei compreendendo que não importa o que eu sinta, porque que parte do meu desconforto e sofrimento sempre existirá, por eu saber que James não está realmente feliz. A tristeza em seus olhos naquela foto com Stella foi quase palpável. Me pergunto como alguém pode se sentir infeliz tendo alguém tão maravilhosamente linda como Stella ao seu lado.
- Eve, querida, estou com umas ideias aqui, acho que você poderia me ajudar, para se distrair um pouco – Si diz, enquanto limpa a lente de seus óculos cheios de estilo com uma grande armação vermelha.
- O que você está inventando dessa vez? – Pergunto, e não consigo evitar lhe lançar um fraco sorriso. Isso faz com que Si se ilumine. Qualquer vago sinal de alegria vindo de minha parte, faz com que ela quase chore de emoção. Ás vezes gostaria que ela fosse minha irmã mais velha, mas quando lhe confidenciei tal coisa, ela me repreendeu, dizendo que se fossemos irmãs, íamos provavelmente brigar o tempo todo. A palavra irmã, faz eu involuntariamente me lembrar de meu irmão. Achei que algo ia mudar entre nós, depois de ele ter praticamente impedido que eu me matasse enquanto se debulhava em lágrimas. Mas ele finge que nada aconteceu, e eu fico grata por isso, ficaria ainda mais, se ele parasse de mexer nas minhas coisas, fazendo nossas ocasionais brigas voltarem com força total. No fundo ele sabe que eu me irrito, mas isso é parte da nossa relação, e que isso faz com que minha vida volte ao normal. Um dia tenho que dar um presente legal para ele. O mala sem alça merece.
- Sábado estamos de todos de folga – Si diz, fazendo minha atenção que vive oscilando, voltar para ela. – Estive pensando em chamar Richard, para sairmos por aí, tentando colocar alguns cachorros de rua em sua caminhonete e levar para aquela ONG onde eles seriam encaminhados para adoção.
- É uma ótima ideia – murmuro, encantada com a pessoa boa que Si é. – Mas tenha em mente que esses cachorros podem não cooperar tanto a ponto de entrar de boa vontade na caminhonete do seu namorado.
- Ah, isso a gente vê depois. Chame a Luna também, e aquela sua amiga da escola, a Keira. Quanto mais gente, melhor.
- Mas Si.... Esses cachorros podem realmente não ser tão dóceis assim... Isso é perigoso – argumento.
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Esta não é uma história de amor
RomanceEve é uma adolescente comum. Sem grandes perspectivas acerca do futuro, ela leva uma vida monótona, e secretamente se pergunta se um dia alguém irá se interessar por ela. Até que um dia, de uma maneira nada convencional ela se vê estranhamente atraí...