Me olho no espelho. Mesmo com minha pele morena, estou corada devido ao frio. Estou de cara limpa, como diria Si, pois dificilmente uso maquiagem. Um pouco de rímel cairia bem demais. Minhas roupas são as habituais calça jeans, camiseta simples, com um casaco grosso por cima, um lenço no pescoço, e tênis, é claro. Há o pequeno e insignificante detalhe do meu cabelo. Ele definitivamente não gosta do inverno, por isso está com essa aparência terrível.
- Se você quiser, posso fazer uma escova nele, rapidinho – Si diz, aparecendo atrás de mim, segurando uma mecha do meu cabelo poroso entre os dedos. Estou na casa dela, que é bem perto da praça, esperando ansiosamente dar 20:00 hrs. E desde que cheguei, ela não para de comer, se mostrando bem mais ansiosa que eu. E também não para de sugerir que eu troque de roupa, ou faça maquiagem e até me depile. Que louca.
- Não, acho que não. Quero que ele me conheça, assim, como eu sou de verdade. Se eu me montar toda pra ver ele, não vou estar sendo eu mesma – digo, querendo acreditar nisso. Mas meu medo, é que se eu me arrumar toda, até aconteça algo entre nós, e depois ele me rejeite, quando ver que eu sou assim, na verdade. Então, é melhor que ele veja como sou sem graça agora, e me descarte logo.
- Você que sabe – ela diz, e dá de ombros, indo pra cozinha e voltando com um pote de Nutella. Huuuum. Eu poderia pedir um pouco, mas não quero ir ao meu primeiro encontro com chocolate nos dentes. E está quase na hora.
- Acho que vou vomitar, Si – murmuro, e me jogo no sofá.
- Fique calma, Eve. Vai dar tudo certo, é só um encontro, seja você mesma. Ele pareceu bem interessado em você, só por te ver andando na rua, com esses ombros caídos.
- Você não pode parar de me criticar só um pouco? – digo, fingindo estar brava, o que não consigo, graças a risada que escapa da minha boca.
- Ah, e não podemos esquecer que sua adorável mãe, vai te matar se você chegar muito tarde em casa – Si me lembra.
- Nossa, querida, muito obrigada por me lembrar disto – digo, irônica.
Ela gargalha, mas em seguida fica séria. E eu sei o motivo.
- Está na hora, não é? – Pergunto, incapaz de consultar meu celular.
Ela assente. Então eu me despeço, prometendo contar cada detalhe sórdido para ela, no dia seguinte. Não que eu ache que vai acontecer algo desse nível, essas foram palavras dela. Caminho até a praça, que como o esperado, está bem cheia. Não sei o que as pessoas vêm fazer aqui. Está certo que eu também gosto de ficar aqui, olhando a natureza e tal, mas eu me considero diferente das demais pessoas. Sempre apressadas, conectadas, não é como se elas ligassem mesmo para algo como a natureza. Vasculho o lugar com os olhos, e nem sinal do garoto. Desço as escadas, para ir até a parte de baixo, e mais isolada da praça, pensando em como ele seria um espertinho se estivesse me esperando aqui, quando tropeço no último degrau, e quase caio.
- Salva pelo corrimão – murmuro, enquanto pego minha bolsa do chão.
- Foi mesmo – alguém diz, e eu me viro a tempo de ver James se revelando das sombras.
Sinto o rubor queimando de meu pescoço até as bochechas. Ele está maravilhosamente lindo, com uma camisa xadrez, gorro, as bochechas ainda mais vermelhas, e um sorriso hipnótico no rosto. A pouca luz, projetada pelas lâmpadas dessa parte da praça, faz com que ele fique ainda mais sexy, e eu me repreendo por ficar pensando nessas coisas.
- É, oi – digo, quando recupero minha voz, estendendo a mão para ele. Nossa, isso foi cafona. Ele aperta minha mão, parecendo achar graça no meu comportamento, e me puxa para mais perto, beijando levemente meu rosto.
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Esta não é uma história de amor
RomantizmEve é uma adolescente comum. Sem grandes perspectivas acerca do futuro, ela leva uma vida monótona, e secretamente se pergunta se um dia alguém irá se interessar por ela. Até que um dia, de uma maneira nada convencional ela se vê estranhamente atraí...