Capítulo 30 - Contra o tempo

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JAMES

Já fazem seis meses que eu sobrevivo sem a presença de Eve em minha vida. Em contraste, a presença da morte parece sempre constante, rondando, esperando a hora certa, para levar Andy embora desse mundo, para um lugar melhor, eu espero. Não há um só dia que eu não me pergunto, se fiz a escolha certa. Ás vezes eu acho que não, quando relembro a última vez que vi Eve. Lembro de que naquele diz, fazia sol. Estava um dia atípico para a estação do mês. Eve havia me mandado uma mensagem, dizendo que precisava muito falar comigo. E eu precisava muito falar com ela também. Pois, os pais de Andy acharam que era melhor era ir se tratar aonde eles moravam, onde havia mais opções. Estado esse, que ficava há mais de 1.000 km de distância. E eu tinha que ir com Andy. Assim que cheguei ao local combinado, percebi que havia algo errado. Eve estava sem maquiagem, com as roupas amarrotadas no corpo, um coque se desfazendo no cabelo, e com uma expressão de quem havia chorado muito. E ela não estava com o carro dela, o que era mais estranho ainda. Mas, ignorando meus instintos de não dizer nada sobre minha iminente partida sem data para voltar, eu contei tudo á ela. E então chorei, todas as lágrimas que eu havia segurado em minha casa, por não querer demonstrar tão abertamente minha tristeza na frente de Andy. Isso era um adeus. Eve, ficou parada, me fitando, murmurando "não pode ser, não pode ser", e segurando a barriga com as duas mãos. E eu sentia a mesma coisa que ela, um vazio, uma dor, algo que não dá para ser explicado. Eu a abracei, bem forte, como se nossos corpos pudessem se fundir um ao outro, e assim ficarem juntos para sempre. Eve procurou meus lábios, e nos perdemos num beijo desesperado. Eu disse que amava mais que tudo, e depois disso, nunca mais nos vimos. Só depois percebi que Eve não me falou nada. Mas já era tarde demais, pois eu já estava no avião, sobrevoando o céu, me afastando cada vez mais de Eve. Talvez para sempre.

Os pais de Andy foram maravilhosos, abrindo as portas de sua casa e seus braços, me acolhendo como se eu fosse filho deles também. Apesar de ter visto eles só umas duas vezes, desde me casei com Andy, eles me tratavam como se eu tivesse estado o tempo todo ali. E o encanto deles com David era maravilhoso de se ver. Não tinha como ele saber, mas em meio a tanta tristeza, David era o único que conseguia colocar um sorriso em nossos rostos cansados, e olhos tristes. Meu filho manteve minha lucidez. Pois quando eu não estava no hospital, ao lado do leito de Andy que se tornou seu lar permanente, eu estava absorto na saudade que sentia de Eve. Se não fosse o pequeno David, eu com certeza já teria enlouquecido.

Hoje, é mais um dia em que eu tenho que respirar fundo, antes de conseguir levantar da cama. Sinto a mãozinha de David em meu braço, e abro os olhos, não conseguindo deixar de sorrir para meu filho lindo, que passou a dividir a cama comigo.

- Papai, eu posso ver a mamãe hoje? – ele pergunta, sua vozinha doce, enchendo meu coração de tristeza e alegria ao mesmo tempo.

- Eu não sei, meu amor. Se ela estiver acordada hoje, eu venho te buscar, pode ser?

- Pode sim. Eu sinto saudade da mamãe. Quero que ela venha pra casa logo – ele diz, baixinho, como se fosse um segredo.

- Eu também – eu digo, enquanto puxo David para mais perto de mim, e beijo o topo da sua cabeça, seus grossos cabelos pretos fazendo cócegas em meu pescoço. Seguro as lágrimas, e me levanto, para mais um longo e incerto dia. Deixo David com minha amável sogra, tomo um copo cheio de café, na esperança de que me de alguma energia, e pego um ônibus até o hospital que infelizmente se tornou uma segunda casa para mim também. Ao chegar, Betany, uma das enfermeiras responsável por Andy, já sorri para mim.

- Hoje ela está bem melhor – ela avisa, e me dá um caloroso beijo no rosto. Não sei ao certo se esse é mesmo o jeito dela, ou se ela tem algum interesse em mim. Mas não há tempo para pensar sobre enfermeiras estranhas e flertadoras, eu simplesmente vou até o quarto de Andy, e sorrio ao ver que de fato ela está acordada.

Esta não é uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora