Foi a pior noite que eu já havia passado desde a adolescência. Sofrendo por amor? Me sentia patética, confusa, burra, orgulhosa, negativa. Sarah veio e se deitar comigo pela madrugada e sussurrou que tudo ficaria bem. Minha filha, ela tinha o poder de me acalmar, sempre foi assim. Minha mãe me trouxe um chá de camomila para eu tentar dormir um pouco. Eu sei, fui rude e precipitada. Mas eu não sofreria por homem nenhum mais. Nunca mais. Foi melhor assim. A distância e o tempo nos faria pensar em tudo o que vivemos até ali. E lá pelas cinco da manhã não resisti ao choro, e ao cansaço. Apaguei. Ás oito eu já estava de pé, eu tinha que me recompor meus meninos chegariam hoje á tarde da excursão. E logo aquilo me fez lembrar de Gustavo. Ele iria buscá-los, bom mas isso foi ontem antes da nossa briga. Meu celular tocou em cima da mesa da cozinha e eu vi que era uma mensagem no WhatsApp era dele.
Bom dia Laura.
Só Laura? Eu pensei. Eu não poderia exigir mais nada. Depois de ontem.
Eu... só estou escrevendo para dizer que irei buscar os meninos como combinado. Adoro aqueles garotos. E eu não quebro minhas promessas. Até as duas e meia na doceria.
Gustavo.
Foi horrível. Nada de "SEU GOSTOSO ou ATÉ MAIS GOSTOSA". A sensação era desesperadora. Eu fui uma idiota. Eu não deixei ele se explicar. O comparei com o escroto do Fred. Mas ele me deixou nervosa exigindo tudo sobre a gravidez, e eu não soube como reagir com aquilo tudo. Eu não queria que tudo tivesse terminado daquele jeito. Mas eu não daria o meu braço a torcer. Submissa e burra jamais. Eu terminei meu "café da manhã", isso se um suco de goiaba pudesse ser chamado de um café da manhã, de verdade. Não conseguia comer nada. E os enjoos começaram a se fazer presente. Eu viveria tudo de novo. Por que eu fui ser descuidada? Eu não era mais uma adolescente!
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Ás onze eu já me encontrava na doceria. Passei algumas ordens para meus funcionários. Conversei com o Joaquim e ele veio cuidar da propaganda para mim. Vire e mexe eu tinha que disfarçar meus enjoos e sorrateiramente corria para o banheiro. Eu ainda não estava preparada para contar pra todo mundo. Fui até e depois voltei para o meu pequeno escritório, e fui fazer algumas ligações para terminar de completar os pedidos dos buffets. Na hora do almoço eu só consegui comer um pouco de salada grega que Joaquim me trouxe. E em seguida o vi passando a mão na barriga da Lívia. E eu já me sentia uma idiota. Joaquim nem ao menos era o pai daquela criança e já o amava demais. Lívia era tão teimosa quanto eu, e em breve contaria a minha trágica experiência de medo sobre os meus sentimentos verdadeiros. Eu havia falhado. Mas com eles eu não permitiria.
Quando as duas e meia se aproximaram. Eu me concentrei no relógio no meu pulso. Logo Gustavo entraria por aquela porta. E eu veria meus garotos lindos e sorridentes depois da excursão com os colegas da escola. E eu também veria o Gustavo. Meu coração estava acelerado assim como quando estamos apaixonados esperando aquele carinha da escola nos dar um pouco de atenção. Era ridículo eu era uma mulher, e não uma garota boba. Eu respirei fundo e fui até a banqueta que ficava atrás do balcão e foquei no movimento da doceria naquela tarde. Alguns rostos conhecidos e outros nem tanto, e havia um casal de adolescente sentado mais no canto. Que fase maravilhosa. Mal sabia eles da responsabilidade que em alguns anos desabaria em cima de suas cabeças. Isso mesmo, como uma bomba. Depois de minutos olhando para eles. Voltei minha atenção para uma mensagem da minha mãe. Ela estava preocupada comigo. E LOGO TERIA QUE CONTAR A VERDADE. E a verdade era, eu estava esperando um filho de Gustavo. E tinha que ser rápido. A porta da loja se abriu e eu vi meus meninos sorridentes correndo em minha direção.
-Mamãe! Mamãe! - Eles gritaram em uníssono e voaram até o meu colo. Me levantei e abracei os dois. Ai que saudade deles.
-Oi meus amores! Que saudade! - Eu disse com alegria na voz. O retorno de um filho sempre é delicioso. E eu era uma "mamãe grudenta" como dizia o Ben. - Como foi lá? Me contem.
Eu pedi e ainda fiquei concentrada olhando para os meus garotos. Eu sentia ainda a presença de Gustavo mas me recusava a olhar para ele.
-Foi irado mãe! - Contou Bryan sentando em uma das banquetas.
-Eu andei três vezes de pônei mamãe. - Disse Ben ainda abraçado á mim.
-Que legal filho! Ele era bonito?
-Era sim. Eu gostei mais do branco.
-Meninos eu também adoro cavalo. Na fazenda da minha mãe temos um cavalo negro premiado. Ele é grande e forte. Um dia levo vocês lá. Prometo. - Contou Gustavo passando a mão na cabeça de Bryan e bagunçou seu cabelo.
-Eu quero! - Disseram animados, os dois olhando para o Gustavo.
A conexão deles era forte. E eu não poderia proibir de continuarem amigos. Eu tinha que conversar logo com Gustavo. Sem demora. Eu respirei fundo e fui me sentando na banqueta do lado de dentro do balcão. E o enjoo idiota começou. Lívia percebeu que eu estava meio mole e suando frio e veio para perto.
-Patroa Deusa. Você tá bem?
-É... estou... é só... licença vou ao banheiro. Cuide dos meninos um minutinho. - Me levantei rapidamente e coloquei as mãos na boca e fui até o banheiro que ficava dentro do meu apertado escritório. Ali teria mais privacidade.
Entrei e fui me posicionando perto do vaso sanitário. E não aguentei botei tudo pra fora. E vi que não tinha mais nada pra colocar. Era só líquido. Típico, enjoo de grávida. As alegrias de ser mãe começavam diretamente aí. Ouvi a porta se abrindo e visualizei de relance, era ele. Gustavo veio e se posicionou ao meu lado e segurou meus cabelos para cima.
-Você não precisa fazer isso. - Eu disse ainda com a voz fraca.
E outra onda veio rapidamente E ele então passou as mãos nas minhas costas me tranquilizando. Nunca ninguém fez aquilo comigo, a não ser minha mãe. Fred nunca ficou perto de mim quando tive enjoos matinais, em nenhuma gravidez de seus filhos. Mas Gustavo, ele sim. Era companheiro de verdade. Eu ainda me segurava para não cair de cabeça na privada de moleza. Mas quando parei com os enjoos. Ele me trouxe para os seus braços e me deu conforto. Ficamos alguns minutos, abraçados no chão. Mas ainda sentia o corpo dele tenso. Ele me parecia desconfortável. Era como se estivesse ali por educação. Ou somente porque eu seria a mãe do filho dele. Ainda existia raiva e mágoa entre nós. Ele pegou o elástico do meu punho e amarrou os meus cabelos com ele. Eu senti uma adrenalina boa. Fiquei excitada com aquele gesto. Hormônios! Traiçoeiros! Ele acabou de me ver vomitar, eu era Louca! Tudo bem, era a hora.
-Me desculpe, Gustavo. Por ontem, eu fui precipitada, medrosa. - Estava dito. Finalmente dei meu braço a torcer. Não tinha mais volta.
E ele só ficou abraçado a minha cintura, e passava suas mãos no meu braço esquerdo. De leve, e mesmo tão terno, me pareceu tão quente. No entanto ele continuou em silêncio. Por um tempo considerável.Tudo bem. Eu merecia aquilo.
-Gustavo... amor... - Eu disse com cuidado, mas disse o que ele ainda era pra mim. - Fala alguma coisa. Vamos conversar.
- Ah, agora você quer conversar! - Ele exclamou em tom de deboche. Ele se mexeu e se levantou e me ajudou a me levantar. E foi em direção á porta. Foi ali que vi, seus olhos estavam frios, e depois se tornaram muito tristes e magoados. - Se precisar de algo pra você e o bebê, não hesite. Me ligue.
Então ele abriu a porta e me deixou lá sozinha. Eu senti um frio intenso. Era como se a neve tivesse vindo me visitar. Eu não reclamaria, se fosse a neve literalmente falando, mas foi o inverno da alma. Aquele olhar gélido e triste dele acabou comigo. E eu era a culpada por aquilo.

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Cale a boca & me ame (Livro 1 - Série Desejos)
ChickLitWarrior in Love - Para maiores de 18 anos. OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL!!! PLÁGIO É CRIME! Desacreditada, abandonada por seu único amor. Quinze anos de casamento e nada pode fazer com que ela fosse amada completamente por Frederico...