Capítulo 2: Presa ao Passado

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- Amanhã é o grande dia, flor! Partiu Maringá!- André animou-se, dando um gritinho de alegria.

Estávamos eu e André caminhando no Sol de três horas da tarde entre o Museu Nacional de Brasília, aquele monte de concreto que eu particularmente adora e a Biblioteca Nacional. O local entre as duas grandes obras do arquiteto Oscar Niemeyer era consideravelmente grande, possuía dois espelhos d'água e era bastante frequentado pelos skatistas da cidade. Eu gostava muito de andar por ali, era uma pena que o local não possuía uma única árvores, o Sol estava batendo com vontade na minha cabeça. Olhei a pele branca de André e já o imaginei no final da tarde, todo vermelho.

E sobre o grande dia... eu estava mais do que ansiosa. Amanhã vamos viajar para Maringá, onde ocorrerá o Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura (ENEA). Esses encontros ocorrem todo ano, sempre para um lugar diferente, mas esse será o primeiro que eu vou, porque de acordo com Arthur, nenhum estudante de arquitetura pode terminar o curso sem ir em pelo menos um ENEA, seria um pecado gravíssimo. Ele insistiu e cá estou eu, de malas prontas.

Nesse encontro sempre ocorrem palestras, atividades, cursos relacionados a nossa área. Mas quem disse que o pessoal vai lá para isso? O que todos têm em mente pagar essa viagem são as festas que terminam de madrugada, todos os dias, durante uma semana. Eu não sei se eu tinha disposição física e fígado para isso. E o pior de tudo não era isso. Gabriel estará lá, se eu o conheço bem, ele não perderia isso nunca. Faz quatro meses que terminamos e eu não queria reencontrá-lo assim tão próximo, já que provavelmente ficaremos no mesmo estabelecimento por sermos da mesma faculdade...

- Olívia! Não me diga que você está pensando no Gabriel!- André estalou os dedos na minha frente enquanto andávamos em direção a um banco mais perto da sombra- Quando você faz essa cara de tristeza eu já sei, é ele. E nem adianta dizer que não é.

- A culpa é sua que mencionou o ENEA- resmunguei- Ele estará lá, André, eu tenho certeza disso.

- Aí você vai ficar com essa cara de derrota a viagem inteira?! Ah, me poupe.

- Mas André, foram dois anos de namoro...

- Olívia! Ele te traiu! Larga de ser boba! Ele era um cafajeste.

Sentei-me no banco, dando um pesado suspiro. Quando eu tocava nesse assunto a minha única vontade era chorar. Maldito Gabriel, maldita vadia que o roubou de mim.

- Eu tinha sugerido um tempo na época. Não estávamos oficialmente juntos- suspirei.

- Você Está o defendendo Sra. Ambrosa?- indignou-se André- Porque se estiver, eu juro que vou embora daqui. Não sou obrigado a escutar tamanho desaforo.

- Não! Claro que não estou defendendo! Estou falando que quem começou tudo e deu motivos fui eu!

- Agora você está se culpando!- gritou ele, levantando-se.

- Sente-se! Me desculpa, ok?- segurei sua mão, tentando segurar as lágrimas ao mesmo tempo- Eu só quero acreditar que...

- Que ele é um mentiroso, canalha, sem vergonha e sei lá mais o que! Eu te dizia isso todos os dias dês daquele infeliz dia em que você me contou que estavam oficialmente namorando.

- E ela ainda costumava andar de skate por aqui- lamentei.

André me deu um tapa na bochecha direita. Sem força, claro, mas fiquei bastante espantada.

- O que foi isso?- perguntei com os olhos arregalados e segurando minha bochecha atingida.

- Um tapa que a minha indignação deu em você. Vamos esquecer esse assunto, porque eu já estou ficando irritado- ele levantou-se, com as mãos na cintura- Vou comprar uma pipoca e já volto.

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