Capítulo 5: Um presente, um passado

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Corre! Gritou meu bom senso. Virei-me de costas e comecei a correr, mas apenas dois passos foram dados antes do meu corpo ser puxado de volta com força. Cai no chão ao me desequilibrar, bati os joelhos na pedra da estrada e senti uma forte ardência no mesmo instante. Levantei-me, limpando os pedacinhos de grama da saia, mas ele puxou meu braço com força antes que eu tivesse a oportunidade de terminar a limpeza.

- O que deu em você ao achar que poderia sair correndo assim, negrinha abusada?- ele perguntou com aspereza na voz e fez-se um minuto de silêncio- Me responde, putinha!

Fiquei extremamente ofendida com a maneira que ele estava falando comigo.

- Putinha é a sua mãe!- cuspi na cara dele, o que o deixou levemente assustado, mas mesmo assim não consegui desvencilhar dos seus braços.

- Como?!

Suas sobrancelhas juntaram-se ainda mais e seu rosto adquiriu uma nova tonalidade de vermelho. Não reparei que ele tinha levantado o braço, senti apenas um murro violento embaixo do meu nariz.

- NUNCA! Nunca mais repita isso!- ele gritou no meu ouvido, enquanto eu segurava meu nariz com força- Você não tem direitos para falar assim, putinha.

- E você por acaso tem o direito de ME tratar assim?- perguntei com ferocidade, deixando o sangue escorrer livremente pelo meu nariz.

- Primeiro, olha a sua roupa! Mostrando as pernas como uma indecente e toda molhada! Não duvido nada que estava se esfregando com um bom pagador naquele mato!

Ele segurou minhas bochechas com força, obrigando-me a fazer um biquinho com a boca. A dor no meu nariz se intensificou, espero que não esteja quebrado.

- Além de negra, é puta!

- Me larga!

Gritei e dei uma ajoelhada, qualquer parte do corpo dele que eu conseguisse atingir já era vantagem. Ouvi um grito de dor e por um momento eu vangloriei minha vitória, mas foi breve porque logo após uma confusão tomou conta do ambiente. Senti uma dor no meu couro cabeludo, um soco no meu rosto, um soco na minha barriga, um soco nas minhas costelas, uma sensação de queda seguida por uma dor horrorosa na cabeça. Escuridão total.

O que aconteceu? Meu pensamentos me acordaram, mas assim que as dores voltaram eu desejei estar dormindo novamente. Tentei abrir os olhos, mas deveriam estar inchados, porque não tivesse muito sucesso com essa ação. Apenas uma fenda me permitiu enxergar uma pequena luz quadrada à minha direita; uma janela. Tentei me levantar, mas as dores estavam tão intensas que não consegui me mover. Abandonei minhas falhas tentativas de me mover e fiquei sentada, com as costas apoiadas em uma áspera parede de madeira.

Olhei novamente para a janela, era noite, a Lua clareava a minha visão e me permitiu deduzir que o ambiente do lado de fora se movia. Era isso, eu estava dentro daquela maldita charrete, com aquele homem louco e assustador. Ele parecia sentir prazer em me bater daquela forma. O terror assumiu o meu corpo e eu estremeci de medo. Eu estava sendo sequestrada!

A conclusão me atingiu com tanta força que eu comecei a chorar. Chorei até soluçar. Senti as lágrimas descerem pelos meus olhos e era somente isso que eu conseguia fazer no momento. Eu sei que eu precisava manter a calma, mas estava tão difícil. Chorei, chorei e chorei, até adormecer novamente.

Acordei assustada, mas me senti bem mais controlada agora. Respirei fundo para conseguir pensar em uma solução para esse problema, mas um odor forte adentrou minhas narinas. Carne!

Procurei a fonte daquele odor ruim e visualizei uma pilha de carnes envolvidas com sal no fundo da charrete. Que maravilha! Além de ficar aqui completamente destruída tenho a companhia desse monte de carne com esse odor maravilhoso.

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