Capítulo 11: Quanto vale uma vida?

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Observação da autora: Segundo capítulo postado na semana para homenagear o Dia da Consciência Negra: 20 de Novembro. A data é importante, entre outros fatores, para lembrar a constante luta dos escravos pelo fim da escravidão no Brasil. E também para lembrar que o racismo infelizmente ainda está presente na sociedade brasileira e quem vai mudar essa lamentável situação é cada um de nós; são as nossas ações.


Álvaro empurrou-me para longe de seu corpo com brutalidade, afastando-se e colocando sua blusa novamente, suas mãos tremiam de nervoso. Encolhi as pernas, envergonhada, esperando pela aproximação da mulher. Puta merda. Será que ele era casado? E o cafajeste não me disse.

– O que está acontecendo aqui?– ela repetiu, colocando as mãos na cintura e fazendo uma careta diante da cena que acabara de presenciar.

A mulher possuía belos cabelos que desciam em ondas bem definidas até a cintura. Seu nariz era um tanto comprido e fino, dando-lhe uma aparência desafiadora no seu rosto de uns trinta anos. Os olhos, de um azul tão intenso quanto o mar.

– Augusta– começou Álvaro, um tanto desamparado, sem saber o que fazer em seguida.

Os olhos dele dançaram entre meu corpo encolhido na mesa e a suposta Augusta. De repente, a expressão em seu rosto mudou, adquirindo um ar de seriedade. Ele aproximou-se da mesa e bateu no móvel de madeira com força.

– Chamei a negra para fazer um trabalho digno de qualquer homem branco, mas bastou algumas gotas alcoólicas e ela teve a ousadia de se atirar para cima de mim, prendendo-me com as pernas, beijando-me sem minha autorização_ seu tom de voz era firme– Estou humilhado, escandalizado no mínimo. Uma atitude digna de trezentas chibatadas.

Eu me encontrava completamente sem reação, com os olhos vidrados nele, querendo pular no seu pescoço e arrancar-lhe toda a verdade a força.

– Que notícia horrível, Álvaro– Augusta colocou as mãos na boca, sem acreditar– Eu já estava lhe acusando! Meu irmão, peço-lhe mil desculpas por julgá-lo, eu sei que você nunca teria coragem de ter sua dignidade roubada por consentimento de sua parte.

Irmão?! que seja, agora nada disso me importava. Levantei-me com o queixo erguido e caminhei em direção à porta, mas Augusta bloqueava a saída. A mulher segurou a gola do meu vestido e me puxou para trás. Tropecei e quase caí no chão por falta de apoio físico.

– Onde você pensa que vai, escrava?– ela cuspiu na minha direção– Porca! Nojenta! Bêbada! Como ousa atacar meu irmão desse jeito?

– Seu irmão, queridinha– sorri maliciosamente– Aquele troglodita é um mentiroso! Tudo o que aconteceu aqui foi correspondido, infelizmente por ambos! Ele pode negar o quanto quiser, mas sabe que essa é a verdade!

O silêncio preencheu o ambiente. O calor do álcool ainda estava presente no meu corpo, mas eu não poderia deixá-lo tomar conta da minha sanidade nesse momento crítico.

– Augusta– disse Álvaro– Pode se retirar, eu resolvo tudo o que for preciso com a escrava, as coisas não permanecerão assim.

– Não farei isso meu irmão– afirmou ela, ainda mais ereta– A escrava foi seu presente de aniversário para o Barão Macedo pelo que eu me lembro, portanto, vamos juntos a fazenda Canto do Sabiá. O Barão se encarregará disso. Tomara que a jogue no sótão.

Tanto eu quanto o Sr. Coimbra soltamos gemidos de negação.

– Irmã, que ideia absurda– disse ele– Não quero que a notícia se espalhe desse modo. O que aconteceu aqui vai ficar entre as quatro paredes dessa sala de reuniões e está decidido, não temos mais o que discutir.

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