Capítulo 3: Eu tenho vida, eu tenho minha liberdade

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Hoje é dia 19 de Julho de 2013. O grande dia. O dia em que vou para Maringá. Demorou, mas finalmente decidi que eu mereço aproveitar a minha vida, que eu mereço viajar e que mereço ser escutada fora do Distrito Federal. Já escrevi dois discursos para serem realizados na semana em que eu estarei lá. Eu estava bem animada porque esse encontro de Arquitetura é um encontro Nacional, uma ótima oportunidade para eu difundir minha ideias Brasil afora. Eu sei que nas redes sociais eu conseguia atingir um público grande com os meus textos, mas eu tenho certeza que o público pode crescer ainda mais e da melhor forma, que é de boca em boca. Sim, eu tenho muita fé de que um dia acabará a desigualdade que existe no mundo, não apenas a racial, mas todas as formas de desigualdade que ainda permanecem no cotidiano de quem as vive.

Olhei o relógio. Dez horas da manhã. Avaliei o tempo que eu tinha para almoçar e ir para o aeroporto e conclui que dava tempo de fazer uma postagem. Abri o link de novo post e digitei o título: Negra. Era um bom título, simples, mas que diz tudo. A maioria dos posts tinha um pouco de relação comigo, por isso eu gostava de colocar muitos títulos no feminino. O meu blog era uma espécie de diário pessoal que eu gostava de expor para todos aqueles que se interessassem.

Postei uma música logo em seguida e comecei a digitar:

Nina Simone é uma das minhas artistas preferidas. As suas músicas conseguem tocar a alma até daqueles que se consideram sem alma. E essa, particularmente, tem tudo a ver com o título, "negra". O nome da música é "Ain't got not. I got Live". A letra diz tudo. Postei a tradução que eu achei no letras.mus.br e espero que gostem. E mais ainda, espero que sintam e que percebam a transição que acontece com o passar das estrofes.

Eu Não Tenho / Eu Tenho Vida

Não tenho casa, não tenho sapatos

Não tenho dinheiro, não tenho classe

Não tenho amigos, não tenho escolaridade

Não tenho trabalho, não tenho trabalho

Não tenho dinheiro, nem lugar para ficar

Não tenho pai, não tenho mãe

Não tenho filhos

Não tenho irmãs ou irmãos

Não tenho terra, não tenho fé

Não tenho igreja, não tenho Deus

Não tenho amor

Não tenho por que, sem cigarros

Sem roupas, sem país

Sem classe, sem escolaridade

Sem amigos, sem nada

Não tenho Deus

Não tenho terra, nem água

Nem comida, nem casa

Eu disse que não tenho nenhuma roupa, nem emprego

Não, nada

Não tenho ...

E eu não tenho amor

Oh, mas o que eu tenho?

Oh, o que eu tenho?

Deixe-me dizer o que eu tenho

E ninguém vai tirar

A menos que eu queira

Tenho meu cabelo, na minha cabeça

Meu cérebro, meus ouvidos

NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora