No dia seguinte, depois de deixar Amélia arrumada para a escola, vaguei pela fazenda, preocupada com meu futuro. Fiquei afastada dos lugares que eu sabia que Dante trabalhava, com vergonha de encontrá-lo. A cena da noite anterior ainda pairava no ar, eu conseguia sentir o calor presente entre o casal e me julguei por isso.
- Olívia!
Pulei assustada. Olha só quem apareceu, o personagem principal dos meus pensamentos.
Virei-me em direção ao som, ele me olhava fixamente, saindo do meio do cafezal.
- Olívia!
- Oi.
- Eu te vi ontem- ele foi direto ao ponto.
- Que horas?
- A noite. Não negue!
- Não me lembro.
- Olívia Ambrose...
Ele se aproximou lentamente de mim, inseguro de suas ações.
- Dante, seja lá o que eu tenha visto, não me importa, de verdade- exclamei- Foi sem querer, eu te garanto, eu não estava xeretando, desculpe se atrapalhei qualquer coisa, mas você não me deve qualquer explicação.
- Eu tenho minha parcela de culpa, estava lá perto do poço, tão visível aos olhos de qualquer um- ele disse, cabisbaixo- Espero apenas que você tenha sido a única que me viu lá.
- Não se preocupe, eu não vou contar para ninguém. Sei das regras- afirmei- Só acho que você deveria tomar mais cuidado, é perigoso, você sabe disso mais do eu inclusive.
- Obrigado- ele estudou-me atentamente, deixando ainda mais constrangida- Ela... a mulher de ontem, foram poucas vezes que aconteceu. Ela trabalha na cozinha, a gente mal se vê.
- Dante- coloquei meu dedo com delicadeza na sua boca- Não precisa me explicar. Eu não preciso saber de nada. Não tenho nada a ver com isso.
- Mas...
- Tome cuidado, só isso que te peço. Você é meu amigo e eu me preocupo com a sua segurança.
- Você é tão diferente de qualquer outra pessoa que já conheci.
- Isso é bom?
- Claro. Eu gosto muito de você Olívia, você me ajuda mesmo tendo seu próprio trabalho a fazer e tem suas próprias opiniões a respeito de tudo.
- Bem, obrigada- sorri- Eu... preciso ir agora.
- Ela não me importa tanto sabe. Homens têm suas necessidades...
- Dante- meu olhar de repreensão o atingiu no mesmo instante em que falei seu nome.
- Desculpe.
Comecei a andar em direção ao chiqueiro.
- Eu sei onde você está indo- ele gritou.
- Sabe é?- olhei sobre meu ombro esquerdo.
- Diego não vai te ajudar.
- E você vai?
Droga. Diego fofoqueiro. Faz dias que ando conversando com ele.
Diego é responsável pela plantação de milho, está na fazenda faz um tempo, ele tem uma boa fama de quem conhece todos os arredores porque já foi um homem livre, havia comprado a sua alforria em outra fazenda. Mas como o Brasil no momento era um país praticamente sem leis, já que as pessoas que ditavam as leis eram somente aquelas que possuíam o poder (pensando melhor, o século XXI não foge muito dessa realidade), o Barão Macedo rapidamente desapareceu com sua carta e o fez dele seu escravo.
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Negra
Ficción históricaOlívia Ambrose Barros é uma estudante de Arquitetura que enfrenta com garra o dia a dia como qualquer outra garota de vinte e dois anos. Mas no dia 20 de Julho o inesperado acontece: ela volta no tempo e para no ano de 1871. E o maior problema nem f...