Capítulo 14: Pelourinho

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Acordei desorientada, com o olhar turvo, sem conseguir entender no primeiro momento o que acontecera. Senti rapidamente meu nariz latejando, o toquei para avaliá-lo, estava inchado, bastante inchado para ser sincera, espero que não tenha quebrado. Senti uma segunda dor tão forte quanto atrás da cabeça, provavelmente esta fora a causa do desmaio. Quanto tempo eu fiquei desmaiada? Que lugar era esse?

Avaliei o ambiente através da penumbra. Apenas uma pequena luz saia do teto, iluminando uma parcela mínima e insignificante do local. Eu estava em um sótão, óbvio, escravos detidos geralmente eram jogados como um saco de lixo em sótãos mofados e imundos. Pisquei os olhos repetidas vezes para enxergar melhor, eu estava molhada de suor e consegui visualizar inúmeros hematomas espalhados pelo meu corpo. Meu vestido encontrava-se rasgado perto de uma das mangas, deixando uma boa parte do meu seio esquerdo a amostra.

A porta lateral se abriu subitamente, liberando um clarão que ofuscara meus olhos.

– Ei! Você!– gritou uma voz rouca masculina– Negra!

Cogitei olhar para a porta, mas minha tentativa de manter os olhos abertos foi frustrante.

– Vamos! Segura ela pelo outro braço– disse outra voz, mais calma.

De repente duas formas aproximaram-se de mim e agarraram meus braços fracos, retirando-me da minha posição fetal e empurrando-me com brutalidade.

– Ai, minhas costas!– resmunguei, sem forças.

Os dois riram.

– Reclame agora negrinha, porque daqui a pouco não terá nem forças para reclamar de dor nas costas– disse a voz rouca que agora eu identificara como um branquelo barbudo.

­ – Onde estão me levando?­– perguntei, mas ambos mantiveram-se em silêncio­– Tudo bem, daqui a pouco eu descubro, não é mesmo?

Estávamos indo em direção à senzala, descendo o morro da Casa Grande, mas eu não sabia exatamente qual era o ponto de destino. Os dois eram capatazes da fazenda, os reconheci da noite passada, eles faziam parte do grupo que me capturara.

Fechei os olhos, preocupada, as lembranças da captura estavam chegando aos poucos. Diego! Meu Deus! Onde ele estava?

Ouvi vozes quando nos aproximamos da senzala, que estranhamente estavam com um tom mais alto que o normal e algumas chorosas. Preocupei-me imediatamente.

– O que está acontecendo?­– perguntei para os capatazes.

Eles não precisaram responder, pois assim que cruzamos a plantação eu já pude enxergar as pessoas aglomeradas em torno do pelourinho e amarrado no tronco estava Diego.

Diego encontrava-se bastante suado e com um olhar cansado, seus braços fortes abraçavam o tronco e suas mãos estavam amarradas com uma corda grossa. Suas costas, voltadas para o feitor, que se posicionava de pé, erguendo um chicote. Dei um grito quando o objeto bateu nas costas de Diego, fazendo seu sangue escorrer pelo caminho de sua espinha dorsal.

Mais gritos ecoaram do pelourinho, mulheres caídas no chão e chorando. Vi Dante entre elas, gritando para o feitor alguma coisa inaudível. Debati-me contra as mãos que me agarravam, mas os capatazes aumentaram ainda mais a pressão com que me seguravam.

– Isso é um absurdo! Me solta desgraçado!– berrei.

– Cala a boca negra!

­– Olívia!– Dante correu na minha direção, abraçando-me sem se importar com meus supostos guardas– Pensei que estivesse morta! Ninguém me falou nada!

NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora