Capítulo 25: Declarações

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Sem revisão 

   Infelizmente não tive a oportunidade de ir à fazenda de Álvaro no dia seguinte, pois o Barão Macedo suspeitou das minhas intenções, sendo necessário o envio de cartas para confirmar que eu iria a trabalho, a pedidos de Álvaro. Por sorte, o Sr. Coimbra confirmou minha mentira, eu sabia que ele confirmaria.

Sai na madrugada do dia vinte e nove. O Barão Macedo exigiu minha volta no mesmo dia, pois ele precisava de ajuda para o Ano Novo, desta vez fui requisitada apenas por causa do número de visitantes que seria maior. Mas se meu plano de fuga desse certo, eu nunca mais voltaria a pisar naquele lugar.

Antes de sair, encontrei Dante trabalhando no chiqueiro, todo sujo de terra e suado. Encostei-me à cerca e joguei meu corpo para frente, para ficar perto dele.

— Madrugou hoje! — gritei para ser audível em meio grunhidos dos porcos.

— Oi, Olívia! O que te trás aqui? — ele tirou uma palha da boca e levantou a cabeça para me encarar— Tive que acordar cedo, o Ano Novo está chegando, preciso arrumar tudo até lá.

— Trabalho dobrado hein— exclamei— Vou à fazenda de Álvaro, ele vai se encontrar com o Inglês e exigiu minha presença como tradutora.

Eu sabia que ele ficaria chateado com a notícia, mas eu precisava vê-lo, aquela era minha despedida e aquilo me doía bastante.

— Olívia— ele respirou fundo— Por favor, não seja boba. Você sabe que ele estava te enganando, ele já tem um tradutor! O que tem na sua cabeça?

Dante levantou-se e foi até a cerca, limpando as mãos na calça para segurar minhas mãos.

— Eu sei— suspirei— Sei de tudo isso, mas eu preciso ir, depois eu te conto o motivo.

— Paixão boba, vai acabar com a sua vida— ele resmungou— Está achando que é Chica da Silva, é?

Aquilo me pegou de surpresa, lembrei-me vagamente da novela Xica da Silva, sucesso na minha época. A música de abertura preencheu meus ouvidos como se a televisão estivesse diante de mim. Algumas pessoas se questionam sobre a veracidade da novela, alguns achavam até que era um mito. O que eu menos esperava agora era escutar este nome.

— Chica da Silva?! — perguntei confusa, mesmo sabendo quem era.

— Sim! Não conhece?­— ele perguntou surpreso— Você às vezes me impressiona, Olívia, parece que nasceu em outro país. Chica da Silva nasceu há muitos anos, nem me lembro, mil setecentos e alguma coisa... Bem, não importa. Ela foi uma escrava que conseguiu a alforria e casou-se com o contratador João Fernandes, teve muitos filhos com ele, passou a frequentar a alta sociedade...

Olhei para o Sol, eu não tinha muito tempo.

— Não sou ela— afirmei, encerrando a história que eu já conhecia sobre Chica da Silva— Não vou me casar, não frequentarei a alta sociedade, acredite em mim. Eu realmente preciso ir agora.

— Sei que não gosta deste assunto— ele aproximou o rosto do meu— Mas você precisa saber que ele nunca irá te tratar como uma verdadeira mulher, como uma mulher branca.

— Isso soou um tanto horrível— balbuciei— Eu não suporto esse assunto, você tem razão. Vou embora antes que comece a falar bobagens.

— É pelo seu próprio bem. Você merece alguém que a trate bem...

— Que me trate como uma mulher branca? — ironizei. Eu sabia que estava sendo grossa, mas eu não conseguia ser diferente.

— Eu poderia tratá-la bem— ele segurou meu queixo com a ponta do dedo, olhando no fundo dos meus olhos.

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