Capítulo 8: Sem pudor algum

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Álvaro Coimbra estava montado em um elegante cavalo marrom, daqueles bem bonitos e bem tratados que encontramos nas hípicas.

– O que faz aqui?– perguntei, criticando-o.

– Estava avaliando a fazenda do meu amigo.

– Duvido muito!– quase gritei, tamanha era a minha indignação– Estava me procurando! Seu tarado!

– Não lhe devo explicações sobre nada negra abusada.

– Pois saia da minha frente, preciso me vestir.

Ele desceu do cavalo, segurou meu vestido que estava no galho com a ponta dos dedos e esticou a mão, me oferecendo. Eu ri alto e ironicamente.

– Era só o que me faltava. Está esperando que eu saia da água e fique nua na sua frente, é isso mesmo?

– Vocês são todos bichos do mato mesmo. Iguais aos índios, sem pudor algum.

Tudo bem. Se era isso que ele queria, pouco me importava, eu não iria ficar aqui muito tempo mesmo. Imaginei como se estivesse viajando e fizesse alguma besteira perto de muita gente, a primeira coisa que eu pensava era que nunca mais veria aquelas pessoas, então a vergonha não conseguia me atingir.

A raiva também me impedira de me importar com qualquer coisa. Fui em direção a borda, apoiei meus cotovelos e subi rapidamente. Puxei meu vestido de suas mãos e vesti sem sequer olhar no seu rosto. Em seguida, levanto meu queixo e o encaro com ferocidade.

Percebi que algo mudara em seu rosto, além do sorriso malicioso presente em seus lábios. Rapidamente sinto falta do bigode grosso, uma barba rala o substituíra.

– Não acredito! Você tirou o bigode só porque eu falei que estava horrível!

Comecei a rir histericamente, segurando a barriga para conter a dor, sem me importar mais com minha recente nudez.

– Nossa, ganhei meu dia– eu ri– Ficou com medo das pulgas, foi?

– Cala a boca– ele me encarou com raiva– Não foi por sua causa, todo ano eu tiro.

– Aham, sei disso. Escutou a negrinha aqui hein– provoquei.

Ele segurou meu braço esquerdo com força. Seu rosto adquirira uma tonalidade de vermelho por conta da raiva.

– Pare com isso! Você não tem direitos! Nunca presenciei tamanho atrevimento!

Ele segurou meu outro braço e me apertou com mais força. Eu gritei.

– ME SOLTA!

– Grita mais! Ninguém se importa! Ninguém está aí para um saco de lixo como você.

Encarei suas íris azuis e tive uma ideia no mesmo instante. Ele tinha razão, gritar não faria diferença, os gritos eram mais que frequentes nesse lugar horripilante.

– Me solte agora Sr. Coimbra. Se não o fizer, irei espalhar na fazenda toda que tivemos uma bela manhã de puro sexo nesse rio. Imagina só, você, uma pessoa tão importante tendo intimidades com uma negra.

Seu olhar ficou misterioso por um breve segundo.

– Está me ameaçando?

– Jamais!– brinquei– estou apenas lhe alertando sobre o meu dom de espalhar uma fofoca.

Ele afrouxou o aperto e se afastou. Eu sabia que muitos barões nessa época tinham relações com suas escravas, mas bastava olhar nos olhos do Sr. Coimbra para notar seu pavor de ser visto com uma, ele zelava a sua reputação, precisava dela para manter uma aparência de poder e suas boas relações.

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